Não machuque as pessoas, você, e a natureza

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Coloque limites para não deixar que lhe machuquem com palavras abusivas, destrutivas, atitudes violentas, mentira, querer tirar vantagens sobre você. Não permita isso. Deixar que lhe machuquem não é ser gentil, nem compassivo, nem cristão. Várias vezes Jesus, não deu a segunda face, mas repreendeu duro, com firmeza, amor e verdade.

Muitas crianças aprenderam desde pequenas que podiam abusar delas, que o que ocorria era normal. Pensavam que deviam ficar caladas e sofrer os abusos geralmente infringidos por pais alcoolizados e mães nervosas. Tais crianças aprenderam tão errado a sofrer abusos de vários tipos que um lado da mente delas permanece na vida adulta a sussurrar: “Eu tenho o que mereço!”,  “Eu tenho mais é que sofrer calada!”, “A culpa é minha!”. Estes são conceitos errados, falsas crenças, que podem perdurar anos à fio, talvez a vida inteira na mente dos que foram vítimas de abusos na infância, atingindo sua auto-estima, seu senso de valor pessoal, suas relações sociais, sua saúde mental e escolhas que faz na vida.

É incrível como podemos escolher relacionamentos destrutivos para nós, no trabalho, na família, na vida romântica... Um dos exemplos disto é o de uma mulher que foi casada com um alcoólico que sempre rejeitou tratamento e negava ter problemas com bebidas alcoólicas, ela se separa dele, e tempos depois se casa com outro alcoólico.

A boa notícia é que podemos aprender a desfazer o que foi feito de errado em nossas mentes. Podemos aprender a nos amar, a nos respeitar, a fazer melhores escolhas para nossa vida e nossas relações. Podemos aprender a dar presentes para nós mesmos também e não só para os outros. Quanto tempo faz que você não compra uma coisa de boa qualidade para si mesmo?

Não machuque as pessoas. Deixe o motorista nervoso, impaciente passar. Brinque com a caixa do supermercado para alegrar um pouco a tarefa dela e deixar um sorriso. Agradeça ao varredor da rua por estar “dando um capricho” na cidade. Ser bom não é ser bobo, é deixar sair a ternura. Endurecemos para nos proteger. Mas podemos sorrir com compaixão, sem ironia, e ter ternura, que é coisa de macho também. Aliás, é preciso ter segurança de sua macheza para deixar sair a ternura do coração. Che Guevara disse que temos que endurecer sem jamais perder a ternura.

Pema Chödrön escreveu: “A armadura que construímos em torno de nosso coração causa muita infelicidade.” (“Comece onde você está”, Editora Sextante, p.29, 2003). Mas fazemos isso para nos proteger de dores que achamos que não vamos aguentar, até que conseguimos enfrentá-las. Daí damos um passo para ser o que somos por fora, o que já somos por dentro. Isso leva tempo. Tem que ser um dia de cada vez. Com consciência e perguntando a nós mesmos toda hora: É isso o que quero dizer? É isso o que devo dizer? É isso o melhor a fazer? Desejo mesmo isso? Não é melhor ficar calado?

Em seguida procure respostas verdadeiras para tais questões. Você tem que ser você. Não seu pai. Não sua mãe ou seu irmão. Não seu chefe. Não o “santo” da sua igreja. Mas você.

Para nos tornar o que somos de verdade precisamos de um poder superior para mudar aquilo que sozinho não conseguimos. Chamo este poder superior de Deus, o criador. Precisamos também de boa vontade, que é diferente de força de vontade, para cuidar de nós. Devemos ler algo útil, assistir a uma palestra ou um vídeo educativo. Ao conseguir isso, a vida vai ficando um pouco mais leve, a dor inevitável fica mais aceitável, e alguns sofrimentos podem desaparecer.

Não machuque a natureza, nossa casa maravilhosa! Jogue o lixo no lixo. Plante árvores. Não polua o ambiente. Não produz barulho. Contribua com a agricultura natural. Não machuque você, nem as pessoas e nem a natureza.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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