Procon investiga possível formação de cartel entre distribuidoras de gás

Consumidor friburguense paga o botijão mais caro do estado, de acordo com o site da ANP
quarta-feira, 16 de agosto de 2017
por Guilherme Alt
Procon investiga possível formação de cartel entre distribuidoras de gás

O Programa de Proteção e Defesa do Consumidor de Nova Friburgo (Procon-NF) recebeu na semana passada um abaixo-assinado com 731 assinaturas de vários bairros da cidade que protestam e contestam o valor cobrado pelo gás liquefeito de petróleo (GLP) - ou, como é mais conhecido, gás de cozinha. A suspeita é de que o valor cobrado (praticamente o mesmo) por todas as 15 distribuidoras da cidade seja resultado de uma formação de cartel.

A VOZ DA SERRA pesquisou preços em seis distribuidoras da cidade. Constatamos que os preços dos gás de cozinha têm pouca variação de preço. Quatro empresas cobram R$ 70 pelo botijão e duas empresas cobram R$ 72. O coordenador do Procon-NF, Dr. André Abicalil, afirmou que já notificou as empresas para obter informações sobre os motivos de cobrarem valores parecidos. “Em duas semanas eu devo receber as planilhas de gastos e os porquês de todas elas cobrarem esse valor.”

A suspeita, de acordo com Abicalil, é a de que as empresas estejam fazendo um esquema de cartel, que é um acordo de cooperação entre empresas que buscam manter (entre elas) a cota de produção do mercado, determinando os preços e limitando a concorrência. “Existe uma chance de se ter essa cartelização por conta do valor cobrado pelo botijão. A variação é muito pouca e quase todas cobram o mesmo preço”, explicou o coordenador do Procon-NF.

Em uma rápida pesquisa feita no site da Agência Nacional de Petróleo (ANP), é possível constatar que Nova Friburgo é a cidade com o valor mais caro de botijão de gás de cozinha. Em média, em Nova Friburgo, de acordo com o site do órgão, o botijão de gás custa R$ 65; o município com preço mais barato é o de Três Rios, R$ 42,50. Outra curiosidade é a margem de lucro das empresas. Em Nova Friburgo as distribuidoras compram o botijão por R$ 42,50 (mesmo valor repassado ao consumidor em Três Rios). O gás comprado pelas empresas e revendido por R$ 65 gera um lucro de R$ 22,50 - valores muito superiores, por exemplo, aos da capital do estado. No Rio de Janeiro, o botijão de gás é comprado pela distribuidora no valor de R$ 38,11 e é vendido a R$ 63,27, uma margem de lucro de R$ 25,16. Todos os valores pesquisados no site da ANP foram atualizados na última segunda-feira, 14.

O alto custo do botijão de gás motivou uma moradora de Nova Friburgo (que preferiu não se identificar) a realizar o abaixo-assinado a fim de cobrar respostas sobre a cidade ter o maior preço do estado. Foram cerca de dois meses para recolher 731 assinaturas. Segundo a moradora, “é preciso acabar com essa cobrança abusiva. Pagamos caro e não temos opções de concorrência pois tudo está o mesmo preço”.

Outros moradores de cidades próximas a Nova Friburgo, como Cantagalo, Bom Jardim e Cordeiro, afirmaram que por lá o valor cobrado é o mesmo de Friburgo: entre R$ 65 e R$ 72. A confeiteira Jane de Almeida trabalha diariamente fazendo uso do gás de cozinha. Segundo a confeiteira, são pelo menos dois botijões por mês para atender a demanda de pedidos, o que gera um custo de cerca de R$ 150. “Eu cozinho todos dias, faço bolos, doces, então o gás é primordial para o meu trabalho. Hoje mesmo [ontem,15] eu comprei um botijão por R$ 73. Está muito caro. Eu tenho pagado acima de R$ 70, esse foi o mais caro, até agora”, reclamou a confeiteira.

A veterinária Carolina Faria, por conta do nascimento da sua primeira filha, está de licença-maternidade e tem passado mais tempo dentro de casa. Ela e o marido, apesar de cozinharem diariamente, antes de terem o neném, utilizavam um botijão de gás a cada dois meses. Passando mais tempo em casa, os gastos triplicaram. Agora, são quase três botijões por mês. “Minha mãe e irmã costumam vir aqui em casa para me ajudar. A gente acaba fazendo mais comida do que antes e todos os dias.”

O que antes era uma conta de R$ 70, agora passa a ser cerca de R$ 200, nas finanças da família. A veterinária apoia o abaixo-assinado para que as distribuidoras prestem contas sobre o valor do gás. “Eu não fiquei sabendo do abaixo-assinado, senão teria aderido, com certeza. Espero que a fiscalização fique em cima porque é um absurdo ficarmos reféns desses preços abusivos”.

 

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