Colégio Nova Friburgo: virtude, saúde e saber - Parte 2

quarta-feira, 29 de março de 2017

As obras de adaptação ao colégio foram concluídas em 1949, e um ano depois foi aberta a primeira turma do Ginásio Nova Friburgo, que passaria a se chamar Colégio Nova Friburgo com a criação do curso científico, em 1954. Esse estabelecimento de ensino ficou conhecido pelos friburguenses como “Fundação”. Era um colégio em regime de internato e semi-internato, inicialmente restrito ao sexo masculino, abrindo em 1959 para meninas, mas somente em regime de semi-internato. Criada em 1944, a Fundação Getúlio Vargas almejava formar novos líderes, como sugeria a Lei Orgânica do Ensino Secundário de Gustavo Capanema. Encontrou em Nova Friburgo, no prédio do Cassino Cascata, a oportunidade de realizar seu projeto. Planejou construir em uma instituição progressiva que servisse de paradigma para a educação no Brasil nos moldes de Summehill, na Inglaterra, adaptada à realidade brasileira. Nela estudariam jovens de todo o país.

A estrutura didático-pedagógica foi idealizada pela professora Irene Mello Carvalho, diretora do Departamento de Ensino da Fundação Getúlio Vargas, que visava implantar uma escola experimental em um nível mais elevado dos padrões nacionais. Curiosamente, um século antes, o inglês John Freese fizera o mesmo, fundando na Vila de Nova Friburgo um colégio que formava a elite política e intelectual do Império e que projetara a pacata vila serrana como referência em educação. A prefeitura tinha direito a algumas bolsas de estudo. A professora Maria José Braga Cavalcante Albuquerque preparou os 15 primeiros alunos friburguenses que ingressariam no novo educandário. No Colégio Nova Friburgo todos tinham apelido: Saluca, Pica-Pau, Tof-tof, Dromedário, 109, Belas Coxas, Pechincha, Treme-Treme, Guiba, Bork Madame, Dolinha, Tartaruga, Granville, entre outros. A família de Gerasime Bozikis imigrou de Atenas para Nova em Friburgo e em razão de sua alta estatura ganhou uma bolsa de estudos para jogar no time de basquete. Estudou no colégio como semi-interno entre 1959 a 1962, e logo ganhou o apelido de grego.

Os alunos veteranos aplicavam o tradicional trote passando as mãos nas nádegas dos novatos, obrigavam-nos a tomar banho de água fria e batiam nos calouros. Na década de 50, havia 40 atividades extraclasses que ocupavam o tempo livre do internato, todas registradas no livro “Atividades Extraclasse e Liderança”, do professor Joaquim Trota. Havia o Clube dos Escoteiros, Clube Literário, Clube da Correspondência Internacional, Clube da Radiofusão (estação de rádio com programa de auditório), Clube de Pintura e Artes Plásticas, Clube de Xadrez, Clube de Geografia, Clube de Línguas, Clube de Esporte, Clube do Tênis, Clube da Datilografia, Clube da Música, Clube da Fotografia, Clube de Astronomia, Clube de Aeromodelismo, Clube Agrícola, Clube do Terço, Clube Filatélico, Clube de Ciências, Foto clube e Cineclube. O Clube da Imprensa editou diversos internos a exemplo de “A Natureza” (1950), “Petit Courrier” (1957), em francês, “A Pátria” (1957), “Galo da Serra” (1959), “A Flauta” (1964), “Impulso” (1965) e “A Patada” (1975). O do Teatro foi entre todos os clubes com o maior número de alunos e funcionando por mais tempo.

Dirigido pelo professor Mário Castilho, o grupo de teatro amador do Colégio Nova Friburgo conquistou vários prêmios e encenou aproximadamente 30 peças em Nova Friburgo, Niterói e Cabo Frio, entre outras cidades. Com o passar dos anos os alunos do Colégio Nova Friburgo ganharam fama de rebeldes. Alguns alunos foram enviados para o colégio como castigo, a exemplo de Paulo Brandão, ou por terem sido expulsos de outros estabelecimentos de ensino. Um ex-aluno declarou que “mau elemento do Rio de Janeiro era mandado para cá [Nova Friburgo]”. Talvez isso seja a origem a fama de rebeldia dos alunos do colégio. Continua na próxima semana.

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    Havia 40 atividades extraclasse denominados de clubes. O Clube de Pintura e Artes Plásticas era um deles.

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    Luiz Simões Lopes idealizou um colégio nos moldes de Summehill na Inglaterra

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    Todos tinham apelido, Saluca, Pica-Pau, Tof-tof, Dromedário, 109, Belas Coxas, Pechincha, Treme-Treme, Guiba, Bork Madame, Dolinha, Tartatuga, entre outros

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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