Dezessete mil moradores divididos em 22 loteamentos. Os números dimensionam o tamanho e a importância de São Geraldo, localizado a aproximadamente 12 km do centro da cidade, com acesso pela RJ-130 (Nova Friburgo–Teresópolis). Cada localidade do segundo bairro mais populoso de Nova Friburgo — atrás apenas de Olaria — sofre com problemas específicos, mas a solução de alguns deles poderia beneficiar toda a população daquela região.
A ponte de acesso ao bairro, por exemplo, existe há 43 anos e nunca passou por uma grande reforma. O pequeno e malconservado tabuleiro permite a passagem de apenas um veículo por vez e, por isso, o fluxo intenso representa um risco constante aos motoristas e pedestres. "Em 2007 uma barreira caiu naquelas proximidades e matou 12 pessoas. Em 2011 tivemos caminhões, troncos de árvores e outros objetos que atingiram a ponte, o que pode ter abalado a estrutura”, lembra José Ricardo, presidente da associação de moradores.
As estradas até o ponto final são precárias e as calçadas irregulares. De acordo com os moradores, a execução de obras nas tubulações que descem da estação de Rio Grande de Cima resultou no afundamento de trechos em algumas ruas, como a Ricardo dos Santos.
Escola interditada
A Rua Dr. Feliciano Benedito da Costa, a principal do bairro, também registra o problema. Durante o percurso de aproximadamente 2 km pela via, é possível identificar as principais reivindicações da população local.
A escola Nair de Araújo Rodrigues tem 490 alunos, mas as atividades estão paralisadas desde 22 de novembro. A Defesa Civil interditou duas salas por conta do risco de inundações. "Prometeram uma vistoria em duas semanas, mas ainda não apareceu ninguém. Os pais estão preocupados com o período regular de aulas do próximo ano.”
Os riscos de alagamento são por causa do pequeno córrego ao lado da escola, que corre a céu aberto e recebe todo o despejo da região central do bairro e do loteamento Nova Esperança. Chuvas moderadas já provocam o transbordamento do córrego. A situação piorou depois da tragédia de 2011, quando foi feito um aterramento no local, e os moradores temem as consequências de um possível entupimento das galerias — as cerca de 30 residências da Rua Queluz, no loteamento Nilo Martins, poderiam ser atingidas.
"A prefeitura vai reformar a escola pela terceira vez e não vai resolver esse problema. Não vai adiantar muita coisa, pois os riscos de uma nova inundação são iminentes. Se uma manilha estourar, pode acontecer um desastre no Nilo Martins”, alerta José Ricardo.
Sem obras nas encostas...
Boa parte dos loteamentos de São Geraldo está localizada em partes altas e os moradores vivem sob riscos permanentes de deslizamentos. Em 2011 uma fenda se abriu na estrada para Rio Grande de Cima e desde então as cerca de cem casas nas proximidades estão ameaçadas. "Não tivemos nenhuma obra no nosso bairro. O prefeito garante que elas terão início, mas não sabemos quando. Existe uma urgência, até porque, as chuvas estão começando.”
A pressa é justificada por outras necessidades em pontos variados. Nas ruas José Gonçalves Jardim e Salvador Hegdorne, ambas no Loteamento Pousada do Gordo, pedras deslizaram na tragédia, estacionaram no meio do caminho, mas permanecem soltas, tomadas pelo mato que apenas esconde o perigo iminente. Na Carlos Kondack, metade da estrada desapareceu e apenas um veículo pode trafegar por vez. Diversos acidentes foram registrados no local, que necessita de obras para conter as encostas.
Em meio a tantos problemas, os serviços de coleta de lixo, iluminação e água são elogiados. Por outro lado, os moradores alertam para a necessidade de ronda policial regular, especialmente no ponto final do Vale da Montanha. "Algumas crianças chegam a ser aliciadas na porta da escola”, relata um morador, que preferiu não se identificar. Recentemente a associação de moradores recolheu assinaturas para solicitar a instalação de um posto policial no bairro, e ainda aguarda a resposta.
A saúde também deixa a desejar, e a quantidade de médicos no único posto de São Geraldo é insuficiente para atender à demanda. Recentemente as duas ambulâncias que serviam ao posto foram levadas para a limpeza e dedetização, e não retornaram. Ainda assim, José Ricardo mantém as esperanças de dias melhores para o bairro, embora reconheça o tamanho do desafio.
"São Geraldo é um bairro ‘dormitório’ em sua grande maioria. Por isso é difícil mobilizar os moradores, que saem cedo para trabalhar e retornam apenas à noite para suas casas. Contudo, não podemos desistir, vamos continuar lutando.”
Linhas de ônibus: quantidade é boa, mas ajustes são necessários
O número de loteamentos que compõem o bairro de São Geraldo teoricamente facilita o serviço de transportes para quem mora nas regiões centrais. De fato, diversas linhas atendem a localidade, mas a população dos loteamentos mais distantes enfrenta alguns transtornos.
A linha para o Vale da Montanha é um dos alvos das reclamações. O veículo chega ao ponto final de São Geraldo lotado, e alguns moradores da localidade, composta por mais de 300 casas, não conseguem o devido espaço. "Nós sugerimos à empresa uma linha direta para o Vale da Montanha, pois quem realmente precisa do ônibus para chegar lá em cima não consegue ter acesso.”
A empresa responsável pelo transporte alterou alguns horários da linha, mas o problema não foi resolvido. A associação de moradores tenta marcar uma nova reunião para discutir o problema, mas ainda não obteve sucesso. "Os horários são confusos, mas nós entendemos que o trânsito complicado do Centro interfere”, reconhece José Ricardo.
Prefeitura e Águas de Nova Friburgo respondem
Em contato com a reportagem de A VOZ DA SERRA, a prefeitura de Nova Friburgo afirmou que os procedimentos administrativos e burocráticos para o início das obras da Escola Municipal Nair de Araújo Rodrigues estão sendo finalizados. A respeito do córrego, o município afirma que o serviço de dragagem foi feito em alguns pontos, e a execução em outros trechos está em análise, enquanto as obras de contenção estão a cargo do governo do estado.
Sobre a Unidade Básica de São Geraldo, a prefeitura garante o bom funcionamento com atendimentos clínico, dermatológico, gastroenterologia, psicologia, nutrição, odontologia, Grupo de Tabagismo, Hiperdia, dentre outras atividades, e afirma que o serviço da ambulância é prestado pelo 192, ou através da Central de Ambulâncias do Hospital Municipal Raul Sertã.
Ainda de acordo com o governo municipal, a ponte de acesso ao bairro será duplicada. A obra consta no escopo de serviços do Inea, e a prefeitura trabalha para antecipar a execução do serviço.
Com relação às irregularidades na Rua Dr. Feliciano Benedito da Costa, à altura da quadra de esportes, a Águas de Nova Friburgo informa que instalou uma rede para o contêiner da Defesa Civil. A compactação foi feita, e resta a pavimentação com os paralelepípedos, que deverá ter início neste fim de semana.
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