Clamor por justiça

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Num vídeo que seria cômico, se não fosse trágico, um ladrão estaciona a moto, talvez furtada, assalta uma loja e ao voltar para a rua fica atônito. Olha para um lado, para outro e descobre que sua moto foi furtada. E, pasmem, reclama da violência naquele local. No profundo da mente humana há clamor por justiça. Por onde lançamos nosso olhar, de forma globalizada, vemos injustiça. Vivemos sob várias formas de injustiça. Radares de multa clandestinos com única finalidade de arrecadar dinheiro, desvio de verbas que aplicadas devidamente aliviariam o fardo da vida da população pobre, conflito de interesses em julgamentos de tribunais etc. O que motiva homens e mulheres em posição de poder na sociedade a praticar injustiças que prejudicam seus semelhantes?

Asafe, um levita e músico profissional nos tempos do Rei Davi, compôs, entre outros, o Salmo 73 que está na Bíblia. Ali ele expressa indignação contra injustiças da época dizendo: “Faltou pouco para que se desviassem os meus passos, pois eu tinha inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios... [que] não são afligidos como outros homens... a soberba os cerca como um colar. Vestem-se de violência como de um adorno... são corrompidos e tratam maliciosamente de opressão, falam arrogantemente... são ímpios, e, todavia, estão sempre em segurança, e se lhes aumentam as riquezas. ... Quando pensava em compreender isto, fiquei sobremodo perturbado.” Igual hoje, não é?

Desabafando sobre injustiça, de repente a mente de Asafe é iluminada. Quando tentou entender toda aquela injustiça e corrupção na sociedade, achou muito difícil e ficou aflito, até que “entrei no santuário de Deus, e então compreendi o destino dos ímpios.” (Salmo 73:16,17). Ele lembrou que haverá um julgamento onde corruptos serão punidos.

O que fazer até lá convivendo num mar de injustiça que nos oprime? Empresários da pornografia ganham fortunas cooperando com o naufrágio de famílias e pessoas; traficantes de drogas destroem vidas diariamente; terroristas cruelmente assassinam crianças, idosos; chefes do crime organizado são poderosos e bem conectados com tribunais, dificultando a ação penal por comprarem sentenças, laudos, pareceres.

Nos Estados Unidos tribunais cometem injustiças como a de um homem que mata um inocente negro de 17 anos de idade e segue livre administrando seus negócios. Uma mulher negra na Flórida disparou uma arma como advertência na parede para assustar o marido abusador, sem ferir ninguém, foi condenada a 20 anos de prisão. Alguém disse que do bumbum do bebê, da bolsa de mulher e da cabeça de um juiz de direito pode sair qualquer coisa.

Em missão para a ONU, a Organização das Nações Unidas, no cruel genocídio em Ruanda, África, o general aposentado Romeo D’Allaire, do exército canadense, em vão pediu aos superiores, alimento, remédio, dinheiro e três mil soldados para fazer justiça aos necessitados. Tragicamente a ONU nunca respondeu. Diante do pesadelo catastrófico e particular impotência para a aplicação de justiça, D’Allaire se desequilibrou mentalmente e precisou tratamento psiquiátrico. Em fevereiro de 2001 em entrevista na rede ABC de televisão, confessou que esteve a ponto de cometer suicídio.

Estudo recente feito na Universidade de Caen, na França, mostrou que camundongos usando milho transgênico sofrem uma mortalidade duas ou três vezes maior entre as fêmeas tratadas com produtos geneticamente modificados. Nos dois sexos, há entre duas e três vezes mais tumores. Este estudo foi feito em segredo por dois anos porque havia o risco de manipulação sobre ele por poderosas indústrias de defensivos agrícolas devido à interesses econômicos delas.

O que fazer enquanto temos que conviver com injustiças? Lutar individualmente para praticar a justiça. Denunciar injustiças pelos canais competentes. Fazer passeatas pacíficas contra injustiças. Ensinar a justiça. Cultivar esperança de que haverá um tribunal, finalmente justo, no qual se fará plena justiça universal.

Interessante que na sua carta aos Coríntios, Paulo diz que todos teremos que enfrentar o tribunal divino (2 Cor. 5:10). Daniel descreve que “assentou-se o juízo e abriram-se os livros” (Daniel 7:10). E o rei Salomão disse que “Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” (Eclesiastes 12:14). A justiça vem.

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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