Ajudando ou prejudicando o dependente químico?

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Uma pessoa que sofre e luta com um dependente químico na família fica, em geral, em dúvida sobre como equilibrar o cuidado de si mesmo e ajudar o adicto. A palavra “adicto” significa alguém viciado, dependente de uma substância ou de outra coisa. Adicto é um indivíduo que tem uma adicção que pode ser por droga ou por outra coisa.

Podemos ajudar pessoas com motivos saudáveis ou não. Não é incomum que um membro da família tenha o desejo sincero de ajudar o viciado ou adicto, mas acaba atrapalhando a recuperação dele, entre outras coisas, porque não deixa que ele assuma as consequências da adicção dele. Se você vive salvando um dependente químico das consequências do uso da droga, provavelmente ele não sentirá a necessidade de mudar o comportamento autodestrutivo.

Também não é incomum um familiar de dependente químico ter tendência de dar conselhos, controlar, querer guiar, e isto pode ser prejudicial para o viciado. Uma pessoa lidando com um membro da família que é dependente de drogas, fez uma lista de perguntas e pontos de reflexão para ela mesma com a finalidade de raciocinar sobre se sua conduta para com o viciado é saudável ou não. Veja alguns itens que ela listou: 1 - Não farei para a dependente o que ela puder fazer por si mesma; 2 - Será mais fácil ceder do que assistir ao sofrimento da dependente?; 3 - O que estou fazendo para facilitar a adicção dela?; 4 - Participo dos dramas que ela cria?

Qual a diferença entre facilitar e ajudar um dependente químico ou uma pessoa que tem qualquer tipo de compulsão com quem você convive de perto? Um texto do Nar-Anon, grupo de ajuda para pessoas que têm familiares ou amigos com dependência química, explica: “O seu papel de ajuda ... não é o de tentar treinar e modificar as ações de alguém, mas, sim, o de treinar e modificar as suas próprias ações e reações.”

Outra pessoa vivendo com um viciado em drogas fez também uma lista de perguntas para si a fim de melhorar a forma de ajudar seu parente adicto. Veja: 1 - Esta é uma situação onde eu deveria estar ajudando?; 2 - Estou desfazendo as atrapalhadas de alguém e permitindo que esta pessoa fuja das consequências de suas ações?; 3 - Qual é o meu motivo? Estou tentando controlar esta pessoa?; 4 - Estou agindo assim a fim de ensiná-la ou talvez castigá-la para que, da próxima vez, aja de forma diferente?; 5 - Esta é uma situação que a pessoa poderia ou deveria resolver sozinha?; 6 - Minha ajuda realmente demonstra falta de respeito pela habilidade dessa pessoa?; 7 - Estou ressentido ou com raiva pelo que estou fazendo? Caso você responda “sim” a qualquer destas perguntas, acredito que está facilitando e não ajudando.

Veja este depoimento de uma terceira pessoa lutando com um parente dependente químico. “Ajudar é algo importante para mim. Foi algo que me ensinaram a fazer. Sentia que era obrigada a ajudar aqueles que amo. Quando comecei a frequentar o Nar-Anon, me encontrava bastante confusa a respeito do que era ajudar. Precisei de tempo e muita reflexão para entender que deveria ajudar as pessoas, de maneira que não fosse prejudicial ou que me levasse a esperar algo em troca. Estou aprendendo no Nar-Anon um novo modo de ajudar. Uma maneira que, espero, levará meus entes queridos na direção da coragem, independência, uma vida plena, livre e feliz.”

Ela continua: “O que costumava acreditar ser ajuda era, na verdade, interferência e facilitação. Hoje, quando penso em ajudar alguém, primeiro paro e penso: Por que estou ajudando? A quem estou ajudando? Estou realmente ajudando? Pediram minha ajuda?”

E ela segue sua reflexão: “Quando compreendo o meu papel, posso parar e olhar o que estou fazendo, antes que aja e escolha o meu comportamento. Sei que quando me sinto ressentida, ou quando espero uma mudança como resultado da minha ajuda, isso é facilitação, e não devo fazê-lo. Quando interfiro, só prolongo a luta do adicto.”

Ela termina com uma frase para reflexão: “Ajudar os outros a construir sua independência e força pessoal é estender uma mão amiga. Ajudá-los a evitar as consequências de seus atos ou fazer por eles o que eles podem fazer por si mesmos, é presenteá-los com permanentes muletas.” Fonte das citações: “Compartilhando Experiência, Força e Esperança – Reflexões Diárias dos Grupos Familiares Nar-Anon”, 2018, www.nar-anon.org 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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