Produção de orgânicos e uso de plantas e flores ganham espaço na mesa do brasileiro

Na zona rural é comum o consumo de flores
quarta-feira, 01 de fevereiro de 2017
por Ana Borges
Tem sido cada vez mais comum a utilização de flores em saladas e outros pratos
Tem sido cada vez mais comum a utilização de flores em saladas e outros pratos

“Aqui na roça a gente come flor e planta nas saladas há muito tempo, desde que era criança. É uma coisa normal, todo mundo por aqui usa. A gente conhece e sabe pra que servem, inclusive tratamos de muitas doenças também fazendo chá, muito usado, tanto de ervas, como de plantas e flores também. Isso não é novidade pra gente aqui, não”, diz Hermínia Ouverney Ferreira, 58 anos, caseira de sítio em Macaé de Cima, comentando a moda que vem tomando conta das mesas nas cidades.

Tem sido cada vez mais comum a utilização de flores na decoração, cultivadas com essa finalidade. Mas, ultimamente, os chefs estão adequando as propriedades de algumas flores para incluírem em seus pratos, não apenas como decoração mas para serem ingeridas também. Como o chef friburguense Chico Figueiredo, que há anos decora e dispõe de flores em sua mesa, encantando seus convidados para almoços e jantares.

“Faz tempo aprendi nos cursos que fiz que há flores comestíveis e que seu uso vai além da decoração. No último jantar que fiz aqui em casa, por exemplo, usei a capuchinha, que é linda e perfumada, e tem um sabor incrível. Mas é preciso ter cuidado, porque as que usamos  na culinária não são as que compramos em floricultura. Elas são cultivadas por produtores especializados, orgânicos, sem uso de agrotóxico e tratamentos químicos. Agora no verão, as saladas com essas flores são perfeitas. Por exemplo, tenho feito saladas bem tropicais como a de risoni, que leva tomate cereja, tomate seco, manjericão, mussarela de búfala e folhas de capuchinha”, recomendou o chef, passando a sua receita especial.

Orgânicos e o cultivo de flores comestíveis

A produção orgânica vem ocupando cada vez mais espaço na vida das pessoas, nunca esteve em tanta evidência. Os produtos são encontrados nas prateleiras de supermercados, nos restaurantes, nas feiras. São frutas, hortaliças, grãos, derivados do leite, e flores, sem substâncias que coloquem em risco a saúde do homem do campo e dos consumidores.

Em um terreno a 1.800 metros acima do nível do mar, com água puríssima, solo perfeito e barreiras naturais de proteção, o casal Jovelina Fonseca e Luiz Paulo criou o Sítio Cultivar, há 20 anos, com seis hectares de plantio. Entre particulares e comerciantes, são fornecedores regulares de hortaliças naturais para todo o município e arredores.

A empresária Cristina Lobosco, uma das clientes, elogia: “Recebo semanalmente uma cesta com frutas e legumes do Cultivar e junto, dependendo da época, vem amor-perfeito, capuchinha e outras. Já é tradição dos produtores orgânicos que entregam em casa”, contou.

Friburguense é um dos principais estudiosos de plantas do país

Pipoca da semente e geleia da flor de vitória-régia? De uma das maiores plantas aquáticas do mundo, que é o símbolo da Amazônia, pode-se comer a flor, as sementes, os caules subterrâneos e o talo. De acordo com o professor do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), o biólogo friburguense Valdely Kinupp*, a vitória-régia (pertencente à família Nymphaeceae) é uma hortaliça que poderia ser produzida na Amazônia.

“A vitória-régia é a hortaliça mais emblemática da região. Não é consumida pela população, mas é uma delícia”, revela Kinupp, pesquisador e entusiasta das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). “O problema é que as pessoas só vão à feira para comprar tomate, pepino, pimentão, cebola, dentre outras”, diz o professor, autor juntamente com Harri Lorenzi do livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil, que traz 1.053 receitas ilustradas. Editado em 2014, já foram comercializados cerca de 20 mil exemplares.

Segundo ele, o assunto é muito interessante e há uma demanda, não só na Amazônia, mas no Brasil inteiro. “Temos 516 anos de conquista e o Brasil não come sua biodiversidade. Por outro lado, nos Estados Unidos já tem supermercado que vende taioba importada de Belo Horizonte”, destaca o professor.

Para Valdely Kinupp, isso acontece porque ninguém, até agora, trouxe para um processo de manejo adequado, por exemplo, “uma castanha-de-galinha, que é uma PANC e é uma castanha maravilhosa que se pode fazer, por exemplo, farinha, leite, queijo e bolo”.

*Doutor em Fitotecnia e Horticultura, Kinupp é considerado um dos principais estudiosos de plantas do país, e referência para a culinária brasileira. É destaque em congressos nacionais e internacionais de gastronomia e em programas culinários na televisão.

(Fonte: Portal Amazônia)

 

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