Raio X do Turismo: Jardim do Nêgo é um ateliê a céu aberto

Sem auxílio da prefeitura, local recém-revitalizado oferece ótima estrutura para friburguenses e visitantes, mostra mais uma reportagem da série
sábado, 26 de agosto de 2017
por Dayane Emrich
As maravilhosas esculturais naturais de Nêgo (Fotos: Henrique Pinheiro)
As maravilhosas esculturais naturais de Nêgo (Fotos: Henrique Pinheiro)

Na série dedicada aos pontos turísticos de Nova Friburgo, A VOZ DA SERRA já passou pelo Cão Sentado, Teleférico e Véu das Noivas. Desta vez, a equipe de reportagem foi até o Jardim do Nêgo, em Campo do Coelho. Além das belas esculturas, a estrutura do espaço e o recente inaugurado museu, o trajeto, preços e outras peculiaridades do destino foram analisadas pela repórter e capturados pelas lentes da câmera do fotógrafo Henrique Pinheiro.

Situado em uma área de 30 mil metros quadrados, o espaço atualmente conta com oito conjuntos de monumentos em barro e mais de 20 esculturas. Entre elas: bebê, sapo, sereias, uma família, tartarugas, elefantes, cobra, homem e mulheres, todos gigantes. As peças são  modeladas e após ganharem o formato desejado recebem uma camada de lama preta como acabamento. “Depois de feito eu cubro com um plástico e, ao longo dos meses, por conta do clima, já que neste terreno nunca pega sol, uma camada de musgo se forma, cobrindo as obras e, ajudando a evitar a erosão”, explicou o artista Geraldo Simplício, mais conhecido como Nêgo.

A principal escultura criada por ele foi finalizada em 1993, após três anos de trabalho, e é chamada “Presépio de Jesus”. Além da manjedoura e de personagens bíblicos, o monumento conta com a figura de uma pastora gigante, cheia de expressão e beleza, características que chamam a atenção dos visitantes. “É um trabalho novo e encantador para mim, algo digno de ser visto e conhecido pelo mundo. As noções de anatomia e proporção foram o que mais me chamaram a atenção”, disse Jaime Gilberto Rosa, de 66 anos, que veio de Ribeirão Preto, interior do estado de São Paulo, para passar as férias com a família pela primeira vez na Serra fluminense. “Estou com minhas filhas, genros e netos e estamos gostando muito do passeio”, contou.

A receptividade do Nêgo, a beleza dos trabalhos e a estrutura do local foram elogiadas pela publicitária Vivian Schtscherbyna, de 37 anos. Carioca, ela está em Friburgo pela segunda vez e depois de 10 anos da primeira visita trouxe o marido e a filha para aproveitar o inverno friburguense e desfrutar das belezas da cidade. “Estive aqui quando mais nova e vi o Nêgo que me contou que algumas obras foram perdidas durante os deslizamentos de 2011, o que é uma pena. Mas tudo continua muito bonito. O local passou por algumas mudanças e está ainda melhor”, afirmou ela acrescentando: “É um passeio que eu indico para quem vier à Friburgo”.

Além das esculturas, o Jardim do Nêgo, desde julho do ano passado, conta com um pequeno museu, onde podem ser encontradas diversas obras de madeira e imagens que retratam a história de Geraldo e o passo a passo para a construção de algumas das esculturas, desde a criação, evolução a alterações dos projetos, muitas vezes sujeitos aos caprichos da natureza. O novo espaço abriga também obras de parentes igualmente talentosos e funciona como uma sala de estar, onde Nêgo recebe os visitantes e de onde podem ser vistas algumas das majestosas montanhas que compõem a beleza da cidade.

A limpeza dos banheiros, capina e organização do espaço são um ponto a mais para o Jardim do Nêgo. Os corrimões, as placas e avisos, as grades de proteção e os bancos para quem desejar ficar um pouco mais de tempo no local também são fatores positivos. Já entre os pontos negativos, pode-se destacar a falta de placas indicativas ao longo do trajeto, isto é, que ajudem a localizar o jardim e que são de responsabilidade da prefeitura. Do Centro até o local, nossa equipe de reportagem observou apenas duas placas, uma no centro de Campo do Coelho e outra já na entrada da rua onde está situado o jardim.

O ponto turístico também não conta com um estacionamento próprio. Mas, como fica situado em um rua sem saída, os visitantes podem deixar o carro no local. No quesito alimentação, não existem restaurantes ou lanchonetes próximo ao Jardim do Nêgo, ou seja, quem desejar comprar um petisco ou mesmo uma água terá que ir até o centro do distrito.  

O Jardim do Nêgo fica situado na RJ-130 (Estrada Nova Friburgo-Teresópolis) em Campo do Coelho, km 55. A entrada custa R$ 15 e o local fica aberto todos os dias da semana. Mais informações pelo telefone (22) 2543-2253.

O artista

Aos 74 anos de idade, Nêgo conta que chegou a Nova Friburgo em 1969.  Nascido no Ceará, ele veio naquele ano em excursão ao Rio de Janeiro, para participar do programa do Chacrinha e mostrar seu trabalho com esculturas de madeira. A friburguense Maria Cecília Falck o viu na TV, gostou das peças e convidou-o para morar aqui, onde permanece até hoje, encantando a todos com sua arte.

“Nosso corpo é como uma gaiola, estamos presos nele. Já a arte é o excesso de energia que transborda do corpo. Energia que eu tenho de sobra. Tudo está na minha cabeça, minha usina, o começo de qualquer coisa, onde surgem as descobertas”, disse o Nêgo.  

 

  • A expressividade das obras chamam atenção dos visitantes (Foto: Henrique Pinheiro)

    A expressividade das obras chamam atenção dos visitantes (Foto: Henrique Pinheiro)

  • A expressividade das obras chamam atenção dos visitantes (Foto: Henrique Pinheiro)

    A expressividade das obras chamam atenção dos visitantes (Foto: Henrique Pinheiro)

  •  Inaugurado em julho do ano passado, pequeno museu possui obras de madeira e imagens que retratam a história de Nêgo (Foto: Henrique Pinheiro)

    Inaugurado em julho do ano passado, pequeno museu possui obras de madeira e imagens que retratam a história de Nêgo (Foto: Henrique Pinheiro)

  • Escultura do museu (Foto: Henrique Pinheiro)

    Escultura do museu (Foto: Henrique Pinheiro)

  •  “O corpo é como uma gaiola e a arte é excesso de energia”, explica Nêgo (Foto: Henrique Pinheiro)

    “O corpo é como uma gaiola e a arte é excesso de energia”, explica Nêgo (Foto: Henrique Pinheiro)

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TAGS: Turismo | Meio Ambiente
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