Os caminhos do imperador

quarta-feira, 12 de outubro de 2016
Foto de capa
Caxambu é uma das atrações musicais do Caminhos do Imperador

Caminhos do Imperador é um projeto de memória criado pelo empresário Mezak Gualberto que reconstituiu uma das passagens de Dom Pedro II pelo distrito de Boa Sorte, em Cantagalo. Mezak transformou um mero acontecimento na vida cotidiana do imperador em um evento turístico que tem atraído a atenção da imprensa de todo o estado e, claro, de muitos visitantes.

O roteiro Caminhos do Imperador é um passeio que ocorre em uma região de grande importância histórica no século 19. Em 1876, o monarca foi visitar a Fazenda Areias, do barão de Nova Friburgo, em companhia da princesa Isabel e conhecer um dos maiores distritos cafeeiros da província fluminense: Cantagalo.

O plantio do café trouxe grande riqueza aos fazendeiros da região que adquiriram títulos de nobreza, a exemplo de Antônio Clemente Pinto, o barão de Nova Friburgo.

O passeio se inicia com uma explicação dada por um historiador sobre a história da região para que o participante compreenda a importância do distrito de Boa Sorte. A seguir, uma visita ao Espaço Cultural Hemyr Gil Caetano, que fica na loja Almek.

Nesse memorial, uma exposição de objetos de castigo dos escravos: uma máscara de ferro para cobrir a boca de escravos que comiam terra, tentando suicídio; um cinto de castidade masculino utilizado em escravos reprodutores e igualmente um cinto de castidade feminino para preservar certas escravas a terem relações sexuais apenas com os escravos reprodutores. No entanto, não se pode afirmar que eram objetos das fazendas de Cantagalo. Inicia-se a caminhada. Uma parada por onde o imperador Dom Pedro II descansou sob um grande rochedo.

Ali o monarca, após fazer uma sesta, esqueceu o seu chapéu, e isso virou assunto na localidade que passou a denominar esse rochedo de Pedra do Chapéu. Em Cantagalo, o barão de Nova Friburgo possuía as seguintes fazendas: Boa Sorte, Boa Vista, Santa Rita, Jacotinga, Itaoca e Areias. Faz parte do circuito somente a fazenda Santa Rita, mas pode-se avistar a fazenda Areias.

A fazenda Areias possuía 920 mil pés de café e 309 escravos. O viajante Burmeister durante sua passagem por essa propriedade ofereceu importante informação quanto à sua produção cafeeira. “Fornece, anualmente, cerca de 12 mil a 13 mil arrobas de café, havendo sua produção, por vezes, atingido mesmo até 17 mil. Seus trabalhos ocupam 245 negros.”

O relato de Burmeister informa que foi nessa fazenda que o barão de Nova Friburgo introduziu os primeiros colonos portugueses trazidos do norte de Portugal. No roteiro Caminhos do Imperador uma parada na simpática Vila Areinhas. Ali vivem descendentes de escravos que trabalhavam na fazenda Areias e outras propriedades da região.   Os moradores estão instalados onde era o antigo terreiro de café da fazenda Areias. A fazenda Santa Rita que pertencia ao barão de Nova Friburgo finaliza o roteiro. Ali se entra nas ruínas de um imenso complexo de senzalas, que surpreende pelo tamanho, e onde é servido um delicioso lanche colonial.

Todo esse projeto foi acrescido do Festival do Feijão na Vila Areinhas, um evento anual que ocorre geralmente no mês de agosto. Folia de Reis, caxambu, capoeira e forró integram a parte musical do evento. Além da feijoada, diversos doces e salgados utilizando o feijão a exemplo da empada de feijão, quibe de feijão, brigadeiro de feijão e muitos outros quitutes são oferecidos no evento.

O roteiro Caminhos do Imperador reúne história, gastronomia e um delicioso momento de lazer. Vale a pena conferir.

  • Foto da galeria

    Cinto de castidade masculino utilizado em escravos reprodutores

  • Foto da galeria

    Dona Sebastiana, neta de escravos da Fazendas Areias

  • Foto da galeria

    O empresário Mezak Gualberto transformou um mero acontecimento na vida quotidiana do Imperador em um evento turístico

TAGS:
Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.