Periplaneta Americana

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Terminou de ler o capítulo do livro, coçou a cabeça, bocejou com gosto e ia se preparar para dormir quando o telefone tocou. Era de sua casa, lá no Rio.

— Oi amor, já está com saudades? A gente se falou não tem nem uma hora...

— Amor, tem uma barata enooorme no banheiro!

— No banheiro? Caramba, mas tem certeza? Você viu?

— Não vi não, foi a Mari que achou. Disse que ela é enorme, parece um besourão.

— Vai ver é um besouro mesmo. Basta apagar a luz que ele vai embora.

— Nãaaooo, ela jura que é uma barata voadora. E o pior é que está dentro do armário. O que eu faço agora?

— Bom, só me ocorre chamar um táxi, descer aí pro Rio, matar o monstro e voltar para Nova Friburgo. Puxa gente, vamos maneirar, a essa hora nem ônibus tem mais.

— Eu sei, mas como é que vamos dormir sabendo que tem uma coisa nojenta no banheiro?

— Olha só, sua filha é exagerada. Outro dia ela fez um escândalo para matar uma bruxa que tinha entrado no quarto. Fui ver e era apenas uma mariposinha ordinária que eu tirei de casa com a mão. Tenta ver se a tal barata Godzilla é isso tudo mesmo e mete uma chinelada nela. Amanhã a faxineira recolhe o “de cujus”.

— Não sei não... acho que vou aceitar sua oferta de vir aqui no Rio matar a barata!

— Pelamordedeus, você está falando sério? Isso vai custar uma fortuna! Pede para o porteiro ver o que está acontecendo.

— Ah não, o porteiro está dormindo e o vigia noturno não pode abandonar a portaria.

— E seu pai ?

— A essa hora ele vai levar o maior susto, coitado!

— Já pensou em chamar a Defesa Civil?

— Debocha vai, não é você que vai dormir sabendo que tem um baratão zanzando pelos corredores escuros!

— Gente, que drama. Solta a Filó em cima da barata. Afinal, os salsichas são cães caçadores e muito persistentes.

— De jeito algum. Imagina se vou deixar a cachorra morder uma barata! Que coisa horrível.

— Ô, amorzinho, está difícil. Faz o seguinte: tranca o banheiro e deixa um bilhete para coitada da faxineira fazer o serviço de carrasco.

— O banheiro já está trancado e as saídas vedadas. A Mari queria encher tudo com veneno em aerosol mas não deixei, afinal sou alérgica e ainda podia fazer mal para a Filó. Acho que não tem jeito, vou ter que passar uma noite horrorosa. Essas coisas só acontecem quando você não está aqui, incrível.

— Amor, relaxa. Faz isso mesmo e qualquer coisa você me telefona. Tem certeza que vai ficar bem?

— Claro que não, quem fica bem sabendo que tem um baratão em casa, ô manezão?

— Desculpe, desculpe, falei por gentileza. Não vamos brigar por causa de uma simples barata cascudona e com asas. Mais alguma coisa?

— Que nojo, para com isso. Eu vou dormir, já vi que você não está levando essa crise à sério. Amanhã telefono, tá bom?

— Tá bom. E eu só estou brincando, vê se não se aborrece, amor. Um beijão.

— Beijão.

Suspirou fundo e foi tomar um leite. O mais engraçado é que nunca lhe perguntaram se tinha medo de baratas, besouros, bruxas e outros insetos do gênero. Simplesmente tinha de resolver a situação, tivesse nojo ou não, estivesse em casa ou não.

Tudo bem, desta vez escapara! Ia dormir tranquilo.

Carlos Emerson Junior

carlosemersonjr@gmail.com

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