A boca que beija pode ser a mesma que mata

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Mês passado, ao passar visita em pacientes internados num hospital da cidade, encontrei um funcionário do próprio hospital caminhando pelo corredor com ajuda de duas muletas. Parei para cumprimentar o rapaz e perguntar o que se passava com ele. Respondeu que estava sofrendo de fortes dores no quadril, do lado esquerdo, e que os exames mostravam um desgaste no colo do fêmur daquele lado, com certeza causado por uma infecção. Faltava descobrir o agente causador e de onde ele vinha. Desejei melhoras e boa sorte. Dia desses encontrei o jovem no mesmo hospital, já bem melhor, andando sem as muletas, e perguntei sobre o seu problema. Respondeu que depois de muita procura, suspeitaram que a fonte da infecção estava num dente com um abscesso na raiz. Trataram o tal dente da forma devida, o abscesso foi removido e logo as melhoras apareceram.

Achei interessante o caso deste rapaz, e pensei em fazer a coluna sobre o assunto. Lembrei também do caso de um colega médico, ortopedista, já falecido há alguns anos, que sofreu de um problema semelhante. Uma infecção no coração que acabou por fazer com que fosse encaminhado ao Incor de São Paulo, centro especializado em doenças cardíacas, onde depois de muitos exames encontraram o foco da doença, uma infecção de um dente. Tratada, o médico logo melhorou e retornou a nossa cidade, onde trabalhou por muitos anos.

Os cardiologistas já sabem de longa data que uma das grandes fontes de infecções cardíacas está na boca dos pacientes. Tanto é que, sempre que vão tratar dentes com infecção, os dentistas tomam o cuidado de prescrever antibióticos específicos, para evitar que a infecção possa atingir o coração. Recentemente, em conversa com um cirurgião dentista que faz assistência a gestantes da rede pública, ouvi do mesmo que estudos da odontologia associados a pesquisas médicas mostram com toda segurança que partos prematuros e ruptura prematura da bolsa d’água geralmente estão associados a infecções nos dentes não tratadas, que passam para o útero. Um colega friburguense, cirurgião bucomaxilo facial, me disse que é frequente atender casos de lesões pré-malignas em regiões da boca associadas a processos infecciosos não tratados com o devido cuidado e que com o passar do tempo se tornam crônicas.

Quanta gente deve estar hoje em nossa cidade, sofrendo de algum processo doloroso e infeccioso que pode estar sendo provocado por uma infecção na boca? Por isso, tomem cuidado com seus dentes e sua boca. 

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Dr. Norberto Louback Rocha

Dr. Norberto Louback Rocha

A Saúde da Mulher

O ginecologista e obstetra Norberto Rocha assina a coluna A Saúde da Mulher, publicada às terças no A VOZ DA SERRA. Nela, o médico trabalha principalmente a cultura de prevenção contra os males que atingem as mulheres.

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