Os reis sem camarote das noites friburguenses

Quatro ídolos da discotecagem falam da paixão pela música eletrônica e DJ gospel conta como é se dedicar a um único estilo
quarta-feira, 14 de março de 2018
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Os reis sem camarote das noites friburguenses

Essas feras salvam a sua night. Essas feras animam uma festa inteira. Ser DJ vai além de apertar um botão e escolher uma música. Ter o chamado feeling da plateia é essencial. Quantas vezes você não estava para baixo, de mau humor em uma boate, churrasco, casamento, e aí vem uma música que te toca de uma maneira que te faz mudar completamente o ânimo? É, a “culpa” é do DJ.

A batida que te empolga, que te faz lembrar de algum momento marcante, que te faz descer até o chão e levantar as mãos é conduzida por um profissional que saca tudo de som.

Você sabia que o dia do DJ, 9 de maio, é celebrado desde 2002, e foi criado por iniciativa de duas instituições de caridade, a  World DJ Fund e a Nordoff Robbins Music, que utilizam a música para ajudar a tratar as pessoas enfermas?

O objetivo da data, além de homenagear os profissionais da música eletrônica, é também arrecadar recursos para ajudar instituições que auxiliam adultos e crianças doentes, em nome de toda a indústria internacional de discotecas.

Nova Friburgo é um celeiro de talentos. E para homenagear toda uma classe que não deixa ninguém parado, colhemos depoimentos de cinco DJs. Quatro que mandam muito bem na balada serrana e um outro que se dedica há seis anos ao gospel e fala dos desafios e do prazer de tocar em eventos ecumênicos. Você pode até não saber quem são, mas com certeza já dançou ao som deles. E se não dançou, eu te pergunto: que night é essa que você frequenta?

Saulo Emerick

Tudo começou com uma brincadeira de amigos no ano de 1993. Eu, Fernandinho e Maurício Mantena começamos a gravar músicas remixadas em fitas cassetes e a trocar uns com os outros. Foi como se fosse paixão à primeira vista, que foi aumentando cada vez mais, e tudo o que era um sonho foi se tornando realidade. Meu sonho era me tornar um disc jockey (DJ). A coisa foi ficando séria, fui comprando som, iluminação, e aí conseguiram comprar um par de toca-discos e um mixer. Festas de 15 anos e casamentos foram aparecendo, as oportunidades na noite também. Fiz um curso que abriu as minhas possibilidades, e hoje eu vivo dessa paixão que é ser DJ. Friburgo sempre teve vida noturna, então trabalho não falta. É muito legal acompanhar a mudança de geração. Nesses 25 anos de carreira eu vi muita coisa. Os eventos estão maiores, bem produzidos e a adesão das pessoas é bem maior, também. Eu sou um pouco eclético quantos aos ritmos, costumo tocar de tudo, mas sempre observo o que mais agrada à galera. Eu toco para eles, o que eles pedirem, eu mando. Meu mentor, Luis Carlos de Oliveira, o Lori, sempre me disse: “Você tem que agradar a quem pagou o ingresso”. Eu me considero um “mutante” por trabalhar com diferentes ritmos e agradar a todos. Para você ser um bom DJ, é preciso que você tenha sido público, ter sido parte da plateia. Eu sou boêmio, saio desde os 12 anos, desde então adquiri um feeling do que as pessoas querem ouvir. Uma coisa fundamental paro DJ: ele tem que ser microfone, ou seja, ele tem que interagir com o público. Isso agita ainda mais a galera, traz o público pra você.

Luciano Petrillo

Trabalho como DJ desde 1997. Comecei na profissão fazendo aberturas de bailes para adquirir mais experiência, até poder assumir o comando de uma noite inteira. O maior incentivador para que eu seguisse essa profissão foi meu pai, também DJ. Eu o acompanhava nas festas e percebia a alegria das pessoas quando ele tocava. Foi assim que me apaixonei pela profissão. Quando comecei, era uma geração que curtia vários ritmos, não era presa somente a um estilo musical. Com o tempo isso foi mudando, hoje a maioria do público escolhe um determinado segmento musical e com isso vão surgindo vários estilos. Hoje as baladas estão mais ecléticas, temos vários eventos, e com isso o perfil da noite vai tendo sempre mudanças. Eu gosto mais de tocar as músicas antigas porque o clima nostálgico sempre remete a boas lembranças que as pessoas curtiram, dançaram e foram felizes com essas músicas. Já tive a oportunidade de tocar com vários DJs consagrados e que admiro, como Cuti, Roger Lyra, Tubarão, Marlboro, Dennis e, claro, meu pai, Lucio Petrillo. Uma nigth marcante  foi uma festa à fantasia no Nova Friburgo Country Clube, onde fiz um set de três horas seguidas e, ao término, o público não queria que eu parasse de tocar. Aquilo foi muito legal e marcou bastante. O bom de ser DJ é poder levar alegria às pessoas, mas muitos pensam que é uma profissão fácil, ainda existe um certo preconceito, requer muito investimento em equipamentos, noites de sono perdidas com pesquisas musicais para tentar sempre levar as melhores músicas para o público, proporcionando diversão, alegria e satisfação.

Gee Santos

Em meados de 2006, eu comecei um curso de férias em uma universidade particular aqui em Friburgo. Era um curso básico para DJs, foi daí que paixão pela  música se efetivou. Fui me apresentando em festas, formaturas, churrascos, confraternizações, casamentos, aniversários de amigos… Essas performances me deram confiança para atuar profissionalmente como DJ. Juntando isso, já são dez anos nessa área. Minha principal motivação é o amor à música. Sou apaixonado pelos sons, batidas, letras. Lembro que quando era pequeno um primo que servia a Marinha do Brasil e estava em minha casa levava umas fitas K7  com músicas da Dance Music, e essa batida contagiante já me impressionava. Sempre fui a festas, assistir a outros DJs, ficava prestando atenção mesmo de longe no que os caras faziam, um desejo que guardei e que que iria usar quando tivesse a oportunidade. A música muda constantemente, o que é moda hoje amanhã já não é mais. Nós, DJs, temos que nos reinventar sempre, ou então ficamos para trás. Eu já toquei em muitos eventos, casamentos, aniversários. Agora estou com um trabalho mais voltado para casas noturnas, pool parties, eventos de música eletrônica, mas destaco grandes eventos, como os carnavais  2009 e 2013 de Friburgo, a “Nunca mais eu vou dormir” 1 e 2, a Eletro Party, blocos carnavalescos, a Friburgo Fest e, este ano, o Galo Folia Sunset, que foi muito boa a recepção da galera. O que eu mais gosto de tocar é Deep House, House, Brazilian Bass, Low Bass, todos estilos vertentes da House Music. São estilos que estudo muito, faço cursos de produção de música eletrônica. Eu tenho um grande sonho que é ver as minhas músicas lançadas por grandes gravadoras e ver o público dançando e se divertindo ao som delas. Na minha memória tenho uma night marcante, quando toquei na festa “Nunca mais eu vou dormir”. Fui o DJ que antecipou o cara principal, o headliner. Depois de uma bela apresentação eu saí do palco ovacionado, a galera toda me parabenizando pelo set. Foi ali que eu tive a certeza de que era esse caminho, o da música eletrônica, que eu queria seguir. E gostaria de deixar uma mensagem para quem está começando: tenha amor à música e muita dedicação que o resto acontece naturalmente.

Bruna Petribú

Tudo aconteceu de uma maneira inesperada.  Desde pequena gostava de produzir festinhas em casa para os meus amigos, som, comida e muita conversa que só acabavam de madrugada. Quando tinha 14 anos comecei a ter aulas na academia com um professor que era DJ e despertou em mim uma curiosidade sobre essa profissão. Foi então que procurei um curso na minha cidade. Depois que encerrei o curso, aos 15 anos, ganhei minha primeira aparelhagem e fiz alguns pequenos eventos, mas foi aos 18 anos, recém-formada na escola e esperando o resultado da faculdade, que realmente me apaixonei e tive a certeza de que era a profissão que eu queria para a minha vida. No começo, tudo sempre é mais difícil. Fazia desde festas particulares, como casamentos, 15 anos, a boates, pubs e festivais. Até chegar ao House Music, gênero musical com que me identifiquei, toquei vários estilos musicais, como funk, pop, entre outros, o que me fez crescer e amadurecer muito pessoalmente e profissionalmente. Em 2018 completo cinco anos de carreira e não poderia estar mais feliz com toda a minha trajetória. Conheci tanta gente legal, diversas cidades e estados, tive a honra de dividir os palcos com artistas e DJs renomados como Banda Malta, Onze 20, João Lucas e Marcelo, Naiara Azevedo, Solange Almeida, Chemical Disco, Gra Ferreira, Woo2tech, e outros artistas nacionais. Quando me perguntam sobre uma night marcante, não posso falar de apenas uma, cada lugarzinho é especial de alguma maneira. Quando eu estou em cima do palco e vejo os sorrisos é indescritível, mas a melhor sensação mesmo é quando encerro minha apresentação, desço do palco e as pessoas vêm elogiar o trabalho, pedir uma foto. Não tem nada no mundo melhor que esse reconhecimento do público. Faço isso para eles e por eles. Posso dizer que nesses últimos anos vivo um sonho, e que sonho!

DJ Marcelo Costa

Há 12 anos eu sou DJ. Tocava de tudo, mas há seis anos eu mudei completamente o meu estilo. Hoje eu sou DJ gospel e só me dedico a esse estilo. A mudança repentina veio depois de um acontecimento marcante na minha vida. Eu estava em um retiro espiritual e senti uma presença forte de Jesus. Eu ouvi claramente Jesus falando comigo. Ele me pediu pra parar de tocar os outros estilos e pediu para me dedicar ao gospel. Sei que muita gente não vai acreditar, mas eu fiquei muito feliz com essa experiência. Depois disso comecei a me dedicar a esse novo estilo. É muito inusitado, claro. As pessoas estranham e pensam: como eu só posso tocar um estilo e ainda ter trabalho? Mas a verdade é que o mercado tem sido generoso e eventos não me faltam. Acredito que eu seja o único DJ gospel da região. Ouvi muitas críticas quanto à minha mudança, mas me empenhei 100% para fazer um bom trabalho. Muitos eventos me marcaram. Um deles foi no ano passado, quando toquei no Águias de Cristo, na Praça do Suspiro. Agradeço às pessoas que me apoiaram e que ficaram ao meu lado quando decidi mudar toda a minha vida. Hoje eu toco em casamentos, igrejas, retiros espirituais, aniversários. As pessoas confiam e gostam do meu trabalho.


Brazucas fazem sucesso no Brasil e no mundo

Os festivais de música eletrônica têm tido cada vez mais sucesso aqui no Brasil. Na terra do samba, do batuque do pandeiro, principalmente os jovens têm trocado o requebrado e o samba no pé pelas raves, jogando a mão para o alto em uma festa comandada não por bandas, mas por DJs. DJs esses que têm sido o real motivo da ida de milhares de pessoas aos shows.

Esses festivais têm consagrado grandes artistas da mixagem, como David Guetta, Avicii, Tiesto e Alok, entre outros. E muitos DJs brasileiros estão ganhando fama e alcançando os principais palcos do mundo.

Dois deles - um com destaque internacional e outro com grande destaque nacional - são considerados os melhores nomes da atualidade: os DJs FTampa e Chapeleiro.

FTampa e a Tomorrowland

Felipe Augusto Ramo, mais conhecido como FTampa, na adolescência tinha uma banda de rock, mas foi na faculdade, convencido por amigos, que mudou de gênero e passou a produzir e a tocar músicas eletrônicas. Sua faixa "Kick It Hard" era considerada por ele uma música muito comercial, que não seria um grande sucesso. Até que o DJ holandês Hardwell, em uma de suas apresentações, tocou a música do brasileiro, que virou sensação na Europa.

O destaque foi tão grande que, já com a carreira consolidada, FTampa recebeu convite para tocar no maior festival de música eletrônica do mundo: Tomorrowland. Realizado na Bélgica, o Tomorrowland também se destaca entre festivais de outros gêneros, como o Rock In Rio e o Lollapalooza, além de seus "irmãos", como o Ultra Music Festival.

O festival é famoso pelas suas performances, com fogos de artifício, fumaça artificial, pirotecnias, contos de fadas e simbolismos New Age. Ganhou, em 2012, o prêmio de melhor evento musical. Em 2017, o festival reforçou a sua presença no cenário da música, tornando-se o evento com maior presença nas redes sociais de todos os tempos, com mais de um um bilhão de visualizações em diversos veículos.

Segundo a produtora, a ideia sempre foi fazer algo semelhante ao mundo da Disney. Na edição de 2016, FTampa se tornou o primeiro brasileiro a pisar, tocar e empolgar o palco principal da Tomorrowland.

Chapeleiro

Chapeleiro é o nome artístico de Fabricio Beraldi Neves. O DJ, cujo nome faz referência ao personagem de Alice no País das Maravilhas,  traz em suas produções elementos da música indiana, BPM (batidas por minuto) alto e samples de programas de TV e videogame, somente para destacar alguns mais conhecidos. Ele passeia entre o trance, o prog e o minimal em um estilo batizado por ele mesmo de Brutal Bass.

O DJ, que começou a discotecar em 2000, se tornou produtor nove anos depois e segue criando sons transcendentais. Suas músicas têm em média 3,5 milhões de visualizações no YouTube e figura nas principais lista do Spotify.

 Após oito anos como DJ, Chapeleiro passou para as produções e moldou o seu estilo até chegar ao que hoje chama de brutal bass. Com uma mistura de trance, techno e progressivo, ele manifesta sua paixão por extraterrestres e chama a atenção ao fazer referências populares como o uso de samples do seriado Chaves, em “Disco Voador”, e de videogames, no caso de “Chuva”, um trecho do grito de guerra do personagem Gangplank, do League of Legends.

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