Retrocessos e Avanços, conjecturas…

Quarta-feira, 20, Dia Nacional da Consciência Negra
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
por José Tadeu Costa
(Foto: Arquivo pessoal)
(Foto: Arquivo pessoal)
Quarta-feira, 20, Dia Nacional da Consciência Negra. Como membro do Centro Cultural Afro Brasileiro Ysun Okê de Nova Friburgo e dos Povos Formadores que integram o conjunto de países da Praça da Côlonia, participei dos eventos — com a consciência plena de que somos oriundos de um continente composto de 54 países e de que nossos ancestrais aqui chegaram como escravos e não como colonos. A eles nada foi dado, nem um quinhão de nada. Pelo contrário, trabalho 6x6, famílias ceifadas, alimentação escassa e ruim, uso criminoso de suas mulheres etc. Coube a mim fazer o discurso do 20 de Novembro.

É preciso algum tipo de movimento educacional, em esferas menores, para se discutir maneiras de passar o ensino de História e Cultura Afro Brasileira para os nossos alunos
Comecei lembrando da Frente Negra Brasileira, no início dos anos 1930, passei para o Teatro Experimental do Negro, com Abdias Nascimento e sua trupe. E aí já pontuo avanços que ocorreram “no peito” em função da contextualização do momento. Vida social e cultural por conta própria, arte por conta própria. Ou se fazia assim, ou não se fazia. Como os negros e negras fizeram nos Estados Unidos.

Lembrei dos anos 60, 70 e início dos anos 80, quando as religiões de matizes  africanas e afro brasileiras, nas escolas, eram definidas como folclore, como se elas não tivessem seus rituais, cultos, liturgias. Era folclore e pronto. E ficávamos a pensar em Saci Pererê, Mula sem Cabeça, Lobisomen. Retrocesso, que ainda bem, já ficou para trás.

Nos 21 anos de ditadura, ficamos, também, no ostracismo. Na própria luta contra a opressão, homens e mulheres negras tiveram pouco ou nenhum protagonismo, talvez a luta ideológica tenha sido mais contundente do que a nossa vasta lista de necessidades e reivindicações naquele momento. O avanço veio com a abertura política, onde, inicialmente, PDT e PT — lembrando que alguns partidos ainda permaneciam na ilegalidade —, abriram espaço para que os movimentos negros ocupassem espaços oficiais em sua fileiras.

Cem anos da Abolição da Escravatura: “bola super fora”. Documento de uma linha e meia, para 350 anos de atrocidades incontáveis. Retrocesso com muita coisa ainda a ser corrigida. Em 1988, festa pelo Brasil afora, Nova Friburgo recebe o Olodum e muitas outras atrações, Nélio dos Santos é o nosso grande líder. Ocupação de espaço nos orgãos, entidades e autarquias: avanço.

A Constituição Cidadã, no mesmo ano, declara que racismo é crime: outro avanço. No universo artístico, Cartola, D. Yvonne Lara, Jovelina Pérola Negra, Clementina de Jesus, Bezerra da Silva, Candeia, produzem grandes trabalhos, para só ganharem visibilidade depois dos 60 anos de idade. “...Volto ao jardim na certeza que devo chorar…”: triste retrocesso.

Mas o funk, street dance, hip hop, breakdance, vingam a velha guarda. Entram sem bater na porta. Às vezes, extrapolando devido a tanta indiferença e isolamento, e vão pelo mundo afora. E nem a elite brasileira resiste ao balanço e charme desses estilos. Avanço do tipo: “Pois bem, cheguei. Quero ficar bem à vontade. Na verdade, eu sou assim”.

Lei 14.579, 2023, Dia Nacional da Consciência Negra. Feriado Nacional: finalmente, o reconhecimento.

Voltando um pouco mais no tempo: Lei 12.519, 10/11/2011, oficializa o 20 de Novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. Já foi um bom avanço. 

Voltando ainda mais um pouquinho para trás: Lei 10.639, aplicação do ensino de História e Cultura Afro Brasileira nas escolas, de Fundamental I e II, e Ensino Médio. Esse “calcanhar” dói demais: 21 anos de uma lei que não consegue emplacar, colar. Até hoje se espera do MEC um norte, uma trajetória mínima para que os professores de Arte, Língua Portuguesa e História possam traçar seus planejamentos e entenderem como vão aplicar esse “braço” de disciplina nos três segmentos. 

Mas enquanto esse sonho não se realiza, é preciso algum tipo de movimento educacional em esferas menores, para se discutir maneiras de passar o ensino de História e Cultura Afro Brasileira para os nossos alunos. 

Esse “não saber” tem duas vertentes: encontrar um caminho de como fazer ou cair na acomodação. A primeira opção me parece que vai na linha do Educar!

 

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