Corpo perfeito?

quinta-feira, 13 de junho de 2019

Homens e mulheres podem ter uma fissura: a busca pelo corpo perfeito. Cuidar da higiene pessoal, do asseio, da estética é normal, desejável e importante para a saúde física e mental. Mas isto é diferente de obsessão pelo corpo perfeito.

Cuidar do corpo físico mediante exercícios físicos e cuidados estéticos é importante para a saúde física e mental. Ajuda a autoestima, favorece a circulação sanguínea, melhora as comunicações dos hormônios cerebrais, a respiração, e outras funções corporais. Você deve cuidar do seu físico, tanto do ponto de vista da prática de exercícios físicos, quanto cuidar da aparência.

Mas o cuidado deve existir num sentido de você não centralizar demais as atenções no seu físico, se esquecendo das demais dimensões da vida, da pessoa, do ser. Afinal, você é um somatório de físico, mente e espiritualidade. Todo desenvolvimento para ser saudável é preciso ter equilíbrio e envolver todas estas dimensões de nosso ser.

Muitas pessoas cultivam uma preocupação com o corpo físico em demasia porque, por alguma razão, aprenderam que para se sentirem amadas e desejadas devem manter uma estética impecável. Daí se submetem ao longo dos anos a dietas e mais dietas, academias de ginástica, cirurgias plásticas, e outros procedimentos que visam o cuidado estético do corpo. Algumas destas pessoas podem ter algum grau de sofrimento emocional que tentam resolver através do aspecto exterior do corpo. Para estas, a beleza física se torna sinônimo de auto-aceitação e busca de aprovação dos outros.

Estas pessoas precisam ser ajudadas a entender que o valor de uma pessoa está no conjunto, não na parte, e mesmo assim, se o físico apresenta lesões ou deformações, seu valor como indivíduo precisa estar baseado nos valores éticos, emocionais, na capacidade para amar, na boa conduta moral, na interação social útil, e nos valores espirituais.

Para alguns isto pode ser muito difícil porque, como disse, pode ter sido construído um vínculo na mente da pessoa entre o fato de se sentir alguém de valor e seu estado estético físico, sua aparência exterior.

A história registra casos de pessoas bonitas esteticamente, mas que se suicidaram porque no seu emocional, no interior de si mesmas se sentiam desvalorizadas, vazias, sem sentido para viver. Por quê? Porque depois do corpo tem que ter algo mais, algo de valor, algo que dê sentido a existência. Quando falo “depois do corpo” me refiro aos anos em que a pessoa decai fisicamente por causa do processo normal de envelhecimento. São os anos em que inevitavelmente o físico não pode ser mais mantido na mesma estética da juventude.

O que você irá fazer ou está fazendo para não sucumbir numa depressão ou num desespero quando seu corpo se modifica e passa a não exibir a mesma beleza externa do passado? A saída é cultivar uma melhoria das capacidades emocionais e espirituais. O que é isso? Isto significa aprender a gostar de si próprio como pessoa humana e não como beleza física como fim em si. Aprender a amar as pessoas, a se dar para ajudá-las, se envolver em projetos de ajuda humana gratuita, melhorar as relações afetivas familiares.

Também significa desenvolver sua espiritualidade, cultivar uma fé, um sentido para a vida que seja maior que a busca material e o apego às pessoas. Como se consegue isso?

Primeiro é querer de coração ser alguém de valor, que deixe algo digno para a sociedade ao morrer, e que agora mesmo tenha atitudes, pequenas e simples, que ajudam a aliviar o sofrimento das pessoas. Segundo, é lutando para não mais focar sua felicidade e bem estar na questão da estética corporal, o que não significa que você irá se desleixar com seu corpo. Terceiro, é verificar consigo mesmo o que precisa ser melhorado nos seus relacionamentos afetivos, com você mesmo, com a família, parentes, amigos, colegas de trabalho, nessa ordem. Em quarto lugar, prossiga na busca espiritual de luz, da verdade, justiça, misericórdia, do amor altruístico.

TAGS:
César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.