Abraçando o sofrimento

quinta-feira, 07 de setembro de 2017

Todos temos dores. Físicas ou emocionais ou espirituais. Ou uma mistura disto. Geralmente tentamos fugir de nossas dores. Sentir dor, dói. Mas precisamos aprender a lidar com nossas dores de uma forma corajosa.

Faz muita diferença se olharmos nossos sintomas como sendo amigos e não inimigos. Pode ser dor de cabeça, tristeza, dor de estômago, ansiedade, etc. Os sintomas, vamos chamar de “dores”, são amigos. Claro que é ruim ter problema de saúde. Quando você está dirigindo seu carro e acende alguma luz vermelha no painel – que é um sintoma – isto é ruim ou é bom?

A luz vermelha no painel do carro anuncia algum problema. Ela é amiga. Ela está indicando que precisamos parar para consertar o problema. Assim é com nosso corpo e com nossa mente. Tomar um remédio de farmácia sem compreender a causa de nosso mal-estar ou de nossa dor emocional, é como quebrar a luz vermelha do painel do carro com um martelinho e seguir dirigindo como se, agora com a luz apagada, tudo estivesse bem. A luz vermelha apagada por ter sido quebrada a lâmpada é correspondente à tomar um remédio para aliviar ou eliminar algum sintoma sem verificar a causa dele.

Fugir de nossas dores não acaba com elas. O que pode acontecer se aprendermos a abraçar nosso sofrimento? Abraçar o sofrimento é ir em direção a ele. É olhar para ele. É enfrentá-lo não no sentido de orgulho, de revolta ou arrogância, mas de profunda aceitação humilde. Experimentamos uma dor, ela tem uma causa e aceitamos isto. Aceitamos no sentido de não fugir. Aceitamos no sentido de abraçar o sofrimento e ver o que ocorre. Aceitamos no sentido de procurar entender sua causa. Geralmente, fazendo isto, o que ocorre é que pode surgir um alívio genuíno do sofrimento. Já experimentou isto?

A Oração da Serenidade usada, por exemplo, nas reuniões dos Alcoólicos Anônimos, diz: “Deus, concedei-me a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso mudar; coragem para mudar as que eu posso, e sabedoria para perceber a diferença [entre as que eu posso e as que não posso mudar].” Veja que ela começa com o pedido de aceitação da dor, do sofrimento, da limitação que não podemos mudar. Quando aceitamos, paramos de brigar com o sintoma, com a dor. Paramos de quebrar a lâmpada da luz vermelha do painel de nossa vida.

Abraçar o sofrimento é procurar entendê-lo. É mergulhar nele com a confiança de que seremos fortalecidos para lidar com ele. Experimente isto. Comece com alguma dor menos complicada, com algum medo não tão limitante, com alguma tristeza não grave, com alguma ansiedade suportável. Viva a dor. Atravesse-a. E ela se dissipará. Pode voltar depois de novo, é verdade. Mas você poderá aprender, passo a passo, a lidar com ela de forma construtiva. E, assim, ela ficará menos assustadora, menos perturbadora, menos limitante e talvez menos frequente.

Ajuda muito se você procurar alguém para ajudar. Já experimentou isto? Ir ajudar alguém voluntariamente, de graça, sem buscar nenhum benefício pessoal, quando você não está animado, quando está angustiado ou entristecido, faz você voltar melhor. Experimente. Funciona. Abrace o sofrimento. 

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César Vasconcelos de Souza

Cesar Vasconcellos de Souza

Saúde Mental e Você

O psiquiatra César Vasconcellos assina a coluna Saúde Mental e Você, publicada às quintas, dedicada a apresentar esclarecimentos sobre determinadas questões da saúde psíquica e sua relação no convívio entre outro indivíduos.

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