Todas as cores do céu

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Dois mil e dezenove. Brasil. “Não podemos retroceder” – foi o que pensei. Ou melhor, é o que penso. Esses dias fiquei impactada com duas narrativas, a meu (humilde) ver,  brilhantes pela reflexão que provocam: o filme “ Roma”, de Alfonso Cuarón e o livro “ Todas as cores do céu” de Amita Trasi.

Assisti ao filme, despretensiosamente. Na verdade, eu sequer sabia a temática e confesso que o título me remeteu a algo bastante diferente. Sem conhecer o trailer ou a sinopse. Também não supunha que a obra havia sido premiada e, por alguns, aclamada. Apenas assisti. E para minha surpresa, senti. E fui agraciada com uma estória sensível que denota não apenas a condição de ser mulher sob um recorte muito rico e verossímil quanto ao retrato de uma sociedade desigual. As personagens estão no México da década de 1970. A semelhança com o que vemos e vivemos é notória. Em colorido e em preto e branco. De forma explícita ou velada. Sutil ou impactante. Mulheres de ontem e hoje. De sempre. E sua existência. Resistência. Resiliência.

Arte tem dessas coisas. É fonte inesgotável de reflexão, contemplação, contentamento.

No dia seguinte ao deleite reflexivo provocado por “Roma”, talvez não por acaso, mas também sem querer, adentrei no universo de “Todas as cores do céu.” Sem saber, conheceria um pouco mais da realidade de muitas mulheres na Índia; seus papéis em suas castas, em suas famílias e perante a sociedade. A mente, já mergulhada no mundo feminino ao qual pertenço, mas desconheço em grande parte, dada a sua imensidão, se perdeu no tempo. Pude me debruçar sobre a obra em apenas um dia. Leitura visceral. Sobre vidas. Sobre mulheres, sobretudo.

A mim, ocidental em pleno século XXI, é chocante imaginar que tantas mulheres ainda nascem com a “missão” precípua de servir ao homem. Em seu viés mais assustador. Literalmente. É inquietante estar certa de que a ficção transborda as páginas dos livros e que muitas das estórias criadas são a real transposição do que de fato acontece. E de saber o que acontece, não raras vezes, dói o coração.

As constatações são em parte animadoras e, em parte, sinceramente, tristes. Dividir os espaços da sociedade, coordenar famílias, acessar níveis elevados de capacitação educacional, assumir postos de trabalho de responsabilidade, conquistar respeito e credibilidade no tocante à capacidade intelectual e emocional, assumir suas vontades, conciliar todas as frentes e demandas atinentes às mulheres são conquistas realmente grandiosas. Involuir não pode ser opção. Sigamos adiante. É preciso olhar para frente e para o alto. Para o céu. E nele se incendiar de esperança.

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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