Nova Friburgo, uma árvore que dá livros

sábado, 22 de dezembro de 2018

Vai-se 2018 e, em Nova Friburgo, especialmente, foi um ano de letras, palavras, textos, livros, autores, leitores. Ano de conhecimento, despojamento, fortalecimento. Nudez e entrega. Um autor se despe quando se veste em palavras. E o leitor desnuda sua alma. Rompe o invólucro quando atravessa o abismo. Ler é transpor distâncias. É perder o chão. Voar. Mergulhar. Viver outras vidas.

A Festa Literária (Flinf) fincou pé, criou raízes, estabeleceu-se com competência, negando a vaidade insana tão comum no desfile de autores quase modelos, criados pelos críticos a pedido das editoras, que circulam nas festas badaladas sob o manto da literatura. Não pensem que no mercado editorial não há construção de mitos. Eles estão aí. Modelando. Crachás no pescoço para mostrar quem são e não sobre o que escrevem. Feiras que são festas e dão baile. Festas que separam autores por castas, com acesso distinto em locais mapeados para cada um deles, de acordo com o sucesso que fazem e a quantidade de livros que vendem.

Mas na Flinf a estrela é a literatura. Maria Fernanda Macedo com a colaboração preciosa das escritoras Ana Beatriz Manier, Márcia Lobosco e Deborah Simões (olha como elas são poderosas!), fizeram da Festa Literária de Nova Friburgo, em seus três anos de existência, um lugar de resistência pela literatura.

A cidade também ganhou duas editoras, uma da escritora Ana Beatriz Manier, a In Media Res, já com diversos títulos publicados e, a outra, a Tema, da também escritora Tereza Malcher, que acaba de lançar um livro de sua autoria em parceria com a historiadora Janaína Botelho.

O Chopp com Letras, do Bar América, criado por este colunista e Déborah Simões, com o apoio de Rivana Abud, foi agraciado com o Prêmio Heloneida Studart de Cultura, indicação do deputado Wanderson Nogueira, também poeta e escritor, e entregue na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. E a literatura dessacralizada, enfim, ocupou lugares inusitados.

Também o Café Literário, projeto incrível da Márcia Lobosco – a fada madrinha dos escritores da cidade, recebeu o Prêmio Ricardo Oiticica - o melhor em práticas leitoras, de iniciativa do Instituto Interdisciplinar de Leitura da PUC-Rio. Não é o máximo? Afinal de contas literatura e leitores se alimentam no dialogismo que provocam.

Novos autores, residentes na cidade, publicaram suas obras, clubes de leitura se espalharam, concursos literários aconteceram sob os mais diversos temas e estilos, autores friburguenses foram reconhecidos, homenageados e adotados por escolas, um transbordamento de vozes por todos os cantos. Lindo de ver, lindo de ler.

É a literatura frutificando, retomando seu caminho de brotação e colheita para alimentar um povo que precisa e gosta da prática leitora, tendo em suas raízes a matriz literária. Em sua história, essa cidade bicentenária foi cantada em prosa e verso por autores dos mais importantes e nem precisamos citar nomes.

E para fechar esta coluna – sei que deveria ser sobre o Natal, mas não é- vale lembrar o projeto encantador “A árvore que dá livros”, que aconteceu na semana passada, distribuindo livros diversos arrecadados por doações. Um maravilhamento para quem ama literatura! Essa é a essência ainda não percebida pelo “poder público” (em minúsculas mesmo, ando tão desacreditado dele...): Nova Friburgo mostra mais uma face que merece ser validada como ferramenta de turismo cultural. Está aí. Para qualquer um analisar e chegar às suas conclusões. Por aqui, literatura se planta e dá frutos. Basta regar.

Feliz Natal! Com livros, é claro! O melhor presente que você pode oferecer a quem ama. Ano que vem estaremos de volta, inspirados por esta Nova Friburgo que bem poderia ser a “Cidade Leitora” do Brasil, linda e emocionante a cada nascer do dia. Ah! Feliz 2019!          

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David Massena

David Massena

David estreou nas colunas sociais ainda na década de 70. É jornalista, cerimonialista, bacharel em Direito, escritor e roteirista. Já foi ator, bailarino, e tantas coisas mais, que se tornou um atento observador e, às vezes, crítico das coisas do mundo.

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