Paulo Henrique Amorim: “Não tenho dúvida de que os ministros do Supremo estão grampeados”

Em Nova Friburgo, âncora da Rede Record defende o corte do sinal da Rede Globo, onde trabalhou durante muitos anos
sexta-feira, 18 de março de 2016
por Márcio Madeira
(Foto: Márcio Madeira)
(Foto: Márcio Madeira)

Um dos mais influentes jornalistas brasileiros ao longo das últimas cinco décadas, Paulo Henrique Amorim subiu a serra na última quinta-feira, 17, para divulgar em Nova Friburgo seu livro “O quarto poder: uma outra história”, publicado pela editora Hedra. A VOZ DA SERRA registrou com exclusividade suas polêmicas opiniões ao longo do percurso entre o hotel em que ficou hospedado e o Teatro Irmã Sania Cosmelli, do Colégio Nossa Senhora das Dores, onde palestrou diante de casa cheia. Durante o caminho, e também logo após sua chegada ao teatro, o jornalista - que repetidas vezes tem manifestado seu apoio ao governo federal - se deparou com protestos contrários à administração petista, e também se pronunciou a este respeito.

A VOZ DA SERRA: Como surgiu a vontade de escrever este livro?
Paulo Henrique Amorim:
Esse livro nasceu de um curso que eu dei sobre a história da consolidação da indústria da televisão comercial no Brasil. O livro ficou pronto — ele começou a ser escrito há quatro anos — e numa certa altura eu consegui reunir, depois de muitas mudanças e transferências, todas as caixas com todos os documentos, todas as anotações que eu ia fazendo ao longo de minha carreira de repórter. Porque eu sempre anotei as minhas entrevistas e os meus testemunhos em caderninhos. Contratei um jornalista profissional, e ao longo de um ano e três meses nós ordenamos esses caderninhos, botamos numa sequência razoavelmente lógica, e eu selecionei aqueles que deveriam ser aplicados ao livro, que já estava praticamente pronto. Ao fazer essa inserção, eu me dei conta de que eu precisava contextualizar os documentos, os caderninhos. E aí, na verdade, eu acabei fazendo um segundo livro dentro do primeiro livro.

Ao longo desses quase 50 anos de carreira o senhor atravessou diversos momentos da história política brasileira, e seu livro está sendo lançado num momento de grande ebulição...
Meu livro está sendo lançado num momento em que... Eu me lembro muito de uma decisão do ministro da Justiça na gestão do presidente Juscelino Kubitschek. O ministro da Justiça era o Armando Falcão. E na TV do Assis Chateaubriand, a Rede Tupi, o Carlos Lacerda estava ao vivo exigindo o impeachment do presidente eleito pelo voto do povo. O Armando Falcão, ministro da Justiça, atravessou a rua e tirou o sinal da TV do Chateaubriand do ar. Eu acho que o governo Dilma podia fazer isso, tirar o sinal da Globo do ar. Porque a Globo hoje não é uma emissora de televisão. A Globo hoje é o quartel-general de um golpe de estado. Ponto. Ela é subversiva. Ela conspira contra as instituições, e ela é incompatível com a democracia. É isso, tem que tirar o sinal do ar.

O senhor defende seriamente que o poder concedente...
Não, vamos entender uma coisa. O sinal que a Globo usa para emitir as suas opiniões pertence ao povo brasileiro. Porque é o espectro eletromagnético, que é propriedade do povo.

Mas como é possível estabelecer o limite entre o que seria coibir um abuso da liberdade de imprensa e onde começa a censura?
É só ver a Globo! É só assistir a Globo, ela ultrapassou todos os limites. A Globo, uma TV aberta, ultrapassou todos os limites. No canal por assinatura a Globo pode fazer o que bem entender. Pode botar até a Miriam Leitão de odalisca dançando fado. Não interessa, você comprou, pagou a Globo News porque você quer. Agora, no canal aberto não! O canal aberto é uma concessão de um serviço público. É que esse Brasil aqui é uma esculhambação desenfreada.

O senhor cita sempre a Globo, mas e com relação aos outros veículos da grande mídia?
Os outros veículos da grande mídia são subsidiários em importância. Ninguém, numa democracia, tem a importância que a Globo tem. Em nenhum lugar do mundo tem uma rede de televisão tão poderosa quanto a Globo. Só na Coréia do Norte.

Na Record o senhor está tendo este tipo de liberdade editorial?
A Record apoiou o lançamento do livro. Eu tive todo o apoio para escrever e lançar o livro.

Até mesmo em função deste tipo de posicionamento seu livro tem rendido críticas apaixonadas, tanto favoráveis quanto contrárias...
Eu só leio as a favor, não leio as contrárias. Eu sou totalmente parcial nesse aspecto (risos).

Mas como o senhor sente essa repercussão, que de certa forma reflete a polarização que vivemos atualmente no Brasil?
Olha, eu fico muito gratificado. O livro está vendendo muito bem, e esse resultado comprova outra coisa. Esse livro não mereceu uma única notícia, uma única crítica, uma única inserção na tabela de livros vendidos do PIG (“Partido da Imprensa Golpista”), nem na Folha, nem no Estado, na Veja, na Globo, em lugar nenhum. Isso significa, como eu estou vendendo muito bem - e eu estou ganhando dinheiro, agora mesmo eu vou para a Europa com a primeira prestação dos meus direitos autorais - que o PIG perdeu toda a eficácia como instrumento de publicidade. Porque eu sou capaz de vender livros, tirar férias na Europa como resultado da venda do meu livro, e eu não precisei do PIG.

(O carro em que está sendo feita a entrevista passa em frente à manifestação contrária ao governo Dilma, na Praça Dermeval Barbosa Moreira) 
Essas manifestações não têm um negro, não é? Só tem branco...

O Seu livro traça um perfil de Roberto Marinho, sendo descrito a partir de “um amigo”...
O livro tem vários episódios sobre o Roberto Marinho, ele é muito bem servido no meu livro (risos).

Mas o senhor trabalhou bastante tempo na Globo...
Muito! Eu dediquei à Globo todo o meu talento e a minha capacidade de trabalho. Roberto Marinho dizia que eu era um dínamo!

O senhor chegou a sofrer algum tipo de coação por parte da empresa?
Não, lá dentro não tinha conversa, não tinha coação alguma. Era fazer o que ele [Roberto Marinho] mandava e estamos conversados. Quando eu não concordava com o que ele mandava eu dava um jeito de não fazer. Agora, com Roberto Marinho não tinha conversa, era para fazer o que ele queria. Ele mandava. Os filhos dele não mandam, mas ele mandava. Os filhos dele não têm a capacidade intelectual de mandar, eles delegaram o poder de mando.

E a relação pessoal com ele, como é que era?
Era a relação de empregado com patrão... Não tinha relação nenhuma.

Para encerrar, houve este episódio recente de divulgação das gravações de conversas gravadas no alto escalão do governo...
Bom, nós estamos vivendo num regime nazista. Estamos vivendo na república da arapongagem. Os arapongas tomaram conta da República, e eu não tenho a menor dúvida de que os ministros do Supremo estão grampeados. Eu não tenho a menor dúvida disso.

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