Fazenda da Cachoeira do Amparo: um lugar de memória - Última parte

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

No artigo da semana passada fiz um histórico sobre a família Neves, proprietários da Fazenda da Cachoeira do Amparo. Dona Vitalina administrou a fazenda até o seu falecimento em 1968. Desde então, a Fazenda da Cachoeira do Amparo foi transmitida, por herança, a Vitalina das Neves Lange e a Walther José Seng das Neves. Esse último vendeu a sua parte para a irmã. Berndt Lange, casado com a herdeira Vitalina, manteve uma pequena lavoura de café e se voltou à criação de gado e cavalos da raça campolina.

Depois de ter pertencido há mais de um século a família Neves, há alguns anos a Fazenda da Cachoeira do Amparo foi vendida a um particular que não deseja ter a sua identidade revelada. Com os novos proprietários, a fazenda passou por uma grande reforma e restauração. A casa-sede de dois pavimentos, que já havia desabado muitos anos antes, foi reformada mantendo-se o estilo colonial, mas ficou somente com um andar. Dentro do imóvel foi reproduzido em um dos cômodos um bar bem ao estilo brasileiro do século passado, com peças garimpadas principalmente no Estado de Minas Gerais.

O tradicional baleiro, o fumo de rolo e a balança com várias medidas de peso compõem o cenário do bar. Alguns assentos imitam galões de leite e variados chapéus compõem o ambiente.  Peças de carro de boi como a canga e a roda, dormentes do trilho do trem, entre outros artefatos antigos fazem parte da ornamentação externa da propriedade. A roda d’água importada da Inglaterra foi restaurada e voltou a funcionar.

Havia na fazenda dois terreiros para secar os grãos de café. O terreiro de cima, em um platô acima do engenho e o terreiro de café de baixo, próximo à casa de vivenda. O antigo paiol vai se tornar uma área social e toda a estrutura de pedra de suas paredes estão sendo aproveitadas. O lago foi igualmente mantido na propriedade com a introdução de diversas aves aquáticas e espécies de peixes.

Nada foi removido pelos atuais proprietários do que restou dessa fazenda histórica. Foram mantidas as estruturas de pedras das antigas construções e igualmente as benfeitorias. Quando a Fazenda da Cachoeira do Amparo passou a ser de propriedade do coronel Chon-Chon a escravidão já havia sido extinta. Mas os proprietários anteriores tiveram escravos, pois havia uma senzala na fazenda e instrumentos de castigos, conforme relatos de moradores locais.

No censo de 1872, a população escrava dessa localidade era a maior da Vila de Nova Friburgo, com 3.072 escravos de um total de 6.684 indivíduos cativos. No entanto, a senzala foi desfeita por uma das gerações da família Neves. É uma prática muito comum dos que herdam ou adquirem fazendas do período do Império apagar a memória da escravidão.

A pequena capela da fazenda foi reformada e mobiliada com bancos e algumas peças religiosas. A criação de cavalos é mantida pelos atuais proprietários. Percebe-se que o objetivo é tornar a Fazenda da Cachoeira do Amparo em um local muito mais de lazer do que propriamente uma unidade produtiva como fora no passado.

Os Galiano das Neves são ligados ao tronco familiar do ex-presidente Tancredo Neves e foram importantes políticos e atores históricos em Nova Friburgo. Tiveram uma rivalidade aguerrida contra outro importante político Galdino do Vale Filho. Na revolução de 1930, participaram em Nova Friburgo ativamente ao lado das forças revolucionárias. No entanto, deixaram a cena política no município desde o falecimento do coronel Chon-Chon. A maior parte da família tem domicílio em outras cidades como o Rio de Janeiro, mas ainda possuem propriedades em Nova Friburgo. Mas em razão herança atávica a seus ancestrais continuam a manter vínculos afetivos com o município.

  • Foto da galeria

    A casa-sede foi reformada mantendo-se o estilo colonial

  • Foto da galeria

    A roda d’água importada da Inglaterra foi restaurada

  • Foto da galeria

    Foi reproduzido um bar no estilo século passado

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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