Obras de contenção de encostas na Vilage continuam paralisadas

Moradores da localidade temem novos deslizamentos
segunda-feira, 20 de março de 2017
por Dayane Emrich
(Foto: Henrique Pinheiro)
(Foto: Henrique Pinheiro)

“Desde então eu nunca mais dormi em paz.” O desabafo é de Jorge Antônio Borges, de 66 anos, morador do bairro Vilage, onde dezenas de famílias convivem com o medo de novos deslizamentos. No local, as obras de três encostas, que desmoronaram na tragédia de janeiro de 2011, foram paralisadas e parecem não ter prazo para serem finalizadas. De acordo com os moradores, as obras, de responsabilidade do governo estadual, tiveram início em abril de 2016, mas foram interrompidas no fim de novembro. 

“A situação é complicada. Os operários trabalharam aqui cerca de sete meses e depois abandonaram a obra. Colocaram apenas os “grampos”, mas não puseram a manta ou cimento. Na época, perguntei ao engenheiro responsável por que eles estavam recolhendo todo o material e ele me disse que o pagamento do serviço não estava sendo realizado. Colocaram um plástico lá e agora toda vez que chove mais forte a água entra na minha casa”, disse. 

A poucos metros de sua residência, na Rua Lazaro Mateus Garcia, Jorge Antônio, que é agente de endemias, mostra as casas que foram atingidas por deslizamentos em 2011 e ainda aguardam pela demolição. “Estão todas abandonadas. Aquela lá [aponta ele] está com um monte de terra em cima, não sei como ela ainda não despencou. Essa aqui era uma creche. No telhado sempre acumula água, e eu é que às vezes faço a limpeza. Esses dias mesmo limpei o cano”, contou ele, explicando que não é difícil encontrar larvas de mosquito no local, um perigo em meio a tantas doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, por exemplo. Ainda segundo Jorge, em algumas das casas condenadas há, inclusive, famílias morando. 

“Desde o dia da tragédia eu nunca mais dormi em paz. Quando começa a chover a gente já fica preocupado e se prepara para sair de casa. Se terminassem essa obra, deixariam a gente um pouco mais tranquilo”, exclamou. Lolita Schuenck, de 69 anos, também mora na Rua Lazaro Mateus Garcia e falou da preocupação com a encosta ao lado da sua casa. “O governo parou de pagar os funcionários e, por isso, eles simplesmente foram embora, sem acabar a obra. Está chovendo há vários dias e se continuar assim é preocupante, pois a terra fica molhada e os riscos de deslizamentos são enormes”. 

Outra encosta no bairro, na Rua General Andrade Neves, também vem preocupando moradores. “Embora a época de chuvas já tenha passado, a gente continua apreensivo. Esse morro está todo rachado, sempre que chove corre muita água e a lama escorre para a rua. Dá para ver que o que eles fizeram vai soltar e a qualquer hora a encosta pode desabar”, disse a dona de casa Amélia Verly, de 64 anos.

Na manhã desta segunda-feira, 20, a equipe de reportagem de A VOZ DA SERRA esteve no bairro e conversou com o secretário municipal de Obras, o engenheiro civil Marcelo Veloso Faria, que estava no local. Apesar da obra não ser de responsabilidade do município, Marcelo explicou que “a prefeitura eventualmente realiza a limpeza da rua, por causa da lama que escoa. É possível ver que a situação do terreno é delicada. Faltava pouco para terminarem as obras, era só colocar a vegetação. Estamos correndo atrás dos órgãos estaduais para agilizar a retomada dos trabalhos e, em breve, acabar com esse problema”, pontuou. 

A reportagem entrou em contato também com a prefeitura, responsável pela demolição dos imóveis, para saber se há previsão de realização dos trabalhos, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.

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(Foto: Henrique Pinheiro)
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TAGS: pós-tragédia
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