A evolução dos radares

sábado, 25 de novembro de 2017

Quem costuma dirigir pelo Rio de Janeiro provavelmente já presenciou a cena. Em vias com velocidade controlada por radar, como a Linha Vermelha, diversos veículos circulam acima da máxima permitida apenas para, de forma quase sincronizada, frearem juntos a cada ponto de fiscalização, e em seguida voltarem a acelerar.

Cá entre nós, é uma situação patética. Uma espécie de “finge que fiscaliza que eu finjo que cumpro as regras”, no qual a hipocrisia do fingimento custa o desgaste de várias peças e o desperdício de combustível, sem alcançar o objetivo da segurança. No máximo, resta o que convencionou-se chamar de “indústria de multas”, como espécie de “punição aos menos espertos”. Encaremos os fatos: não está funcionando.

Esse quadro, no entanto, parece estar em vias de ser alterado. E o mais curioso é que tenha levado tanto tempo para que a solução óbvia fosse finalmente posta em prática.

Para explicar o que está por vir, convido o leitor a uma breve reflexão teórica. Nos acostumamos ao longo dos anos a falar sobre velocidade instantânea, como se de fato pudéssemos obter essa informação “em tempo real” quando falamos de um veículo que esteja acelerando ou freando. Por vezes quase nos esquecemos que estamos tratando de uma razão da variação de espaço/variação de tempo, na qual – como em toda fração – o denominador não pode ser igual a zero. Ou seja: falar em velocidade instantânea, a menos que esta seja constante, é algo que demanda um cálculo diferencial, onde se trabalha com limite tendendo a zero. Até hoje, é o mais perto que podemos chegar de uma resposta.

Na prática, o que temos são medições recorrentes colhidas a partir de pontos de referência bastante próximos, que nos fornecem a velocidade média nesses trechos. A linha de variação nesses dados irá nos indicar se existe aceleração, bem como seu valor e seu sentido. E daí vem a pergunta inevitável: ora, se os radares medem a velocidade média em espaços muito curtos para determinar se, naquele trecho específico, um motorista esteve acima da velocidade permitida, porque não ampliar a distância entre os pontos de referência para, por exemplo, a distância que atualmente separa um radar do outro? Para isso basta que o veículo seja identificado no primeiro ponto de referência, e novamente identificado no segundo, que pode estar centenas de metros à frente.

A lógica é simples: torna-se desnecessário saber se o automóvel estava acima da velocidade nesses pontos, quando podemos verificar se a velocidade média ao longo de todo o período não superou o limite determinado, simplesmente ao confrontar o tempo que o motorista levou para chegar de um ponto ao outro. Se ele chegar rápido demais, então o limite de velocidade terá sido desrespeitado.

O grande mérito deste sistema é que ele efetivamente elimina qualquer vantagem que o motorista possa ter ao correr. Afinal, de que adianta acelerar além do limite, se logo à frente será necessário compensar essa sobra andando abaixo da velocidade permitida? Ou, noutras palavras: para que correr se, no fim, não se pode chegar mais rápido?

Sistemas como este já estão sendo testados em algumas capitais, e logo devem se espalhar pelo Brasil. Cabe esperar apenas que as velocidades máximas permitidas sejam estipuladas com bom senso, a partir de critérios técnicos e não da busca por multas.

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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