Qualidade de vida ameaçada com a construção de prédios

sexta-feira, 03 de janeiro de 2014
por Henrique Amorim
Qualidade de vida ameaçada  com a construção de prédios
Qualidade de vida ameaçada com a construção de prédios

Bem próximo do centro da cidade e charmoso por si só, com belas construções, todas cercadas de muito verde, o Parque São Clemente mais se assemelha a um grande condomínio com ruas largas, pouco trânsito e rara circulação de pessoas durante o dia, exceto aquelas que optam por caminhadas aprazíveis por suas vias, a maioria denominadas alamedas. Mas, todo esse bucolismo e tranquilidade, reinantes há décadas, podem estar ameaçados. Pelo menos é o que externam alguns dos seus moradores, devido à especulação imobiliária ascendente no município, principalmente no bairro que escapou ileso das chuvas de 2011. A chegada de novos vizinhos até que não assusta, pois ainda há muitos lotes disponíveis no Parque São Clemente, vários deles sem grandes aclives e todos com a média de mil metros quadrados. 

A preocupação, no entanto, principalmente de alguns que residem na Alameda Barão do Serro Largo e vias adjacentes, é com o surgimento de edifícios residenciais, até então inexistentes por lá. Para uma moradora que preferiu não se identificar, o Parque São Clemente é caracterizado como um condomínio exclusivo de casas e, inclusive, teria vigorado à época de sua urbanização uma convenção que vedava a construção de prédios. No entanto, em um lote da Alameda Barão do Serro Largo, com dezenas de árvores frondosas que servem de habitat para inúmeros pássaros, jacus e até corujas, em breve deverá surgir um prédio residencial de quatro pavimentos, com garagem e dois apartamentos por andar. 

No local, até um abrigo de madeira com cobertura para guardar ferramentas e materiais de construção já foi erguido há algumas semanas. Não se sabe quando a obra deverá começar, pois sequer placas informativas da construtora e engenheiros responsáveis pela obra foram afixadas no terreno. Alguns vizinhos temem que o surgimento do prédio, além da descaracterização do bairro, comprometa a qualidade de vida com a derrubada inevitável das árvores, perda da privacidade das famílias que residem próximo e a consequente maior movimentação nas ruas de acesso. 

"Não somos contra a chegada de novos moradores e entendemos que Nova Friburgo está crescendo e o Parque São Clemente é uma área de expansão, por ainda possuir muitos lotes disponíveis, mas era necessário que essa característica de tranquilidade e de certa padronização das construções fosse mantida. Se construírem um prédio, outros certamente virão — e aí não terá como evitar o crescimento desordenado. Chama a atenção o fato de a prefeitura ter autorizado a construção de prédios aqui. As quedas de energia são constantes. Com prédios, se a rede não for alimentada, sofreremos apagões”, observa outra moradora do bairro, que há 20 anos trocou o estresse da Zona Sul carioca pela tranquilidade do Parque São Clemente. "Vim morar aqui justamente para poder abrir a janela e deparar-me com a exuberância da natureza, e não com outros prédios”, completa. 

A VOZ DA SERRA contatou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente para comunicar a apreensão dos moradores, mas não conseguiu resposta até a tarde de ontem, 23.   

Descarte de lixo, buracos e falta de capina não são privilégios de bairros populares

Embora as boas construções com imóveis dotados de projetos arquitetônicos que privilegiam a harmonia entre casas e natureza, uma breve caminhada pelas alamedas do Parque São Clemente revela mazelas não apenas comuns a localidades periféricas ou populares. Em muitas vias do bairro a pavimentação de asfalto está bastante desgastada, gerando inúmeros buracos. O mesmo ocorre nas ruas com calçamento de paralelepípedos. Em alguns trechos, os motoristas têm que desviar para evitar acidentes. 

Em outros pontos, é a falta de capina que chama a atenção. Moradores revelam que recentemente a prefeitura promoveu uma roçada nas ruas, mas as chuvas favoreceram novamente o crescimento do mato. A capina até que não é uma queixa recorrente no bairro, pois muitas calçadas são gramadas pelos próprios moradores, que ao promoverem a manutenção, também capinam parte das ruas junto aos meio-fios em frente aos seus imóveis. Em algumas ruas do Parque São Clemente, é possível também flagrar o descarte de pneus e lixo, como na Avenida Marquês de Maricá, em frente ao estádio do Friburguense, onde uma máquina de lavar foi abandonada na calçada essa semana. Uma cena que não combina com nenhuma paisagem, seja urbana, rural ou qualquer outra onde moram pessoas. 

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