Considerações sobre a consciência dominada

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Essa consciência é uma doida vaca de presépio. Doida porque diante de orientações diferentes não sabe o que fazer, vaca de presépio porque faz tudo o que mandam sem refletir nas consequências. Diz amém a tudo e a todos. A consciência dominada não é tímida, é uma consciência capacho. Não tem decisão própria, opinião pessoal, conclui tudo com outros autores, é medrosa em tudo o que faz. O resultado da consciência dominada é a repetição. Ela não cria, só repete. Torna-se o melhor prato para a consciência dominadora porque facilmente será sua escrava.

Em sala de aula, poderá ser dominada pelos alunos, muda métodos porque ouviu uma opinião, organiza passeios e diversões porque pensa agradar a alguém, não considera princípios e atitudes, muda todos eles ao sabor de qualquer influência de personalidade mais forte. Esse tipo de consciência, dentro de uma sala de aula, passa um conteúdo oculto totalmente antidemocrático, porque os alunos sentem-se diante de uma pessoa sem atitudes. Ou ele gera uma anarquia incontrolável ou veladamente ensina que a submissão é a melhor saída para o povo num determinado espaço da terra. Esse tipo de educador é o sonhado pelos ditadores.

Governos totalitários sempre desejam carneirinhos no Ministério da Educação para poder dominar a cultura e o saber, impedindo a população de refletir e questionar as posturas ditatoriais e amorais dos governos. Ainda encontramos, portanto, sobretudo em países recém-saídos de sistema de opressão, uma espécie de saudade de mestres com aquela postura educada e submissa tão desejada pelos sistemas.

A consciência dominada é o resultado de uma educação e de uma pedagogia que frisou a necessidade de se reproduzir o oprimido e, por conseguinte, ela passa aos educandos de seu tempo a necessidade de uma submissão superada pela história. Ela confirma as ditaduras pela inoperância e falta de determinação, refletindo um tipo social adequado a outras circunstâncias e avesso aos processos de participação social.

Vamos para dentro de uma escola. Se lá encontrarmos um professor de consciência ingênua numa sala de aula e, outro, de consciência dominada, basta termos uma coordenação dominadora para formarmos umas tantas dúzias de vaquinhas de presépio aptas a aceitar qualquer regime, qualquer situação social e política. Seria uma escola capaz de passar os piores conteúdos ocultos de submissão às pessoas e as desprepararia para enfrentar uma sociedade democrática e competitiva, em que opiniões e manifestações têm seu lugar e são necessárias.

O professor de consciência dominada jamais conseguirá educar alunos agentes de seu processo de êxito e fracasso, preparará alunos para obedecer, nada questionar, tudo fazer debaixo de ordens a serem cumpridas sem o mais simples questionamento. Enfim, é uma postura pedagógica infestando salas e corredores.

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Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

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