Convergência e divergência

sábado, 20 de janeiro de 2018

Começamos a ver, em nosso encontro mais recente, que fazer com que um automóvel circule de maneira suave quando equilibrado sobre quatro rodas demanda muito mais ciência do que pode parecer a olhos leigos. Especialmente em curvas, quando o ângulo e a velocidade de rotação são diferentes para cada lado, mas não apenas nelas. Tendo visto superficialmente os conceitos de alinhamento e balanceamento, é hora de conhecermos um termo que, para o motorista ocasional, só se tornarão relevantes em caso de algum problema. Refiro-me às noções de convergência e divergência.

Em termos mais técnicos, poderíamos definir convergência e divergência (Toe In/Toe Out em inglês) como o ângulo formado entre a linha longitudinal do veículo e a linha média dos pneus, quando vistos de cima. Numa linguagem mais coloquial, todavia, poderíamos dizer que num carro com convergência as rodas apontam para o centro, umas voltadas para as outras, como os olhos de alguém que olhe para um dedo pouco à frente do nariz. Já na divergência acontece o oposto, e as rodas apontam para fora.

A essa altura o leitor pode perguntar: mas ora, a lógica não diz que as rodas devem estar sempre paralelas, apontando perfeitamente para a frente? Ao que respondo: pois é, nada é tão simples quanto parece.

De modo geral, o valor do ângulo de convergência depende da tração que o veículo possui, pois as forças dinâmicas que atuam nas rodas tracionadas são diferentes das rodas mortas. Rodas de tração forçam os braços da suspensão para frente quando imprimem torque, e para trás quando são brecadas; já as rodas mortas (sem tração) funcionam como se estivessem levemente brecadas graças à resistência dos rolamentos. Ou seja, suas forças sempre apontam para trás.

Desta forma, o ângulo de convergência deve ser ajustado com vistas a compensar a ação dessas forças e manter as rodas em posição nula em condições de uso, obtendo o máximo de contato do pneu com o solo, e assim reduzindo o arraste dos pneus com o solo, o desgaste da borracha e o esforço dos componentes da suspensão.

Na prática, isso significa dizer que em veículos de tração traseira as rodas de trás devem ser divergentes e as dianteiras convergentes. Já nos carros de tração dianteira as rodas traseiras serão convergentes e as dianteiras divergentes. Tal diferença se deve à tendência das rodas dianteiras convergirem (se fecharem) quando estão em marcha, enquanto as traseiras divergem. Também observa-se que em veículos cuja barra de direção está a frente da coluna, a tendência é de convergência quando o veículo traciona, ao passo que situação oposta resulta em divergência.

A convergência também exerce influência sobre a estabilidade direcional, o comportamento em curvas, e o desgaste dos pneus. Em essência, um ajuste de alinhamento convergente torna o veículo mais estável em linha reta, pois a roda do lado para onde o veículo foi direcionado ficará reta e somente depois inicia o direcionamento do veículo, assim o movimento é mais lento e permite absorver irregularidades ou pequenos movimentos sem tirar o veículo da trajetória. O ajuste divergente, por sua vez, proporciona maior agilidade para entrar em curvas, justamente porque a roda do lado interno já está apontada para a curva, e por isso a resposta ao movimento do volante é mais rápida.

Quando há algo errado?

Descobrir se o ângulo está incorreto não é fácil, mas se os pneus “cantam” com facilidade e apresentam desgaste excessivo no lado interno da banda de rodagem, possivelmente as rodas estão convergentes em excesso. Já se o desgaste excessivo for no lado externo, a chance maior é de que haja um grau excessivo de divergência.

Tenham todos uma ótima semana, e até nosso próximo encontro!

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Márcio Madeira da Cunha

Sobre Rodas

O versátil jornalista Márcio Madeira, especialista em automobilismo, assina a coluna semanal com as melhores dicas e insights do mundo sobre as rodas

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