maxiane

sexta-feira, 28 de outubro de 2016
Foto de capa

na quarta série do primário eu já tinha escolhido o nome dos meus filhos. eu teria um garoto loiro como o pai e uma menininha ruiva e sardenta. ele, gabriel neves, e ela, nathaly neves. assim, com esse ipsilone horroroso, porque eu tive filhos imaginários antes de ter bom senso gramatical. o sobrenome vinha do pai, danilo neves, o garoto loiro da terceira fila que nunca olhou pra mim, só queria saber dos peitos da maxiane.

essa futura mãe de dois filhos neves era uma outra ana, não eu. seria eu, se eu tivesse peitos grandes como os da maxiane ou se passasse menos tempo na biblioteca e mais na frente do espelho do banheiro. sempre achei fenomenais essas possibilidades frustradas, esses festivais de poderias-ter-sido. ter fase de ser professora, atriz de novela ou astronauta. eu nunca mais vi o garoto loiro da quarta série, nem sequer conheci a voz dele. e pensando bem, minha paixão, na verdade, era o macaulay culkin — e danilo neves era o mais próximo disso em terras tupiniquins. 

eu não lembro do rosto dele naquela época, minhas memórias já foram por demais corrompidas por suas fotos no facebook — porque sim, eu procurei ele lá até achar. mas lembro bem da raiva inflamada que tive de maxiane. às vezes aqueles peitos enormes, aquela cara de bruxa sufocam o meu sono de noite.

depois dos filhos não nascidos, aprendi a não planejar, a não fantasiar, a não inventar um futuro inconsequente lotado de crianças ruivas de pais desconhecidos. corrobora para minha decisão o fato de hoje eu ter lido o crachá de uma menina na farmácia: “nathaly neves”. e me convenci principalmente que maxianne salvou a filha que eu nunca tive de ter um nome escrito com ipsolone. de nome feio no mundo, basta maxiane, que tinha peitos e danilo e era cheia de encantos de bruxa mas jamais saberá fazer disso uma crônica.

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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