Sobre a dignidade do magistério - Parte 2

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Hoje, para recobrar a dignidade, o professor busca as ruas, faz piquetes, enfrenta a polícia e até nivela seu vocabulário aos níveis das “galerias gerais” dos “estádios” quando os juízes apitam pênaltis contra um time no minuto final de uma partida fadada ao empate. Apanhando da polícia, sem o título de coronéis e sem serem reconhecidos como “cabos” pela falta do fardamento, caminham os educadores desta nação apelando para os dinossauros de Spilberg como forma de protesto, defesa e sobrevivência.

Enquanto os profissionais da educação buscavam as reposições das perdas orgânicas, lutando por melhores salários, para poder encontrar uma alimentação e vestuário adequados, ficou defasada a reposição da competência porque o profissional não tinha tempo e dinheiro para reciclar-se. Avançou o tempo e avançou também a técnica. Os mestres, porém, ficaram paralisados nos conhecimentos adquiridos nas faculdades, muitos deles já superados.

Mais à frente, os professores introjetaram outros conceitos às suas ideias, inclusive o do desprezo e descrença nas reciclagens e nas discussões sobre a questão da educação. Várias circunstâncias levaram a isso, mas a classe continuou lutando desesperadamente pelas reposições salariais, sobretudo das perdas advindas de planos econômicos desastrosos para todo o Brasil. Enquanto venciam na trincheira econômica, perdiam a batalha nas montanhas a exigir reciclagens e aprimoramento.

Se analisarmos do ponto de vista da sociedade, incluindo-se nela os governos, as empresas e as próprias famílias, veremos que, se o professor, depois de muitas lutas, conseguiu alguma coisa em nível econômico, toda a sociedade perdeu enquanto os mestres não conseguiram acompanhar o avanço da velocidade do tempo em mudança. Se analisarmos do ponto de vista dos educadores, incluindo-se nele os mestres de todos os sistemas, vamos encontrar muitos ainda lutando na mesma trincheira de 20 anos atrás. Nem ainda conseguiram livrar-se dos primeiros incômodos salariais e já percebem que a outra luta das montanhas será mais árdua.

Se analisarmos do ponto de vista institucional, teremos o retrato da situação das escolas, cujos alunos são marcados pelos sinais da desesperança, refletindo-se tudo isso numa falta de motivação para permanecer na escola e aprender. O reverso dessa medalha só terá bons desenhos se toda a sociedade entender a necessidade de se buscar uma educação maior, em que o resgate da cidadania for o ponto crucial da questão. Cabe à sociedade como um todo investir em educação, entendendo ser esse aspecto fundamental para a mudança social, condição indispensável para se atingir um nível mais elevado na produção.

Cabe também à sociedade, representada pelos governos, ir promovendo essa mudança para que os professores acreditem nas vantagens futuras de buscar esta profissão, hoje não mais procurada como há alguns anos. A sociedade de hoje será a responsável pelos mestres de amanhã, na medida em que derem crédito ao professor, fizerem com que ele acredite no valor profissional que seu nome merece pela necessidade mesma da sociedade e por uma questão clara de sobrevivência.

Educação não pode dar lucro e se a sociedade só investir em coisas lucrativas, muita coisa deverá fechar, a começar pela fábrica de pessoas, porque os filhos, se fossem analisados sob o prisma da lucratividade, jamais seriam gerados. Os filhos são gerados pelo resultado do amor e da segurança, nunca para dar lucros.

Assim também a educação, ela existe como uma questão de sobrevivência da comunidade humana e seus investimentos trarão retornos sociais e, somente a partir daí, trarão retornos econômicos.Uma sociedade só chegará ao desenvolvimento se der ao professor o seu lugar e se o professor exigir esse lugar pela sua competência, seriedade e capacidade de atualização.

TAGS:

Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.