Insulto ou indulto?

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

No último domingo, 11, foi comemorado, no Brasil, o Dia dos Pais que, junto com o Natal e o Dia das Mães, é uma data emblemática no calendário da família brasileira. Desde os tempos bíblicos que a figura paterna é marcada como de grande importância na formação moral e ética da criança, só ficando abaixo daquela da mãe por que são elas que geram e amamentam os rebentos, o que sem a menor dúvida, é uma relação muito íntima e intensa. Mas, pais presentes na educação da prole são muito necessários, pois é o contraponto, ao usarem mais a razão, ao caráter mais protetor e ao agir com o coração, típico das mães. Quando Deus criou o homem e a mulher, em sua plena sabedoria, sabia da importância do casal, na formação de uma criança.

É inconcebível que essa relação seja interrompida bruscamente quando um pai ou uma mãe, friamente, assassinam um filho, principalmente, por motivos fúteis ou mesquinhos. Mais estúpidas ainda são assassinatos com requintes de crueldade como jogar uma criança da janela de um apartamento, ou colocar o filho bebê dentro de uma máquina de lavar roupa e acionar o seu funcionamento (esse fato está descrito na revista francesa L´Époque, do mês de julho).

Mas, mais inconcebível ainda são as saídas temporárias de presos, em datas significativas, concedidas pela Justiça do Brasil, quando seus crimes são cometidos nesse contexto. Foi o que aconteceu no último domingo quando Alexandre Nardoni, condenado por matar a própria filha de 5 anos, Isabella Nardoni, teve direito a uma saída temporária, por ter bom comportamento carcerário segundo a juíza Sueli Zeraik. Tal benefício foi estendido também a Ana Carolina Jatobá, madrasta de Isabella e Suzana Von Richtoffen, esta condenada por participar do duplo assassinato do pai e da mãe. Todos os beneficiados estão presos na penitenciária de Tremembé, em Taubaté, no interior do estado de São Paulo.

É uma piada e de muito mau gosto. Como diz o colunista Marcos Angeli Full, do Jornal da Cidade on-line, edição da última segunda-feira, 12, “alguns juristas tentam justificar medidas como saidinha de assassino da própria filha, Nardoni, no Dia dos Pais, como sendo uma leitura rígida da lei. Fosse para interpretar a lei do papel ao pé da letra, desnecessários seriam os juízes. Bastaria um escrivão e pronto, a barbaridade estaria consumada. O juiz, em qualquer sociedade civilizada, serve justamente para interpretar a lei do papel, e aplica-la com discernimento. Não é, evidentemente, o caso desses juízes brasileiros”.

Por isso, somos motivo de piada, lá fora, como sendo um país completamente fora da realidade. Claro está que se o código civil comtempla presos de bom comportamento, com alguns dias de liberdade, aqueles que preenchem tal requisito, tem direito garantido por lei, apesar de ser o bom comportamento um dever de qualquer detido. No entanto, seria de alta sensibilidade dissociar a liberdade temporária, do crime que cometeram. Assim, liberá-los no dia 2 de novembro, dia de Finados, ou no dia 7 de setembro, ou mesmo 15 de novembro, seria debochar menos da sociedade, que é regida pelas mesmas leis, que quando transgredidas, causam a prisão do cidadão.

E aqui é bom chamar a atenção para essa bobagem de chamar preso de paciente. No meu entender, paciente são pessoas livres, acometidas de alguma doença, seja ela séria ou não. Chamar detentos de pacientes é mais uma frescura dessa combalida Justiça brasileira.

Infelizmente, o Poder Judiciário está repleto de pessoas sem sensibilidade, haja visto os inúmeros posicionamentos de determinados membros da suprema corte brasileira. Até o criminoso com a alcunha de Elias Maluco, responsável pela morte do jornalista Tim Lopes, foi agraciado com um habeas corpus emitido por Marco Aurélio Mello, membro efetivo do STF.

Se os membros do STF perderam a sensibilidade, para não dizer outra coisa, o que pensar dos juízes da primeira instância.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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