Ordenação ilegítima de bispos em mosteiro de Nova Friburgo ganha repercussão internacional

Jornal inglês ‘The Guardian’ publica reportagem sobre bispo tradicionalista que desafiou o Vaticano
quinta-feira, 02 de abril de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Papa Francisco (Divulgação)
Papa Francisco (Divulgação)
Nesta semana em que os católicos de todo o mundo se preparam para a Páscoa, o caso da ordenação ilegítima de dois bispos em um mosteiro de Nova Friburgo ganhou ainda mais repercussão. O jornal inglês "The Guardian” publicou na edição da última quarta-feira, 1º, ampla reportagem sobre o caso, cujo principal protagonista é o bispo tradicionalista britânico Richard Nelson Williamson, de 75 anos.

Ainda hoje, muitos são aqueles que, usando de sofismas e falsidade, continuam ‘justificando’ seu próprio orgulho de fundar uma Igreja de Cristo
Excomungado da Igreja Católica em 1988 pelo papa João Paulo II e readmitido em 24 de janeiro de 2009 pelo papa Bento XVI, Williamson ordenou bispo - à revelia do Vaticano - os religiosos Jean-Michel Fourre e André Zelaya de León. As solenidades de ordenação ocorreram recentemente no Mosteiro da Santa Cruz, localizado em Janela das Andorinhas, no distrito de Riograndina, com a presença de fiéis visitantes e moradores da localidade, totalizando cerca de 100 pessoas.

Os ordenamentos provocaram a reação imediata das autoridades eclesiásticas e foram comunicados pela Diocese de Nova Friburgo à Nunciatura Apostólica, o consulado do Vaticano em Brasília e responsável pela ordenação de religiosos. O bispo de Nova Friburgo, Dom Edney Gouvêa Mattoso divulgou nota oficial sobre o assunto na página da Diocese e considerou os ordenamentos como "desobediência ao Papa em matéria gravíssima”. 

Na nota, Dom Edney confirmou que o Vaticano foi comunicado do fato e conclamou os fiéis a "não apoiarem de modo algum essa ilegítima ordenação episcopal e as consequências que dela advirão”. E acrescentou: "Tal ato ilegítimo leva a uma rejeição prática do Primado do Romano Pontífice, constituindo mesmo um ato cismático, com pena de excomunhão automática prevista pelo Código de Direito Canônico”.

Em sua coluna publicada esta semana no jornal A VOZ DA SERRA, Dom Edney comentou de maneira indireta o caso. O texto, intitulado "Não defende a verdade aquele que se contrapõe a unidade” traça um paralelo entre as celebrações da Semana Santa e os ataques sofridos pela Igreja desde a sua fundação, como o sofrimento da heresia e do cisma que dispersam o rebanho. "Ainda hoje, muitos são aqueles que, usando de sofismas e falsidade, continuam ‘justificando’ seu próprio orgulho de fundar uma Igreja de Cristo”, diz um trecho no final do artigo.

O arcebispo do Rio, cardeal Dom Orani Tempesta, também divulgou nota onde torna pública "sua tristeza ao tomar conhecimento da celebração de ordenação episcopal no Mosteiro de Santa Cruz”. Dom Orani manifestou "apoio e solidariedade” ao bispo diocesano de Nova Friburgo.

Figura polêmica

Ordenado padre em 1976, o bispo tradicionalista britânico Richard Williamson pertence à corrente católica que foi liderada pelo arcebispo francês Marcel Lefebvre (1905-1991), resistente às reformas instituídas pelo Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965. Em 1970, Lefebvre fundou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, que segue a doutrina católica anterior ao Concílio. Em 30 de junho de 1988, sem o consentimento do papa João Paulo II, ele ordenou bispos Williamson e mais três padres. O ato foi considerado ilícito pelo Vaticano, que excomungou os cinco religiosos.

Apesar de rompida com o Vaticano, a Fraternidade Sacerdotal continuou atuando como entidade religiosa e atualmente está presente em 31 países. Em 2009, o então Papa Bento XVI anulou as excomunhões de 1988. Williamson resgatou a condição de bispo, mas sem o poder de realizar atividades inerentes ao bispado católico, como as ordenações.

Além de combater o Concílio, Williamson é figura polêmica e conhecido por não reconhecer como verdadeiro o número de judeus mortos na 2ª Guerra Mundial e declarar que os ataques de 11 de setembro de 2001 nos EUA foram obra do próprio governo norte-americano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: religião | Dom Edney Gouvêa Mattoso
Publicidade