Obras de contenção de encosta, enfim, começam na Vilage

Moradores relatam problemas em bairro tradicional da região central de Nova Friburgo
sexta-feira, 05 de junho de 2015
por Jornal A Voz da Serra
Recente intervenção na Almirante Barroso pretende evitar novos deslizamentos, como de 2011. Já outra contenção no início da RJ-150 foi paralisada. Casas atingidas ainda não foram demolidas, denunciam moradores (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)
Recente intervenção na Almirante Barroso pretende evitar novos deslizamentos, como de 2011. Já outra contenção no início da RJ-150 foi paralisada. Casas atingidas ainda não foram demolidas, denunciam moradores (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

Encostas que deslizaram na tragédia das chuvas em 2011, no entorno do bairro Vilage, na região central de Nova Friburgo, estão ocupadas por dois grandes canteiros de obras do governo estadual. Mas, enquanto no final da Rua Almirante Barroso, operários começaram, há pouco tempo, a realizar os serviços de contenção, a obra na entrada da Avenida Engenheiro Hans Gaiser, na RJ-150, está parada porque o Ministério Público do Trabalho (MPT) teria encontrado irregularidades no local. “A obra deve recomeçar em breve, porque fiscais do ministério vieram aqui e mandaram mudar várias coisas. Eles estão arrumando o alojamento”, disse um operário sob sigilo.

Além dos deslizamentos, as chuvas torrenciais que caíram há quase cinco anos na cidade deixaram outras marcas no bairro que até hoje estão lá: as casas abandonadas e desocupadas que ainda não foram demolidas pelo governo municipal. “O problema é que essas casas estão sendo ocupadas pela população de rua e por traficantes. Eles usam as casas para esconder e consumir drogas. Eu sempre vejo moradores de rua subindo para as casas à noite e descendo no início da manhã”, disse um morador que pediu para não se identificar.

A aposentada Lecyr Vellozo, de 64 anos, mora na Rua Coronel Sarmento e diz que o Vilage está abandonado pela prefeitura. “Eu moro aqui embaixo, mas, se você for lá em cima, verá os problemas. A capina da rua leva pelo menos seis meses para ser feita. Há pelo menos dois meses eu não recebo as correspondências em dia”, pontuou, enquanto ajudava a neta numa atividade escolar. Na Rua Carlos Éboli, por exemplo, calçadas estão ocupadas por mato e terra. Na Avenida Euterpe Friburguense, os pedestres precisam estar atentos para não tropeçar em buracos nas calçadas.

Depois da tragédia de 2011, a Faol mudou o itinerário dos ônibus municipais que fazem o percurso no bairro. “Antes os veículos subiam até o escadão e passavam por outros pontos no alto do bairro, mas, agora, só circulam aqui embaixo”, contou Lecyr, que vive no Vilage há mais de 40 anos. O filho dela ainda disse que a iluminação pública está precária em alguns postes do bairro. “Lá em cima há muitos pontos de escuridão à noite, e aqui na Praça Primeiro de Março pelo menos três postes estão sempre apagados. Isso estimula usuários de drogas a ficarem no local e pequenos furtos e arrombamentos de carros no bairro”, opinou o homem. “Inclusive, em dias de chuva forte, a praça vira um pântano, porque as manilhas que passam pela rua estão entupidas”, disse. Apenas um orelhão, de três disponíveis no entorno da praça, funciona.

No outro lado da Rua Coronel Sarmento, Sandra Ribeiro, vizinha de dona Lecyr, não tem o que reclamar do bairro. “Olha, eu moro há um ano aqui e acho um bairro muito tranquilo. É um bom lugar para morar porque é perto de tudo. Não tenho o que reclamar, não”, disse, enquanto recolhia as fezes do seu cachorro na rua. Ela comentou ainda que os serviços de água, luz e coleta seletiva são prestados com eficiência.

Durante o período em que a reportagem de A Voz da Serra esteve no bairro, nenhum agente comunitário da Defesa Civil foi visto na Unidade de Proteção Comunitária (UPC), instalada na praça, na entrada do Vilage. O contêiner estava fechado com cadeado e, segundo moradores, faz tempo que está trancado. No local, deveriam funcionar serviços de monitoramento e o recebimento de alertas de risco, os funcionários realizariam treinamentos com os moradores e, em caso de enchentes ou desmoronamentos, ajudarão a evacuar a área. A UPC deveria funcionar 24 horas, em todos os dias da semana. Se estivesse aberta, moradores como o filho de dona Lecyr poderia tirar uma dúvida comum de muitos moradores. “A gente não sabe onde fica nosso ponto de apoio em caso de chuvas fortes. É no Fórum ou no Colégio Municipal Odette Penna Muniz?”, perguntou para a mãe. “Não sei!”, respondeu dona Lecyr. Em Friburgo, existem 20 UPCs em bairros da cidade.

Em nota, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que a demolição das construções afetadas pela catástrofe ficou a cargo do governo estadual. “Agentes da Subsecretaria da Casa Civil elaboraram minucioso levantamento no local com o propósito de posteriormente remetê-lo à Emop a fim de que fossem realizadas as demolições das construções insuscetíveis de recuperação ou situadas em pontos de alto risco”, informa.

A Secretaria de Defesa Civil informou que o ponto de apoio do bairro fica no Fórum. “Desde 2011, a secretaria vem realizando, ao longo dos anos, simulados de desocupação de áreas de risco, no qual moradores podem tirar dúvidas, tais como: localização dos pontos de apoio e rotas de fuga. Infelizmente, o número de participantes nos simulados da maioria dos bairros não é o ideal, apesar de os mesmos serem exaustivamente divulgados através dos meios de Comunicação”, esclarece o texto, que ainda acrescentou que a “Unidade de Proteção Comunitária do bairro Village está funcionando normalmente. No local, os moradores também podem tirar dúvidas quanto à localização do Ponto de Apoio, entre outras”.

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ) informou que as obras no quilômetro zero, da RJ-150, só poderão ser retomadas após o cumprimento de todas as exigências feitas pelo MPT. “Quanto ao prazo, a Geoportante, empresa de engenharia responsável pelas intervenções, é que deve responder”, informa a nota.

Até o fechamento desta reportagem, o MPT, a Faol não havia respondido ao e-mail de A Voz da Serra.

  • As obras de contenção da encosta no final da Rua Almirante Barroso começou a pouco tempo (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    As obras de contenção da encosta no final da Rua Almirante Barroso começou a pouco tempo (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • No início da Avenida Engenheiro Hans Gaiser, as obras estariam paradas por determinação do MPT (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    No início da Avenida Engenheiro Hans Gaiser, as obras estariam paradas por determinação do MPT (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • Calçadas na Rua Carlos Éboli estão bloqueadas por mato e terra (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    Calçadas na Rua Carlos Éboli estão bloqueadas por mato e terra (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • Na Avenida Euterpe Friburguense, calçadas põe em riscos pedestres (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    Na Avenida Euterpe Friburguense, calçadas põe em riscos pedestres (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • De acordo com moradores, a Unidade de Proteção Comunitária (UPC) está sempre fechada (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    De acordo com moradores, a Unidade de Proteção Comunitária (UPC) está sempre fechada (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • Sandra Ribeiro mora há um ano no bairro: “É um lugar tranquilo” (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    Sandra Ribeiro mora há um ano no bairro: “É um lugar tranquilo” (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

  • Dos três orelhões próximos à Praça, apenas um funciona (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

    Dos três orelhões próximos à Praça, apenas um funciona (Lúcio Cesar Pereira/A Voz da Serra)

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