Telhado da Fábrica Ypu desaba parcialmente

Ainda sem destino definido, prédio que foi símbolo de pujança econômica se deteriora devido ao abandono e à ação do tempo
terça-feira, 20 de outubro de 2015
por Flávia Namen
Além da parte do forro que caiu na semana passada, o outrora complexo industrial coleciona problemas que oferecem risco à comunidade (Foto:
Além da parte do forro que caiu na semana passada, o outrora complexo industrial coleciona problemas que oferecem risco à comunidade (Foto:

Um dos símbolos da época áurea do polo têxtil friburguense, o prédio da Fábrica Ypu hoje é o retrato da decadência econômica e do abandono. Com futuro incerto devido a questões judiciais, a construção vem se deteriorando pelo abandono e a ação do tempo. Recentemente, parte do telhado desabou evidenciando a falta de conservação de um imóvel que já foi orgulho para gerações de friburguenses, além de referência para turistas que visitavam Nova Friburgo.

O rombo em parte do teto ocorreu na semana passada, após uma ventania. “O forro caiu na quarta ou quinta-feira passada mas não foi por causa do vento, mas pela falta de conservação. A Defesa Civil precisa fazer uma vistoria naquele prédio, que está cheio de problemas. As caixas d’água estão todas sujas de fezes de pombo e são uma ameaça à saúde pública. Outras partes do telhado também podem cair a qualquer momento”, disse o ex-funcionário da Ypu, Gerson da Conceição Siqueira, mais conhecido como Pantera.

O fato trouxe danos também para a imagem do município. Isso porque a antiga fábrica está situada na principal porta de entrada da cidade, às margens da RJ-116, onde milhares de veículos e coletivos circulam diariamente. A precariedade do imóvel, agora também sem parte do telhado, está conferindo um péssimo aspecto à principal porta de entrada do município. “Enquanto muitas cidades têm um portal com boas-vindas aos visitantes, nós temos uma fábrica em ruínas. Isso é péssimo para Friburgo”, disse um morador da região que preferiu não se identificar.

Para alguns leitores que entraram em contato com A VOZ DA SERRA, a demora na definição sobre o destino do imóvel seria um dos motivos que vêm contribuindo com sua deterioração a olhos vistos. Em setembro passado, o prédio foi novamente a leilão pela Justiça do Trabalho de Nova Friburgo. O lance mínimo era de R$ 15.161.943,15 mas não houve interessados em adquirir o imóvel, avaliado em R$ R$ 30.323.886,30. A Prefeitura Municipal de Nova Friburgo fez duas tentativas de arremate, e ainda aguarda o julgamento do recurso relativo ao segundo leilão, anulado em 31 de outubro do ano passado pela Justiça Federal.

Segundo Pantera, o atual estado de abandono do imóvel é um fato lamentável. “Fico triste de ver o que restou da Ypu. Entrei lá em 2 de outubro de 1972 como faxineiro, quando a fábrica tinha 3.800 funcionários. Ocupei outros cargos até chegar a contramestre de produção. Trabalhei na fábrica até os anos 90 e acabei sendo demitido por telegrama. Lamento a situação em que se encontra a Ypu e acho que isso se deve ao descaso da Justiça”, afirma ele.

 

Uma indústria que era referência na produção de artefatos de couro

 

A história da Fábrica Ypu está entrelaçada ao desenvolvimento econômico de Nova Friburgo e  tem raízes no início do século XX, quando um grupo de empreendedores alemães instalou diversas indústrias de tecelagem na cidade.

De propriedade de Maximillian Falck, a fábrica prosperou rapidamente. Tendo iniciado suas atividades em 1912, com apenas 12 funcionários distribuídos em 14 teares para a produção de passamanaria, em apenas cinco anos já contava com 155 empregados. E a partir de 1920 cresceria ainda mais, através da diversificação de suas atividades com tecelagem, tinturaria, engomação, tipografia, cartonagem, mecânica e carpintaria.

Famosa pela qualidade de suas bolsas e cintos de couro, e mais tarde também dos calçados da marca Monterrey, a Ypu foi uma das maiores e mais importantes fábricas de artefatos de couro e metais do estado ao longo da maior parte do século XX.

Próximo à virada do milênio, no entanto, a corporação, gerenciada por Willian Khoury, do grupo Sayonara/Poesi, tornou-se uma das campeãs de ações na Justiça do Trabalho de Nova Friburgo. Desde então, o complexo da Ypu foi perdendo força e ficou reduzido a uma produção em pequena escala, mantida por  uma associação de ex- funcionários, a Nova Ypu.

O outrora importante prédio, localizado às margens da RJ-116 e com 42 mil metros de área construída, hoje tem apenas dez por cento de seu imenso patrimônio ocupado. No local funciona um restaurante, um buffet e algumas empresas em galpões alugados.

Foto da galeria
Uma das referências da época áurea do polo têxtil friburguense, o prédio da fábrica está situado às margens da RJ-116 e confere um aspecto de decadência à entrada da cidade
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TAGS: Fábrica Ypu
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