Carnaval e tromba d´água: as mazelas recentes do Rio

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Entre os últimos dias 7 e 14 evidenciou-se, de maneira nua e crua, a incompetência dos governantes desse país, reforçando a ideia de que estamos mesmo nas mãos de amadores que brincam ser profissionais. A política brasileira, corroída por maus políticos cujo interesse principal não é o bem comum ou o de melhorar a qualidade de vida da sociedade, precisa urgentemente de homens dignos e que tenham a coragem de nomear para as várias secretarias ou ministérios, técnicos no assunto, conhecedores do meio ao qual se propõem. Chega de apadrinhados, de indicações partidárias em troca de votos no Congresso, que garantam quatro anos de descalabros administrativos.

Todos sabem, menos nossas autoridades, de que o carnaval do Rio de Janeiro é uma festa conhecida mundialmente, capaz de trazer turistas dos quatro cantos do país e, por que não, do mundo. O fluxo de dinheiro que entra nos caixas de hotéis, restaurantes, bares, taxistas, flanelinhas, ambulantes etc, que revertem em impostos municipais e estaduais não é de se desprezar.

No entanto, o carnaval foi marcado por arrastões, tiroteios, assaltos a turistas, sujeira, desordens de toda ordem, culminando com a cândida confissão do governador Pezão (mas que alcunha!) que reconheceu ter falhado na organização daquela que é considerada a maior festa da cidade.  Na realidade, toda a planificação, se é que houve alguma, mostrou ser falha e expôs, de maneira cruel, o amadorismo de Pé Grande (parece até nome de cacique de filme americano, aliás, muito mais capazes na condução de seu povo).

Crivella, prefeito do Rio, não fica atrás, se escafedendo do município antes mesmo do carnaval começar, em nome de convicções religiosas. O alcaide esqueceu que homens públicos governam para uma população diversificada e, em princípio, devem se adaptar aos anseios do povo. A desculpa de que foi conhecer tecnologias de segurança em outros países, para serem aplicadas na cidade, não convence; ainda mais por serem países de cultura diferente, de educação diferente e, sobretudo, mais civilizados.

Mal terminara o carnaval, na madrugada da última quinta-feira, 15, os cariocas enfrentaram umas das maiores tempestades que já se abateu sobre o Rio de Janeiro, com enchentes em quase todos os seus bairros, uma sucessão de raios e trovões que chegaram aos sete mil, de acordo com a Defesa Civil. A tromba d´água que se abateu sobre a população só encontra similar naquela de 2011, em Nova Friburgo e foi pior que a de 1966. A única diferença foi no número de mortos, incomparavelmente maior em Friburgo, quando passamos dos mil, talvez em função da nossa topografia. No Rio de Janeiro, felizmente, foram apenas quatro as vítimas fatais.

Como Crivella continuava em seu tour europeu, só 17 horas após o início da tormenta, mandou uma mensagem de apoio às vítimas. Uma amiga me mandou uma mensagem, via whatsapp, que bem retrata esse périplo: “foi à Noruega para aprender a arte de navegação dos vikings e deveria ter ido à Jerusalém para consultar Noé, sobre a construção de grandes embarcações para abrigar a população em épocas de grandes dilúvios”.

Nosso presidente vai criar o Ministério da Segurança Pública e com isso espera resolver de vez o problema da violência no Brasil. Ora, se ministérios fossem a solução para as mazelas brasileiras, viveríamos num mar de rosas e não num país sem controle, com uma classe política desmoralizada, com um judiciário sem credibilidade junto à população. Aliás, este prepara o golpe final contra a Operação Lava-Jato, ao levar para o plenário do STF a decisão de se Luís Inácio deve ou não ser preso, após o julgamento de seu recurso no tribunal de segunda instância, em Porto Alegre.  

Afinal, o que não falta são ministérios na terra de Cabral. São ao todo 28 para acomodar os vários partidos que dão sustentação a um governo fraco e incompetente. E para encerrar esse artigo, fomos todos surpreendidos na última sexta-feira, 16, com o decretou federal da intervenção na área de segurança pública do combalido estado do Rio de Janeiro. A pergunta que não quer calar é: porque não interviu de vez, afastando para sempre o governador? Com certeza, até ele ficaria aliviado se isso acontecesse.

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Max Wolosker

Max Wolosker

Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

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