O VLT de Amsterdam

Por Carlos Emerson Junior
sexta-feira, 29 de julho de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Um assunto recorrente em Nova Friburgo ainda é a implantação do trem urbano, VLT ou bonde, como queiram. É caro, não é caro, é útil, é inútil — enfim, o projeto provocou discussões acirradas e acabou indo embora com as águas de janeiro.

Algumas cidades do mundo, principalmente na Europa, adotam o sistema com enorme praticidade e baixo custo mas, não custa nada lembrar, a cultura ferroviária no velho continente é muito arraigada e por lá obras públicas não costumam andar na velocidade do metrô do Rio, por exemplo, onde uma estação demora quase 10 anos para ser construída.

Mas isso é assunto para cronistas políticos e técnicos em transportes. A introdução é a deixa para contar como foi meu primeiro contato com um legítimo VLT europeu, na bela e civilizada Amsterdam, Holanda.

Barato, o Tram, como lá é chamado, circula por quase toda a cidade, tal qual um metrô ao ar livre. Nas paradas, todas cobertas e com bancos para você esperar sentado, um aviso luminoso informa a linha que vai chegar e o horário previsto, rigorosamente obedecido. As passagens são compradas em lojas e bancas de jornal; e no caso de bilhetes múltiplos você ganha um desconto.

Resolvemos conhecer o Museu Van Gogh, que acabou sendo um dos pontos altos da viagem. Com o maior acervo do mundo de quadros do genial e atormentado pintor, é uma instalação moderna e funcional. As telas são dividas em ordem cronológica, cobrindo cinco períodos, cada um representando uma diferente fase da sua vida e trabalho: Países Baixos, Paris, Arles, Saint-Remy e Auvers-sur-Oise. Recomendadíssimo!

Embarcamos no ponto inicial, na Centraal Station, onde vários holandeses gentilmente nos ensinaram onde comprar as passagens e o caminho até o Museu, que foi transcorrido sem problemas. Para voltar ao hotel, mais fácil ainda: o ponto fica bem em frente ao museu e aí basta sentar e aguardar.

Logo, logo o painel luminoso informou que o linha 5 chegava em uns cinco minutos, o que infalivelmente aconteceu. Bom, aí ele parou, nós nos encaminhamos para a porta de entrada e… nada. Ficamos esperando, esperando e o trem foi embora! Mas que droga! Por que não abriu as portas?

O próximo era o linha 2, que também servia. De novo o coletivo não abriu as portas. Ficamos os três, eu, minha mulher e a filha mais velha sem saber o que estava acontecendo!

Entrou um da linha 4. Do nada surgiu uma senhorinha parecida com personagens de filmes europeus. Foi até o trem, apertou um botão ao lado da porta que... milagrosamente abriu! Então era isso! Para entrar no VLT tem que apertar um botão ao lado da porta! Nem foi preciso gritar “Abre-te Sésamo” em holandês, como já pensávamos em fazer!

Vivendo e aprendendo e se não pagar um mico, a viagem não tem graça, não é mesmo? Depois dessa cruzamos Amsterdam de cima a baixo de VLT. A cidade é muito bonita e sinalizada. A língua holandesa é complicada, mas como todo mundo fala inglês, fica quase impossível se perder.

A experiência com esse tipo de transporte público é interessante: existe uma boa quantidade de linhas e, onde o VLT não passa, ônibus circulam trazendo os passageiros. O intervalo entre as composições é pequeno e os carros, mesmo estreitos e sujeitos a alguns solavancos, oferecem conforto, inclusive calefação. Como circulam em uma via exclusiva, as viagens são bem rápidas. De ruim mesmo só o barulho das rodas nos trilhos que, imagino, deve incomodar quem mora nos apartamentos de frente.

Aliás, curiosamente, assim que chegamos ao hotel, fomos alertados para tomar cuidado com VLT e bicicletas. É, meus amigos, Amsterdam tem uma das maiores redes de ciclovias do mundo e milhares de pessoas, literalmente, se deslocam de bicicletas. Os pedestres têm que obedecer aos sinais específicos ou serão, inevitavelmente, atropelados por centenas delas!

Pois é, estimados leitores, vocês gostariam de ter um VLT com ar-condicionado, calefação, barato, rápido, confortável, não poluente e sempre cumprindo o horário pelas ruas de Nova Friburgo? Será que isso deve ficar para um futuro mais propício ou o melhor a fazer é esquecer de vez essa ideia?

Vocês decidem.

carlosemersonjr@gmail.com

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