"Pelo telefone", o primeiro samba a ser gravado, faz 100 anos

​No início do século passado surgia a primeira leva de compositores do gênero musical mais popular do país
sábado, 26 de novembro de 2016
por Ana Borges

As polêmicas retornam sempre que se fala do primeiro samba gravado no Brasil.  Além da autoria, discute-se a origem do ritmo - se realmente é o primeiro samba e até mesmo se pode ser chamado de samba. Para especialistas e pesquisadores do gênero musical tipicamente brasileiro, “Pelo Telefone” tem uma “estrutura ingênua e fora de ordem, melodias e refrões diferentes, o que reforça a teoria de que realmente foi composta aos pedaços”.

Contudo, no que diz respeito ao fato de “Pelo Telefone” ter sido o primeiro samba gravado no Brasil, os registros da Biblioteca Nacional não deixam dúvidas. Quanto ao resto… Teria sido composta em 1916, no Rio de Janeiro, por Ernesto Joaquim Maria dos Santos, o Donga, e Mauro de Almeida, jornalista, durante uma roda de samba, na casa de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, grande fomentadora da cultura negra no Brasil.

É nestas rodas que surgem improvisações e criações colaborativas espontâneas, o que pode gerar confusão na hora de definir quem fez letra, melodia, quem, afinal, participou da composição. Daí o fato de sua autoria ter sido reivindicada por vários músicos que participaram do histórico encontro. Enfim, o que ficou para a posteridade, e que realmente importa, é que esta composição marcou a transição do maxixe para o samba e o reconhecimento como novo gênero musical.

O dia que mudou a história da música brasileira

Nesta segunda-feira, 28, comemora-se em todo o país o centenário do samba, gênero musical e dança típica brasileira. “Na década de 1910 algumas composições foram gravadas como sendo samba, mas com pouca repercussão. Pelo Telefone, uma criação coletiva de músicos que participavam das festas da casa da Tia Ciata, consta que foi registrada por Donga na Biblioteca Nacional, com a co-autoria atribuída ao cronista carnavalesco Mauro de Almeida”, de acordo com o publicitário Francisco Rohen, da diretoria da escola Imperatriz de Olaria, onde atua como primeiro tesoureiro.

Segundo Francisco, foi a primeira composição a alcançar sucesso com a marca de samba, o que contribuiu para a popularização do gênero e sua divulgação, através dos meios de comunicação da época. “A partir desse momento, o samba começou a se espalhar pelo país, inicialmente associado ao carnaval e posteriormente adquirindo um lugar próprio no mercado musical”, diz.

A partir de 1917, surgiram os grandes compositores que se consagraram na história do samba: Donga, Sinhô, Pixinguinha, João da Baiana, Ismael Silva, Cartola, Heitor dos Prazeres, Ari Barroso, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Wilson Batista, Geraldo Pereira, Zé Kéti, Ciro Monteiro, Nelson Cavaquinho. E os mais novos: Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Alcione, Zeca Pagodinho, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, e os mais novos ainda, como Diogo Nogueira, Dudu Nobre, entre muitos outros sambistas.

Francisco lembra que em Nova Friburgo, devido à forte influência do Rio de Janeiro, aconteciam concorridos bailes de carnaval nos hotéis, clubes e bailes de ruas com os blocos carnavalescos. Que deu origem, depois dos anos 1940, às escolas de samba e à organização dos desfiles, ponto alto do carnaval friburguense.

“Falando de samba, não podemos deixar de citar o cantor e compositor friburguense Valcir Ferreira, que há mais de 40 anos se dedica à música, cantando e compondo. Depois de fazer cursos nas nossas duas bandas -  Campesina e Euterpe, Friburguense ele gravou suas músicas em disco de vinil, depois em CDs, que posteriormente foram divulgados nos Estados Unidos. Recentemente, participou do Programa do Ratinho (SBT), sempre esbanjando carisma, com seu amplo sorriso, humor e alegria, divulgando nossos sambas e compositores, em todas as emissoras de rádio e TV, por onde passava”, elogiou Francisco.

Ao que Valcir, com a alegria que lhe é peculiar, convidou: “Vamos cantar, vamos sambar! Hoje e sempre nos emocionamos com a velha guarda, e a melhor maneira de homenageá-los nesta data é cantando e sambando, não deixando o samba morrer”, diz o sambista que gosta de lembrar que ‘o samba bateu à minha porta’. Ele abriu e pelo visto, nunca vai fechar.

COM FOTO SCANNER

Valcir Ferreira se dedica a composição de sambas há mais de quatro décadas  

 

 

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