O ressurgimento do ciclismo em Nova Friburgo

Nesta primeira de uma série de quatro matérias, conheça a história deste esporte em Nova Friburgo — e a luta pelas ciclovias
quarta-feira, 27 de abril de 2016
por Vinicius Gastin
O último Montanha Cup, em São Pedro da Serra (Foto: Divulgação)
O último Montanha Cup, em São Pedro da Serra (Foto: Divulgação)

Charmosa, versátil, bem equipada, simples, com ou sem rodinha, de 18, 21 ou sem marcha. Um importante instrumento para a prática do esporte, e também objeto que se insere em um contexto histórico bastante pertinente. A ponto de se tornar a estrela de grandes eventos, que movimentam a parte esportiva, econômica e turística de muitos municípios. Sejam eles grandes ou pequenos. Nos dias atuais, a bicicleta é mais do que uma companheira para as horas de lazer, e chega a ser apontada como uma das soluções para problemas de trânsito e poluição, por exemplo.

Dentro desse contexto, iniciamos hoje, 28 — com publicações às quintas-feiras — uma série de quatro reportagens sobre o ciclismo em Nova Friburgo. Eventos como o Montanha Cup, por exemplo, que reúnem mais de 400 amantes da modalidade, dimensionam a importância da bicicleta em diversos aspectos. A partir do desmembramento histórico, a série vai chegar ao ressurgimento do ciclismo e os novos projetos que prometem movimentar o município e a região já nos próximos meses. Ajudaram com informações para a produção deste especial o organizador de eventos de ciclismo, Orlando Miele, e a historiadora Janaína Botelho.

A bicicleta em Nova Friburgo

A bicicleta foi inventada em 1839, mas ela chegou a Nova Friburgo apenas no final do século 19. Na tradição de ruas e praças, as bicicletas eram consideradas elementos de modernidade. Muitas delas já circulavam pela cidade, e exigia-se que os ciclistas, à noite, tivessem marcha moderada e a lanterna acesa, pois a população friburguense ainda não havia se acostumado com aquela novidade, assim como os velocípedes, geralmente utilizados pelos meninos. 

Com a chegada dos veranistas a Nova Friburgo, geralmente aos finais de ano, já se começava a projetar eventos na cidade. As corridas de bicicleta eram consideradas como um grande momento do verão friburguense. A então Praça 15 de Novembro (atual Getúlio Vargas) era transformada no velódromo friburguense. 

Eduardo Salusse, de tradicional família da cidade, criou em 9 de abril de 1899, o Bicyclette Club Friburguense, destinado a competições desse veículo. Além de ser considerado um divertimento, era ainda um exercício físico bastante procurado por quem desejava trabalhar o corpo e a mente.

As corridas de bicicleta eram realizadas aos domingos, sempre ao meio-dia. A presença de juízes de partida, de chegada e juízes de raia dava uma conotação de disputa acirrada entre os participantes. Muitos deles, inclusive, vinham de fora da cidade. Um cenário semelhante ao encontrado nos dias atuais. Essas corridas tinham normalmente seis páreos, com uma média de seis participantes em cada um. 

E motivação não faltava: havia prêmios como medalhas de ouro, prata, bronze e caixas de champanhe. Quando os ciclistas friburguenses participavam de torneios fora da cidade e retornavam como vitoriosos, eram recebidos na gare da estação com grande festa pela população, que os acompanhava até as suas residências com muitas saudações ao longo do trajeto.

Geralmente organizados por Eduardo Salusse, esses eventos restringiam-se à elite local, a exemplo do barão de Mesquita, que servira como juiz de partida. Próximo ao velódromo havia o botequim Velódromo Friburguense. Após as partidas os ciclistas se reuniam para degustar cervejas nacionais e estrangeiras, chopp gelado, vinho do Porto, cognac, vermout, champanhe Veuve Clicquot, sorvete, frutas, sanduíches e pasteis.

O resgate: “Route MTB Fribourg” e a volta da associação

Belas histórias como essa descrita anteriormente merecem ser preservadas e até mesmo ter algum tipo de continuidade. Baseado exatamente nessa linha de raciocínio foi criada a “Route MTB Fribourg”, prova de mountain bike que acontecerá em 25 de agosto deste ano, integrando o calendário oficial de eventos da Festa Suíça. O objetivo é relembrar e celebrar os pioneiros dessa modalidade em Nova Friburgo.

Outra ação que também deriva deste passado é a refundação do Bicyclete Club Friburguense, que tem Eduardo Salusse como presidente de honra. À frente dos dois projetos está o dentista Orlando Miéle, idealizador e coordenador do Montanha Cup, evento que será assunto para as próximas edições da série especial.

Bicicletada e a luta por ciclovias

Não são poucas as pessoas que sonham com uma ciclovia em Nova Friburgo. A vontade de pedalar, e o entendimento da importância dessa prática mobilizaram um grupo, que criou há alguns anos o grupo “Bicicletada”. A iniciativa tenta chamar a atenção das autoridades para a necessidade da adaptação de espaços específicos para ciclistas no município, principalmente nos trechos planos.
 Também já foi sugerida a construção de bicicletários (estacionamentos de bicicletas). Uma das ideias é adaptar uma ciclovia do Centro do distrito de Conselheiro Paulino ao Cônego, um trecho de pouco mais de 12 quilômetros, todo plano. 

Há também quem defenda a construção de ciclovia do bairro Theodoro de Oliveira ao Centro, que inclusive conta com longo trecho da antiga linha férrea. Na Suíça, em regiões como Genebra, por exemplo, o número de ciclistas aumenta, em média, 70% a cada cinco anos. Em Nova Friburgo, o projeto para a implantação da ciclovia foi desenvolvido e está pronto. 

Inicialmente, os trechos a serem executados seriam os da Avenida Alberto Braune e Avenida Comte Bittencourt, ambos terminando na Rua Francisco Miele. Mas o projeto contempla ciclovias também na Rua Teresópolis, Avenida Brasil, Olaria e Mury. 

Entretanto, desde setembro de 2014, a Prefeitura aguarda a SPA — Síntese do Projeto Aprovado — a ser expedido pela Caixa Econômica. De posse deste documento é feita a abertura ao processo licitatório. A expectativa de finalizar esse trâmite era de 90 dias, o que até o momento não aconteceu. O sonho das ciclovias, por enquanto, se resume às que são construídas na Avenida Governador Roberto Silveira.

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