Viver o Quebrantamento

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Quebrantamento pode ser definido como o que passamos a sentir ao viver uma perda, um sofrimento, uma aceitação difícil da realidade. Passar pelo quebrantamento faz parte do processo de cura. E pode doer muito.

Fatores diferentes na vida nos fazem sofrer emocionalmente. Perda de alguém que você amava, perda do amor idealizado, perda do sentido para a vida quando você a colocava no material e vê que ele não preencheu tudo, perda porque você pode ter se anulado na vida, tendo perdido, muito ou pouco, da sua personalidade na busca de agradar as pessoas, perda porque abusou do álcool e/ou outras drogas, etc.

Algumas pessoas ao sofrer tentam suprimir a dor e tudo o que está envolvido com ela. Suprimir significa que você sabe o que tem, sabe o que perdeu, sabe que dói, mas evita pensar nisto e evita lidar com a dor, conscientemente. Outras podem reprimir a dor, o que significa que aquilo que incomoda é jogado para o inconsciente e você não tem mais acesso ao mesmo quando deseja, mas quando pode, quando está pronto.

Se você reprimiu a dor de um sofrimento ocorrido bem lá atrás em sua vida, ou não muito tempo atrás, ele pode permanecer às vezes anos no espaço virtual da mente chamado de inconsciente, e vai tentar sair em alguns momentos na sua vida, seja através do físico, com reações psicossomáticas, seja através de distúrbios do comportamento, como agressividade “imotivada”, desânimo, controle das pessoas, tristeza sem motivo aparente, aumento do consumo do álcool, entre outras coisas.

É possível você se isolar dentro de si mesmo, perder uma parte de si mesmo para manter-se na realidade com o que pode ou “sobra”. Às vezes reduzimos, inconscientemente, o que somos para conseguir viver na realidade, porque, até este momento da vida, não sabemos, ainda, como ser mais pleno. É aí quando muitos de nós se tornam submissos mais do que deveria, agem com menos proatividade, funcionam de maneira mais passiva. Isto funciona como proteção do eu, do ser, da pessoa, porque este indivíduo ainda não sabe como funcionar com mais atividade, com mais espontaneidade e talvez com mais liberdade mental. Ocorre um encolhimento do eu, da pessoa, no sentido psicológico.

Passar por um quebrantamento ou processo de cura dói porque, para conseguir a cura, precisamos tomar consciência de certas dores que havíamos enterrado muito bem e talvez por longo tempo em nossa mente, para não sofrer. Mas para não sofrer demais, é preciso aprender a lidar com o sofrimento, e não evitá-lo. Quando você vai percebendo que havia partes encolhidas do seu ser que agora se tornam conscientes, isso pode doer. Mas será uma dor do crescimento e não mais do encolhimento.

É importante enfrentar esta dor, crendo que as condições para sobreviver psiquicamente estará surgindo ao mesmo tempo se você quer cura e faz sua parte. O quebrantamento dói porque vamos compreendendo que estamos sós no sentido de que ninguém poderá viver nossa dor. Somos nós mesmos. Mas pode melhorar quando recebemos ajuda de uma pessoa compreensiva e que nos pode dar um “colo” no sentido de ter empatia para com nossa dor, quando podemos desabafar, chorar, e quando esta percepção da solidão deixa, aos poucos, de nos apavorar.

Precisamos de conexões afetivas com algumas pessoas, com quem podemos abrir nosso coração e, quem sabe, ouvir algumas palavras reconfortantes, receber algum abraço sem conotações sensuais, que também produz conforto. E precisamos de uma fé, uma confiança num Ser Superior que prefiro chamar de Deus o Criador, que nos assiste na dor e nos conduz a momentos de refrigério. Não tenha medo do quebrantamento. Ele é uma boa chance de crescimento pessoal.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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