7 de Abril - DIA DO JORNALISTA

Por um jornalismo que faz refletir
sábado, 07 de abril de 2018
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Leo Arturius)
(Foto: Leo Arturius)
Penso que o papel do jornalista, na sociedade do consumo, é interpretar e traduzir informações. Não cabe a ele apenas informar. Devido à saturação da informação, cabe ao jornalista interpretá-la, atribuindo-lhe sentido e precisão na produção de um bem intelectual que dê ao receptor a possibilidade de refletir e, também, de interpretar. É aí que reside a grandeza de um texto e só então pareceria correto atribuir ao jornalismo o papel de auxiliar na difusão do conhecimento” (jornalista Tiago Lobo, em artigo para o site Observatório da Imprensa).

O Dia do Jornalista foi instituído em 1931, por iniciativa da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), em homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, morto por inimigos políticos em 1830
Recomenda-se que este seja o exercício permanente do profissional de comunicação, como já fazia o primeiro jornalista Hipólito José, no Brasil, há mais de 200 anos. Mas não em tempos tão antigos, como os que remontam a Julio Cesar, o poderoso imperador romano, que produzia algo como um informativo sobre suas conquistas. Era um noticioso, o primeiro de que se tem “notícia”, mas não era jornalismo, tal como viemos a produzir séculos depois.

O primeiro jornal brasileiro, que, por sinal, não podia ser produzido aqui (por questões políticas), foi o Correio Braziliense, esse mesmo de nossos dias, ressuscitado juntamente com a inauguração de Brasília, em 21 de abril de 1960: o CB foi criado em 1º de junho de 1808 pelo jornalista português Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, crítico de D. João VI, em Londres. Parou de circular em 1º de dezembro de 1822, com a Independência do Brasil, um dos objetivos do jornal.  

Em 1931, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) instituiu o Dia do Jornalista, em homenagem ao médico e jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, que fazia oposição ao imperador dom Pedro I - assim como Hipólito, em relação a dom João VI - criador do Observatório Constitucional, jornal independente que focava em temas políticos até então censurados ou encobertos pelo monarca. Badaró era defensor da liberdade de imprensa e morreu em virtude de suas denúncias e de sua ideologia que contrariava os homens do poder. O assassinato do jornalista, entre outros fatores, levou à renúncia de dom Pedro em 7 de abril de 1831.

Desde então, a data homenageia os profissionais que apuram fatos, reportam acontecimentos para os leitores, sejam locais, regionais, nacionais, internacionais. Na rádio, televisão, nos jornais impressos, nas plataformas digitais, o jornalista trabalha respeitando a imparcialidade e fontes de informação confiáveis.

O papel social do jornalismo

Para o jornalista Tiago Lobo, o ato de informar consiste em transmitir dados técnicos sobre determinado fato. “Esses dados, tal qual o lead, não possibilitam percepção de atmosfera, conjuntura emocional e emissão das particularidades de um fato. A absorção da informação calcada na objetividade jornalística esfria as capacidades emocionais e afeta o entendimento do universo particular de uma ocorrência por parte do receptor”, avalia.

Para ele, ser objetivo não é ser pouco preciso, até porque, “é possível ser objetivo em um texto jornalístico e descrever um acontecimento com precisão e técnicas narrativas literárias que lhe componham as sutilezas que permeiam a história humana. Inclusive o lead, ou ‘guia’, possui imenso valor às narrativas não ficcionais, portanto este ensaio prega apenas uma mudança ótica e executiva”.

O jornalista questiona se responder a todas as perguntas na abertura de uma matéria é um desserviço ao leitor, como se ele não tivesse tempo para ler jornais. E se pergunta se tal afirmação é acertada. “Ou será que os textos jornalísticos (salvo o brilho de poucos mestres) são frios, imprecisos, burramente objetivos e o leitor já se acostumou com essa estética técnica e industrial? Ora, o jornalismo se nutre da vida e história humana, portanto sua narrativa não deveria desumanizar as personagens das suas tramas de não ficção. O excesso da objetividade aborta a humanidade de um texto”, ressalta.

Ele reitera que, sendo o ser humano, a vida humana, a matéria prima do jornalismo e de toda narrativa, cabe ao jornalista o papel de extrema relevância de atentar-se para a humanização do seu trabalho. “O escritor de reportagens não possui mais ou menos valor do que o literato, mas seu trabalho incide imediatamente sobre a sociedade, atingindo uma maior parcela da população com seus textos do que a maioria dos escritores de livros.

Se o jornalista escreve para seu leitor é por ele, e para ele, que deve se pautar. A intimidade e círculo de confiança gerado pelos jornais de pequenas esferas de abrangência, como jornais e cadernos de bairro, atendem de forma muito mais crucial aos interesses coletivos do que a generalização de abraçar o mundo dos grandes veículos. A estes últimos caberia o papel não de formadores de opinião, mas de proponentes da reflexão”.

Sobre Líbero Badaró

No dia 21 de novembro de 1830, um assassinato traiçoeiro desestabilizou ainda mais o frágil governo do imperador D. Pedro I. Em São Paulo, morria, vítima de um atentado, Giovanni Battista Libero Badaró, jornalista, político e médico, nascido na Itália, em 1798, radicado no Brasil desde 1826.  

Em solo brasileiro, tornou-se um liberal e viveu na cidade de São Paulo, onde atuava como médico e dava aulas gratuitas de matemática. Fundou o jornal O Observador Constitucional, em 1829, o que não era bem visto pelos absolutistas. Em São Paulo, alguns estudantes do Curso Jurídico fizeram uma campanha contra o governo monárquico. Os manifestantes tornaram-se criminosos para o ouvidor Cândido Ladislau Japiaçu e foram processados.

O Observador Constitucional fez campanha em favor dos acusados e atacou Japiaçu. Desafeto de Japiaçu, Libero Badaró sofreu um atentado no dia 20 de novembro, às 22h, quando voltava para a sua casa na Rua São José (hoje Rua Líbero Badaró). Segundo relatos de testemunhas, suas últimas palavras antes de morrer foram "morre um liberal, mas não morre a liberdade". Sua frase virou símbolo da liberdade de imprensa. Sua morte ganhou grande repercussão, com milhares de pessoas no seu enterro e mais de 800 tochas acesas.

O principal responsável pelo assassinato, um alemão chamado Stock, se escondeu na casa de Japiaçu, mas foi preso. E Japiaçu, apesar de processado, acabou absolvido. Segundo historiadores, a ordem para matar Badaró teria partido de dom Pedro I. O fato complicou ainda mais a situação política do imperador, criticado por sua postura autoritária. No ano seguinte, em 7 de abril de 1831, o imperador abdicou do trono e voltou para Portugal, deixando a coroa para o filho, dom Pedro II, de apenas 14 anos.

Os custos de produção dos primeiros jornais eram altos, e a tiragem era de poucos exemplares, já que a maior parte da população brasileira era analfabeta. O conteúdo dos semanários tinha um caráter predominantemente opinativo, e a imprensa brasileira só se desenvolveu e se tornou popular com a abolição da escravatura, com os avanços na educação básica, barateamento dos custos de produção e possibilidade de inserção de imagens nos semanários, que depois se tornaram periódicos.

 

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