Olhos abertos

sexta-feira, 01 de março de 2019

A folia está aí. Vale brincar. A alegria faz parte da alma do brasileiro. É rico traço cultural. O povo espera por essa época e milhões de pessoas merecem celebrar. Mas nesse meio tempo, que não nos falte sanidade para lembrarmos das seríssimas questões que nos assolam enquanto sociedade.

Que fique o registro de que o racismo continua vitimizando pessoas o tempo todo no Brasil. Mulheres são mortas por companheiros e estranhos todos os dias. Homossexuais vêm sendo perseguidos, atormentados e violentados hodiernamente. Portadores de deficiência não conseguem acessibilidade digna. Refugiados são deixados à margem da sociedade. Não por acaso. Mas pelo fato de serem ( de sermos) negros, mulheres, gays, portadores de deficiência e estrangeiros.

Que nesse carnaval, essa realidade desoladora não seja ignorada. Que esse movimento cultural tão importante para os brasileiros não se preste a ser palco de mais desrespeito, violência e desamor.

Que possamos todos desfrutar de nossas liberdades, que possamos ir e vir em paz, que sejamos acatados em nossos "nãos", que aprimoremos nossa tolerância com as diferenças. E que se isso não acontecer a nenhum ou nenhuma de nós, que saibamos buscar ajuda, que reconheçamos nossas prerrogativas e que sejamos ouvidos por quem tiver competência em nos auxiliar. Sei que o alcance dessa paz desejada e do respeito constante é uma utopia. Mas não deixa de ser um projeto que pode ser construído, tijolo por tijolo. 

É carnaval, mas continuamos sendo uma sociedade problemática, ávida por soluções, ansiosa por notícias boas, por concretização de planos e não apenas promessas. Ainda somos o povo da alegria. Isso demonstra que permanecemos resilientes. Até demais. Sejamos canais dessa energia boa que promete circular em todo canto nos próximos dias.  Mas não permitamos que nossas premissas básicas enquanto seres humanos sejam violados. Nem ignorados. Ainda creio que ser feliz sozinho é um ato egoísta sem completude. Estejamos alertas a qualquer manifestação humana de preconceito, racismo, xenofobia, machismo e violência. Proponho a celebração, sem venda nos olhos. A Humanidade carece demais de gente boa de olhos bem abertos. O tempo todo.

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Paula Farsoun

Com a palavra...

Paula é uma jovem friburguense, advogada, escritora e apaixonada desde sempre pela arte de escrever e o mundo dos livros. Ama família, flores e café e tem um olhar otimista voltado para o ser humano e suas relações, prerrogativas e experiências.

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