Carlos Emerson Junior
Meu sogro, talvez influenciado pelos recém-encerrados Jogos Olímpicos de Londres, esqueceu que está com 80 e muitos anos e resolveu saltar sobre um balde de água que a faxineira esqueceu na porta da cozinha do seu apartamento. O resultado da proeza foi um tornozelo fraturado, quinze dias de molho com um trambolho na perna jocosamente apelidado de robocop e, é claro, sem direito a uma medalha qualquer.
Um grande amigo nosso, médico e professor de primeira linha, gostava de alertar, com a voz grave e a expressão bem séria que, o que mata velho mesmo é um bom tombo. Um belo dia ele mesmo, também idoso, escorregou na escada de casa, quebrou uma clavícula e lá se foi para o hospital. Não é que ele sabia o que estava falando?
Minha mãe, já com quase noventa anos, saiu do boxe após o banho, ignorou o piso molhado e se esborrachou no chão! Para sua sorte, minha irmã estava por lá e correu para ajudar. Incrivelmente ela não fraturou um ossinho sequer e as sequelas foram alguns hematomas e a dignidade profundamente ferida. Imagina se a velha senhora ia aceitar que tinha caído porque não usou o tapete de borracha do banheiro?
Eu também não posso falar nada: após terminar um trabalho no laptop de uma de minhas filhas, resolvi guardar o aparelho. Como a cachorra da casa estava dormindo no corredor, fui tateando no escuro para não acordá-la. A idiotice não deu em outra: pisei em um dos brinquedos da peluda, perdi o equilíbrio e cai de cara no chão. Não me machuquei e nem quebrei o computador, mas tive que aturar dores no corpo e gozações por alguns dias. E olha que eu ainda nem era oficialmente um idoso!
Pois é, casos como esses se sucedem em todos os lugares e todo mundo tem uma ou várias histórias para contar, uma grande parte com um final bem mais triste.
Segundo o Sistema Único de Saúde (SUS), 75% dos acidentes sofridos por pessoas com mais de 65 anos acontecem dentro de casa, sendo as quedas as mais comuns. De fato, 30% dos idosos caem pelo menos uma vez por ano e 75% dentro de sua própria casa. Infelizmente, as quedas também são as maiores causadoras de óbitos, chegando a 70% na faixa etária acima de 70 anos. É importante frisar que 46% das fraturas provocadas por esse tombos acontecem durante a noite, no trajeto quarto-banheiro.
As causas dessas quedas são inúmeras, já que à medida que a idade avança, perdemos nossos reflexos e agilidade, mas em alguns casos, a imprudência também faz suas vítimas. Meu sogrão, logo depois de seu tombo olímpico, cismou que a poltrona do seu computador era mais adequada que a cadeira de rodas recomendada, se empolgou e... caiu novamente, felizmente, desta vez, sem mais nenhum dano físico!
O renomado Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) publicou o artigo “Queda de Idosos” (que pode ser lido na internet, no endereço http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/184queda_idosos.html), abordando o assunto de forma didática e deixando uma série de sugestões e cuidados para minimizar ou até mesmo evitar os tombos.
Confira algumas:
No quarto:
- Coloque uma lâmpada, um telefone e uma lanterna perto de sua cama;
- Durma em uma cama na qual você consiga subir e descer facilmente (cerca de 55 a 65 cm);
- Os armários devem ter portas leves e maçanetas grandes para facilitar a abertura, assim como iluminação interna para facilitar a localização dos pertences;
- Dentro do seu armário, arrume as roupas em lugares de fácil acesso, de preferência evitando os locais mais altos;
- Instale algum tipo de iluminação ao longo do caminho da sua cama ao banheiro;
- Não deixe o chão do seu quarto bagunçado.
Na sala e corredor:
- Organize os móveis de maneira que você tenha um caminho livre para passar sem ter que ficar desviando muito;
- Mantenha as mesas de centro, porta revistas, descansos de pé e plantas fora da zona de tráfego;
- Instale interruptores de luz na entrada das dependências de maneira que você não tenha que andar no escuro até que consiga ligar a luz. Interruptores que brilham no escuro podem servir de auxílio;
- Ande somente em corredores, escadas e salas bem-iluminadas;
- Mantenha fios de telefone, elétricos e de ampliação fora das áreas de trânsito, mas nunca debaixo de tapetes;
- Coloque nas áreas livres tapetes com as duas faces adesivas ou com a parte de baixo não deslizante.
Na cozinha:
- Limpe imediatamente qualquer líquido, gordura ou comida que tenham sido derrubados no chão;
- Armazene a comida, a louça e demais acessórios culinários em locais de fácil alcance;
- As estantes devem estar bem presas à parede e ao chão para permitir o apoio do idoso quando necessário;
- Não suba em cadeiras ou caixas para alcançar os armários que estão no alto;
- A bancada da pia deve ter de 80 a 90 cm do chão para permitir uma posição mais confortável ao se trabalhar.
Na escada:
- Não deixe malas, caixas ou qualquer tipo de bagunça nos degraus;
- Interruptores de luz devem estar instalados tanto na parte inferior quanto na parte superior da escada. Outra opção é instalar detectores de movimento que fornecerão iluminação automaticamente;
- A iluminação deverá permitir a visualização desde o princípio da escada até o seu fim, assim como as áreas de desembarque;
- Remova os tapetes que estejam no início ou fim da escada;
- Coloque tiras adesivas antiderrapantes em cada borda dos degraus;
- Instale corrimãos por toda a extensão da escada e em ambos os lados. Eles devem estar em uma altura de 76 cm acima da escada.
No banheiro:
- Coloque um tapete antiderrapante ao lado da banheira ou do box para sua segurança na entrada e saída;
- Instale na parede da banheira ou do box um suporte para sabonete líquido;
- Instale barras de apoio nas paredes do seu banheiro;
- Mantenha algum tipo de iluminação durante as noites;
- Use dentro da banheira ou no chão do box tiras antiderrapantes;
- Ao tomar banho, utilize uma cadeira de plástico firme com cerca de 40 cm, caso não consiga se abaixar até o chão ou se sinta instável.
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Já estava colocando o ponto final na crônica quando minha irmã telefonou para contar que a mãe de uma amiga, uma senhorinha simpática e independente, foi atender o interfone do apartamento, se enroscou com o cachorrinho de estimação e caiu no chão, fraturando o fêmur. Como diziam antigamente nos filmes de suspense, o perigo está sempre à espreita e vem de onde menos se espera.
Como prevenção não custa nada, que tal dar uma checada na sua casa? A turma da terceira idade agradece.
(*) carlosemersonjr@gmail.com
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