Desapego: soltar para viver

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Nós seres humanos somos gregários, ou seja, sentimos necessidade de nos apegar aos outros. O vínculo da mãe com o bebê é, por exemplo, muito importante para o bom desenvolvimento da criança, envolvendo a qualidade do crescimento e função cerebral. Porém, pode ocorrer um apego exagerado de um indivíduo com outra pessoa, e também com coisas, como dinheiro, imóveis ou trabalho. Quando o apego é excessivo, isto pode prejudicar a saúde mental da pessoa, porque ela pode desenvolver uma crença de que só conseguirá viver, trabalhar e ser feliz, se tiver alguém ou algo a se apegar firmemente.

Isto é verdade, tanto que para algumas pessoas a morte de um ente querido pode ser devastador de tal modo que a pessoa que se apegou demais a quem morreu pode desenvolver depressão, declínio profissional e estudantil, se tornar dependente do álcool ou de medicamentos psiquiátricos.

É importante para nossa saúde mental aprendermos a desapegar. Isto não significa se tornar indiferente nos relacionamentos familiares e sociais. Também não é se tornar egoísta. “Desapego significa saber amar, apreciar e se envolver nos relacionamentos com uma visão mais equilibrada e saudável, libertando-se dos excessos que o prendem.” (extraído de https://amenteemaravilhosa.com.br/as-4-leis-do-desapego-liberacao-emocional/)

Muitos correm atrás de um cônjuge ideal, e está embutido nesta busca a crença de que alguém fará você feliz, que seu bem estar depende de outra pessoa e que existe alguém que suprirá todas as suas necessidades. O desapego nos ajuda a caminhar no sentido da libertação desta prisão afetiva. Não há ninguém que consiga suprir tudo o que desejamos de carinho, compreensão, afeto. Temos limitações em ser tudo para o outro. Não somos deuses. Alguma coisa vai faltar mesmo nos relacionamentos nos quais existe amor.

Desapegar se relaciona com não permitir que seu conforto e equilíbrio mental dependa de um ser humano fora de si. Desapegar saudavelmente é lutar para ser responsável por sua saúde física, mental e espiritual. É deixar o passado para trás. Claro, lembrando dos erros para evitar repeti-los, mas perdoando a si pelas falhas cometidas lá atrás, e perdoando os outros pelos equívocos deles para com você.

Vale relembrar que nesta vida nada é permanente. Nada dura para sempre. As pessoas morrem, nossos filhos crescem, amigos se mudam para longe, o dinheiro acaba. Isto é o normal nesta existência problemática e temporária, a qual podemos aprender a encarar e aceitar mesmo que não concordando. Você pode se apegar ao dinheiro de tal modo que se torna avarento e escravo dele. Ou pode até se apegar à sua doença quem sabe como uma maneira de obter atenção. Outros se apegam à sua falta de beleza, ou à pobreza e se depreciam por isto, se colocam como inferiores.

Procure praticar o desapego. Solte as pessoas. Viva e deixe viver. Deixe que elas sejam como podem ser com você, sem se irritar com elas porque não se tornaram como você queria. Aquilo que você está sentindo agora e que é bom, passará. Mas o que é ruim, também passará. Algumas coisas boas e ruins chegarão em sua vida, mas irão embora.

Pergunte a si mesmo: Estou apegado a que? Será apego a uma pessoa do presente ou do passado? Será ao dinheiro e a outros bens materiais? Estou apegado a uma crença sobre o conceito de felicidade que pode ser materialista? Podemos ter apegos variados que nos travam, nos prendem. Daí a necessidade do desapego. Sua vida pode ser boa sem apegos obsessivos, e até passar a ser melhor sem eles.

Não se espante se surgir uma sensação de vazio, insegurança ou falta de sentido ao você caminhar na direção do desapego. Às vezes precisamos esvaziar para encher, desaprender para aprender de uma maneira melhor, no mínimo, mais compassiva para com os outros, mas especialmente para com você mesmo.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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