carnaval

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

é natal na leader magazine, mas eu queria mesmo era pular logo para o carnaval

o carnaval é a festa mais sincera do ano. não, você não verá pessoas querendo ser o que não são. a fantasia é um mero apetrecho, uma fuga do cotidiano, eu posso colocar qualquer parte do corpo de fora sem parecer desesperada por atenção. posso colocar um nariz de palhaço, um quepe de marinheiro. fantasiar é diferente de fingir. 
no natal a gente finge que é família, nas férias a gente finge que é feliz, no dia dos namorados a gente finge que não finge. a gente finge que não se importa com a distância, com a frieza do mundo, a gente finge que não espera nada de ninguém. a gente finge que gosta de uva passa, que calça 36, que não faz questão de um jantarzinho no castel.
no aniversário a gente finge que a doçura das pessoas vai se estender no resto do ano. finge porque é mais fácil, mais cômodo, menos doloroso. parece mais sadio fingir que está tudo bem porque a vida toma um rumo suportável. fingir que ama, fingir que é amado, fingir que as mágoas acabam à meia-noite, com o faustão gritando réveillon. mas fingir não é sadio, não, por isso que está todo mundo doente. é como uma metástase violenta corroendo toda uma cidade, um país. um dia, de tanto fingir sorrir, você não sabe mais o que está por baixo dessa capa de comidas requentadas e sentimentos insossos. mas no carnaval, não. ninguém finge no carnaval. aliás, é no carnaval que a gente conhece verdadeiramente as pessoas. máscara é o que elas usam o resto do ano.
fantasiar é diferente de fingir. eu posso fantasiar que vivo numa linda casa com 150 metros quadrados, com geladeiras abarrotadas, contas pagas em dia, carro na garagem, cinco cachorros com nomes dos beatles e um chamado josé. eu posso fantasiar um amor que só existe na minha imaginação. não posso fingir muito tempo que vivo feliz nessa casa grande, e nem que tem algum amor lá dentro. mas posso fingir que está tudo bem, enquanto ocorre a metástase. vou fingindo que tudo é fantasia, enquanto espero o carnaval chegar.

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Ana Blue

Blue Light

O que dizer dessa pessoa que a gente mal conhece, mas já considera pacas? Ana Blue não tem partido, não tem Tinder, é fã de Janis Joplin, parece intelectual mas tem vocação mesmo é pra comer. E divide a vida dela com você, todo sábado, no Blue Light.

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