Um olhar para o futuro - Parte 1: veículos elétricos

sábado, 26 de agosto de 2017

A escolha do tema em nosso encontro mais recente não foi gratuita. Falar sobre motores dois tempos, relembrando um projeto caído em desuso, típico do passado, foi a senha para que pudéssemos voltar nosso olhar para o futuro, e aquilo que já podemos antecipar dele com certa segurança. E não são poucas coisas não.

Já é possível afirmar, por exemplo, que o automóvel enquanto bem de consumo, movido a combustível e guiado por motorista está com seus dias contados. Na Grã-Bretanha, a venda de veículos novos movidos a gasolina ou óleo diesel será proibida a partir de 2040, e a meta governamental é que nenhum motor a explosão esteja em uso até 2050. França e Alemanha estão seguindo o mesmo caminho, e o governo indiano já disse que gostaria de despejar apenas carros elétricos ou movidos a hidrogênio nas ruas a partir de 2030. Na Noruega, onde 40% dos carros vendidos já são elétricos, o prazo é ainda mais curto: 2025. As prefeituras de Paris, Cidade do México, Madri e Atenas trabalham com o mesmo deadline para banir os carros movidos a diesel. Além disso, existem ao menos outros dez países que já estabeleceram cotas de mercado para veículos elétricos nos próximos anos, Portugal entre eles.

Outro sinal inequívoco da irreversibilidade deste processo nos é dado pelo automobilismo de competição, sempre uma bússola segura a indicar os rumos a serem adotados pela indústria. A recente notícia de que a BMW irá deixar o tradicionalíssimo Campeonato de Turismo Alemão (DTM) para se dedicar à Fórmula E (disputada com carros elétricos) apenas confirma o quanto as montadoras estão interessadas em desenvolver este tipo de tecnologia, pelo bem da própria sobrevivência corporativa.

De fato, a transição rumo a uma frota movida por energias consideradas limpas já está em andamento, e a principal razão por trás desta mudança é ambiental. A intenção é recuperar a qualidade do ar, reduzir a poluição e seus efeitos sobre o clima e a saúde coletiva. Os impactos da mudança, contudo, vão muito além destas esferas.

No Brasil, onde o baixo poder aquisitivo reduz a taxa de renovação da frota, e onde a venda de veículos de passeio movidos a diesel se resume a picapes e alguns modelos SUV, é seguro afirmar que o processo não terá a mesma celeridade. Ainda assim, a partir do momento em que os principais mercados mundiais tiverem abandonado o motor a explosão, não restarão muitas opções.

A substituição do petróleo como matriz energética para o transporte vai mudar o mundo como o conhecemos. A economia do Rio de Janeiro, bem como a de vários países no mundo, será drasticamente afetada. Diversos empreendimentos e empregos terão de se adaptar, e muitos serão extintos. Outros, naturalmente, irão surgir.

Em termos ambientais, contudo, a aposta certamente renderá bons frutos, com benefícios à saúde pública, ao meio ambiente, e indiretamente também à economia. Também haverá diferenças no que se refere a desempenho e autonomia dos veículos, mas estes são temas para colunas no futuro.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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