A família Neves em Nova Friburgo

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Rua Cel. Galiano Emílio das Neves, localizada no centro da cidade. Atualmente no local um shopping center onde viveu, durante décadas, a família Neves. A última moradora, D. Vitalina Neves, tornou-se um vulto na cidade. Os irmãos Neves, Galiano Emílio, Galdino Emiliano e Joviano Firmino saíram de São João del Rei, em Minas Gerais, e se dirigiram, no século 19, para Nova Friburgo. Galiano Emílio foi o que se projetou na política local. Nascido em São João del Rei em 1º de maio de 1826, assim que terminou os estudos preparatórios foi para o Rio de Janeiro ingressando no Curso de Medicina. Vítima da tuberculose, interrompeu a faculdade e veio residir na Vila de Nova Friburgo, cujo clima salubre ajudava na convalescência da doença. Casou-se com Josephina Salusse, filha de família tradicional de franco-suíços proprietários do Hotel Salusse.

Possivelmente seus dois irmãos seguiram a sua trajetória vindo se estabelecer na Vila de Nova Friburgo. Homens esbeltos, são ligados ao tronco familiar do ex-presidente Tancredo Neves e de Aécio Neves, senador cassado por corrupção e por receber propina para favorecer uma empresa particular. O coronel Galiano das Neves possuía uma propriedade agrícola no distrito de Amparo, denominada de Cachoeira do Amparo, de plantação de café, e a Fazenda São Bento, de criação de gado, no distrito do Campo do Coelho, essa última ainda na propriedade da família Neves. Galiano das Neves adquiriu o Instituto Colegial Freese, do inglês John Freese. Lecionava neste colégio onde estudavam os filhos da elite fluminense em razão da qualidade desse estabelecimento de ensino. Exerceu o cargo de vereador por vários mandatos e foi presidente da Câmara. Faleceu em 5 de maio de 1916, aos 90 anos e seu filho, Galiano Júnior, conhecido na cidade por coronel Chon-Chon, foi seu herdeiro na política local. Aguerrido na política era um ferrenho adversário de Galdino do Valle Filho. Considerado um homem violento, há vários registros na memória oral de situações cotidianas que demonstra o perfil de mandão de aldeia do coronel Chon-Chon.

A família Neves foi um dos atores na Revolução de 30, em Nova Friburgo. Na República Velha oligarquias paulistas e mineiras dominavam o governo: o primeiro, pelo fator econômico e o segundo por ser o maior colégio eleitoral. No revezamento do poder denominado de política do café com leite, o presidente Washington Luiz não indicou um mineiro para sucedê-lo, como vinham fazendo as lideranças políticas de São Paulo e Minas Gerais se alternando no governo presidencial. Júlio Prestes foi eleito presidente e Getúlio Vargas liderou uma revolução denominada de Revolução de 30.            

Entra em cena José Galiano das Neves, filho do Coronel Chon-Chon, que se deslocou para Nova Friburgo em apoio à revolução. Já se encontrava no município um imenso efetivo que pretendia atacar Porto Novo com o apoio de Galdino do Valle Filho. O professor Carlos Cortez já havia estabelecido um regimento utilizando o armamento do Tiro de Guerra da cidade. Contou-se com o apoio de Brasiliano Americano Freire, oficial da Escola Militar e afastado de suas funções por ter tomado parte no Levante de 1922, estando refugiado em Nova Friburgo com o auxílio de Cortez. Quando a Revolução irrompeu partiram em direção a Minas Gerais, cuja linha ferroviária passando por Sumidouro facilitava o transporte das tropas. Mar de Espanha, Angustura, Volta Grande, Aventureiro e Porto Novo foram ocupadas pelas tropas friburguenses. A família Neves tem uma longa história na política nacional e em Nova Friburgo se fez presente durante algumas décadas. Fica aí o registro dessa família cujo último legatário, Aécio Neves, mancha o nome do clã com a sua conduta ligada a canalha política no país. 

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    Coronel Galiano das Neves

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    José Galiano na Revolução de 30

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    Os irmãos Neves vieram para Nova Friburgo no século 19

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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