Todos abriram janelas e descascaram batatas

segunda-feira, 22 de maio de 2017

No dia 16 de maio, na véspera do aniversário de 199 anos da nossa jovem cidade, que agora posso dizê-la assim, minha, quarenta e duas pessoas, não nascidas aqui, ganharam o título de CIDADANIA FRIBURGUENSE. Foram cidadãos, como os que neste solo brotaram, que não permaneceram indiferentes ao dia a dia da cidade; ao respirarem os ares desta serra, no cinturão central da Mata Atlântica, tornaram-se aventureiros trabalhadores; descobriram e descortinaram suas possibilidades ao lado dos nativos. Viveram entre todos e não foram quaisquer outros; conviveram. Foram triunfantes em seus fazeres pessoais e sociais. Não foram frouxos e preguiçosos; tiveram força para abrirem portas. Ah, esta cidade, que é Nova e tem por essência a liberdade, tem sede de ir além. Sabe saudar o forasteiro, soprando-lhes os ventos do Caledônia, oferecendo-lhes a imponente imagem do Cão Sentado. Ao desconhecido imigrante, mesmo sem bagagens, sempre o acolhe em algum lugar.

Agora sou nova cidadã friburguense. Tenho certidão de cidadania que traz meu nome em letras vermelhas. Ao lado de outra escritora na área do direito, fui indicada a representar a literatura. Os escritores são despretensiosos pássaros sinceros que querem, através das palavras, dar um ultimato à qualidade de ser humano. E nós, duas mulheres, honradamente, representamos, entre todos, o descascador de palavras, como aquele que toma a batata nas mãos e prepara-a para alimentar o mundo, sem desprezar ao menos uma. Os escritores abrem os braços para o futuro; um texto não tem idade. Quando bem escrito e rico em valores, tem imortalidade ao nascer diariamente aos olhos do leitor. Suas obras são como tijolos que constroem lares que fecundam pessoas.

A Câmara dos Vereadores reconhece num breve momento do ano o valor dos imigrantes, numa cerimônia que preza a cidade. Neste, não se esqueceu da Academia Friburguense de Letras, a pequenina Casa de Salusse, situada no centro da cidade, que cuida dos escritores da região e da cultura.

Que bom! A literatura tem sustança para alimentar pessoas e fazer florescer os lugares.

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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