Quando o riso explode entre as palavras

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
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Rir é o melhor negócio, sim senhor! Talvez seja um excelente remédio para o coração ou, quem sabe, um antidepressivo eficiente. Mas, vamos lá. O humor pode ser considerado uma expressão literária? Dom Quixote de la Mancha e as comédias de Willian Shakespeare, como Trabalhos de Amor Perdidos ou A Megera Domada, respondem a pergunta.

O humor tem como ponto de partida o trágico e o ridículo, pois há de se encontrar sempre algo engraçado no infortúnio. Certa vez, uma amiga me disse estar fazendo um curso de palhaço e, na primeira lição, aprendeu a rir de si mesma. Que sábia didática! Rindo, a gente consegue se ver e observar a vida de outros ângulos.

A literatura é a arte de tocar o leitor através das palavras e o humor o cutuca com leveza, sem deixar, inclusive, as adversidades serem varridas para debaixo dos tapetes; é como um espelho que evidencia os rabos nos homens vestidos de smoking e orelhas peludas nas mulheres de saia de cetim. Mostra a desgraça com graça e a fatalidade com sutileza. É indiscreto e revelador. Tem um quê de devastador.

Ah, o humor expõe as mazelas e as firulas da vida que é carregada de imperfeições e imposturas!

O riso é uma faculdade humana e as histórias o descrevem. Quantos fatos engraçados caracterizam a existência humana? E a nossa? Não há cidades, nem famílias, que não sejam fundadas em fatos engraçados. O humor e a vida estão entrelaçados e os fatos contados com humor são marcantes nas rodas de conversa e mesas de jantar. Quando menos se espera, alguém troca o açucareiro pelo saleiro e as consequências desse engano se torna uma engraçada história de contar.

O humor contém a ideia da brincadeira em sua essência e faz o riso explodir no meio tempo das coisas. Em todas as épocas e grupos sociais. Ah, como Wood Allen soube escrever cenas sutis, como Dirigindo no Escuro, em que um diretor de cinema repentinamente fica cego e não revela a ninguém para não perder os patrocinadores.

O angustiante jogo nos âmbitos do poder cria um clima humorístico fértil por trazer circunstâncias penosas e constrangedoras através das quais o ser humano busca superar suas inseguranças e ansiedades. O humor é utilizado como um antídoto ante o desespero e é altamente inspirador, podendo ser considerado como uma estrela de primeira grandeza ao escritor. Talvez por isso, seja um recurso literário muito usado e, como também, através da literatura, é disseminado mundo afora.

O humor se utiliza de personagens típicos, bobos e ingênuos, causa de deboches, e que fazem parte de enredos inusitados, como A Grande Família. Geralmente, são contos que possuem caráter popular. Entretanto, mesmo nas obras mais sofisticadas e elegantes, faz-se presente através da ironia, como nas poesias de Paulo Leminski.

Enfim, a literatura bem-humorada nos mostra como o riso pode resgatar relacionamentos, que é mais saudável encarar a vida com risos e como suportar as piores horas.      

E, aqui deixo a frase mais irônica de todas: “Ser ou não ser, eis a questão”. William Shakespeare.

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Tereza Malcher

Tereza Cristina Malcher Campitelli

Momentos Literários

Tereza Malcher é mestre em educação pela PUC-Rio, escritora de livros infantojuvenis, presidente da Academia Friburguense de Letras e ganhadora, em 2014, do Prêmio OFF Flip de Literatura.

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