Sobre políticos e técnicos

sábado, 22 de julho de 2017

Muito se tem dito nos últimos tempos sobre a necessidade de habilidades técnicas na administração pública. E isso, sempre, em detrimento das características puramente políticas. Como se o técnico devesse se sobrepujar ao político. Ou como se o político, por si só, fosse menor e, até, ruim.

Na verdade, o problema está na compreensão que temos sobre técnica, por um lado, e política, por outro.

Técnica é o conjunto de procedimentos que tem como objetivo obter um determinado resultado. Técnico é aquele que, conhecendo um determinado campo do saber e da prática, envida seus esforços no sentido de obter os melhores resultados naquela tarefa específica.

O termo política, por seu turno, como se sabe, é derivado do grego antigo politeía, que indicava todos os procedimentos relativos à pólis, ou cidade-Estado. Por extensão, poderia significar sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes à vida humana. Político é aquele que tem como preocupação a coisa pública; aquele que se debruça sobre as demandas e reclames da sociedade e a ela procura servir.

Ocorreu, infelizmente, uma corrupção do significados de ambos os termos. Técnica passou a ser sinônimo, exclusivamente, de especialização. E política, pior ainda, passou a designar a arte de dialogar com o objetivo de manutenção do poder. Aliás, a grande e mais equivocada de todas as aproximações foi a da política com poder.

Há uma profunda distinção entre poder e serviço. O poder do qual é investido a pessoa pública deve, obrigatoriamente, estar a serviço da coletividade. Suas vantagens devem ser vistas como condição para o serviço e não como distinção ou privilégio.

Sempre que o poder for querido por si mesmo e como um fim nele mesmo, não teremos conseguido captar o verdadeiro significado de democracia, delegação, representatividade, serviço público, etc.

As sociedades contemporâneas não desejam mais simples políticos que almejam o poder pelo poder. Tampouco podem se entregar aos técnicos especialistas que, por uma miopia crônica, não conseguem ver além de suas especificidades.

O século XXI reclama por sociedades mais coesas, sustentáveis e conscientes de suas necessidades e potencialidades. Aos governantes deve caber a difícil tarefa de conciliar técnica e política. A capacidade de equilibrar a flexibilidade da política que, por espírito público, é sensível ao diálogo e às alianças, mas que prioriza a capacidade efetiva de realizar e executar.

Não há bons ou maus administradores públicos por serem mais ou menos políticos, mais ou menos técnicos. O que há, na verdade, é gente competente ou incompetente. Indivíduos que sabem – ou não – articular flexibilidade política e eficiência técnica com vistas à coisa pública.

Cabe à sociedade - aos eleitores - a decisão sobre a questão. Eleição não é competição entre forças políticas. Não pode ser vista como corrida pelo poder. Tampouco deve ser compreendida como arena onde há vencidos e vencedores. Eleição é a suprema oportunidade que as lutas da História nos deram de decidir por nosso futuro e intervir em nosso destino.

Sempre que votamos por qualquer motivação que não seja o interesse público, jogamos fora irresponsavelmente o sangue e as lágrimas de gerações inteiras que lutaram contra os totalitarismos.

Para além de políticos e técnicos (gestores, como ultimamente se alcunhou) o que realmente se carece é de gente competente, honesta e eficiente. Homens e mulheres que sejam capazes de se solidarizar com os mais fracos da sociedade; que sejam sensíveis às necessidades concretas de seu povo; e, acima de tudo, gente de coragem que aceite o desafio de transformar o estado atual das coisas.

A política, por si só, só nos dará mais do mesmo. A técnica, em si mesma, só nos dará a ilusão de poder fazer sem, necessariamente, ter condições efetivas de executar. O que desejamos, como civilização que almeja dignidade, é competência que se traduz na generosa capacidade de decidir sempre pelo bem, pelo certo e pelo público.

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