A cerejeira do Japão, um colírio para os olhos

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Aproveitando o desabrochar da árvore trazida para nossa cidade pelos primeiros imigrantes japoneses, e numa homenagem a sua beleza ímpar, relembro aqui um texto que produzi há dez anos sobre o encanto da floração das cerejeiras que mais uma vez foi celebrado no último fim de semana pela colônia japonesa de Nova Friburgo com a Festa do Hanami, no sítio Florândia da Serra, em Conquista.

As cerejeiras só florescem uma vez ao ano e a floração dura cerca de sete dias; suas folhas desaparecem com a chegada da primavera e seus galhos nus e desgraciosos atravessam o verão para começarem a se preparar para a estação seguinte, o outono, entre março e abril. Aqui abro um parêntese, pois desde há algum tempo, com esse clima maluco dos dias de hoje, que os meses de março e abril pularam para julho e agosto, em pleno inverno na cidade.

Mas estamos falando da Sakurá, mais conhecida como cerejeira, a flor nacional do Japão, símbolo de felicidade: é na época de sua floração, lá na terra do sol nascente, que as crianças iniciam o ano escolar, que os recém-formados saem em busca de trabalho; além disso, o chá de pétalas de sakurá é utilizado em rituais como casamentos e ocasiões festivas.

No Brasil, poucas variedades de cerejeira puderam se desenvolver devido às variações climáticas; no entanto, a partir dos anos 80, após várias tentativas algumas espécies conseguiram se adaptar ao nosso clima, as mudas passaram a ser vendidas e seu plantio se espalhou por diversos estados. A variedade de sakurá que mais se adaptou foi a “okinawa sakurá” (cerejeira de Okinawa, ilha que tem as mesmas características climáticas do Brasil). Em muitas cidades e núcleos nipo-brasileiros, foram plantadas grandes quantidades desta árvore e na época da sua floração, no período que vai de julho a setembro, temos um visual de encher os olhos. Em geral, nesses locais têm sido organizados festivais japoneses.

Em Nova Friburgo, a presença nipônica é marcada pela chegada do engenheiro agrônomo Tohoro Kassuga, nascido em 1892, na cidade de Shiga-Ken, hoje Kusatsu. Em 1908 ele imigrou para o Brasil, onde desembarcou no porto de Santos, mas não fixou residência no estado de São Paulo, reduto dos japoneses na época, pois seguiu viagem até o Rio de Janeiro, onde se radicou na área rural de Friburgo. Foi ali que se dedicou ao plantio do caqui, fruta até então desconhecida na região e, provavelmente, é com ele também que começa a história da cerejeira, no município. Aos poucos o número de mudas se multiplicou a ponto de ser considerada hoje, a árvore símbolo da cidade.

No último fim de semana foi realizada mais uma edição da festa denominada “Hanami” (ver as flores), promovida pela colônia japonesa no sítio Florândia da Serra, da família Matsuoka. Assim como no Japão, essa festa é realizada ao ar livre, em baixo das árvores, justamente na época em que todas estão floridas; são servidas comidas típicas, tem-se a apresentação de danças folclóricas e é mostrada um pouco da arte manual japonesa. Chama a atenção também, uma árvore onde as pessoas prendem pedaços de papel coloridos em seus galhos, amarrados com barbante contendo pedidos os mais variados. Poderia ser chamada a árvore dos desejos.

É nessa época que Nova Friburgo mostra toda sua beleza natural. As cerejeiras florescem no inverno e em todos os bairros encontramos “hanamis” mostrando a exuberância de sua floração. É a compensação visual para o frio que castiga e obriga a tirar os casacos do armário.

Com o início do Festival de Inverno, promovido pela Prefeitura de Nova Friburgo, entre os últimos dias 10 a 18, seguido de mais um festival de inverno promovido pelo Sesc, os turistas têm a oportunidade de conhecer uma das mais bonitas cerejeiras de Friburgo, pois ela está situada nos jardins do Country Clube, à beira do lago. Aliás, o seu reflexo nas águas é tão belo quanto a árvore em si.

Mas, esses mesmos turistas, poderão também contemplar os Manacás da Serra que aos poucos tomam conta da cidade, com toda a beleza de suas flores róseas e brancas. Não custa lembrar que Nova Friburgo já foi a primeira cidade mais importante na produção de flores ornamentais do Brasil, título perdido para Holambra, no estado de São Paulo.

Ah! Se nossos prefeitos fossem um pouco mais perspicazes.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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