O desenho de Nova Friburgo: uma entrevista com Carlos Leite

Um Plano Diretor inovador e realista
segunda-feira, 19 de outubro de 2015
por Ana Borges
Imagem retirada do projeto do Plano Diretor  - Densidade Populacional - (Divulgação)
Imagem retirada do projeto do Plano Diretor - Densidade Populacional - (Divulgação)

O urbanista e consultor Carlos Leite participou da Conferência de Inteligência Territorial de Nova Friburgo, abordando o tema Plano de Desenvolvimento Urbano Estratégico e integrou a mesa final do evento sobre Discussão e Resumo das Diretrizes dos Produtos da Revisão do Plano Diretor, na semana passada. Em entrevista exclusiva ao jornal A VOZ DA SERRA, Carlos Leite considerou o trabalho realizado “inovador”, e revelou que o novo plano diretor “dá forma ao desenho da cidade, considerando seu crescimento populacional futuro”. Segundo ele, pela primeira vez no Brasil — “e isso é muito raro em nosso país” — esse trabalho está transformando uma peça de lei em algo visível, mais palpável. Vale a pena conferir o que ele disse sobre o novo Plano Diretor de nosso município.

Light – O recém-concluído Plano Diretor de Nova Friburgo foi baseado na nova realidade do município pós-tragédia climática de 2011. Como esse estudo aprofundou as questões surgidas a partir desse evento? E quando ele poderá ser posto em prática?
Carlos Leite – Na minha opinião, o trabalho que está sendo feito aqui é inovador, interessantíssimo. Porque, pela primeira vez no Brasil, e isso é muito raro em nosso país, esse trabalho está transformando uma lei, uma peça de lei em algo visível, mais palpável. Estudamos a situação de todos os bairros e distritos, as transformações projetadas são claras, e está tudo relatado no caderno e no site recém-lançados. Assim, as pessoas podem ver, acompanhar e cobrar a sua continuidade. Todas as questões foram cuidadosamente analisadas, projetadas, a curto, médio e longo prazo. E algumas podem ser iniciadas tão logo seja revisado e aprovado pela Câmara Municipal.

A continuidade desse plano independe deste ou aquele governo. Quer dizer, havendo ou não mudança no executivo, já que se trata de um programa de Estado...
Exatamente. Os parâmetros do plano diretor estão postos de forma clara para a população, para a sociedade organizada, para cada comunidade. É o que chamamos de um plano morfológico, isto é, dá forma ao desenho da cidade considerando seu crescimento populacional. Este é o primeiro ponto inovador. Foram oito meses de muito trabalho e dedicação, fora os dois anos de revisão, muito bem conduzidos pelo secretário Ivison Macedo.   

Onde vive a maioria da população de Nova Friburgo?
O plano tem uma diretriz muito clara e aponta como sendo o grande eixo da cidade, a área que vai do Cônego até Conselheiro Paulino. Lá vive 90% da população, e é onde há mais estrutura, onde o terreno é plano e onde há mais ofertas de serviços. Todo mapeamento que fizemos indica que há ali grandes possibilidades de receber, com calma e planejadamente (contando com 0,78% de crescimento ao ano, nos próximos 35 anos), a população que deve chegar a Friburgo. Isso não é “achismo”, é pesquisa honesta e responsável. Além de ter que absorver a população que ainda vive em área de risco, que é muita gente, algo em torno de 40 mil pessoas.  

Considerando sua topografia, esta cidade comporta uma população de quase 200 mil habitantes sem ter que construir no alto das montanhas?
Sim e comporta até mais, sem precisar subir os morros. E isso está comprovado nos ensaios e estudos do Plano Diretor de Nova Friburgo. Volto a dizer: projetando um crescimento de menos de 1% ao ano e ao longo de mais de 30 anos. Desta forma poderemos garantir um crescimento tranquilo, com infraestrutura e tudo o mais necessário para o desenvolvimento sustentável dos bairros e suas comunidades. Estamos seguros quanto a isso.

Como é esse processo?
O que foi planejado precisa ser adotado, seguido e respeitado. E principalmente, precisa ter continuidade, caminhar para alcançar seus objetivos.

E o que pode e deve ser colocado em prática, desde já, além da adoção do plano?
A partir deste momento, o plano está disponível na internet, para quem quiser conhecê-lo. Há todo um trâmite a ser seguido na Câmara onde passará por revisões, de acordo com a lei que manda que sejam realizadas algumas audiências. Uma vez aprovado, o que espero não demore muito, o plano terá que ser operacionalizado, com essa gestão que continua vigente até o final deste mandato, no ano que vem. Até lá teremos a oportunidade de colocar em prática muitas coisas. Em 2017, com este ou outro chefe do executivo, o plano continua vigente para os próximos 10 anos, com cenário de crescimento até 2050.

Qual a primeira ação a ser implementada?
Deve ser a de um sistema de transporte público mais qualificado, como o BRS, que deve passar no eixo (Cônego/C.Paulino). O plano tem um carro-chefe que é qualificar de maneira planejada o desenvolvimento urbano da cidade junto ao sistema de transporte, e para isso, a vinda do BRS é fundamental. Isso está bem definido no plano, nos mapas e modelagens que fizemos. O que de pronto já sabemos, é que não tem como qualquer cidade, no mundo, em pleno século 21, ser dependente, totalmente, do carro. É um imenso desafio para todas as cidades, de qualquer continente. Para vencermos esse desafio, é preciso um sistema de transporte eficiente, que realmente funcione. Futuramente, pode ser também através de BRTs, trens, ou outras formas de locomoção. Mas, antes de tudo, tem que ter boas ciclovias, boas calçadas, enfim, ser eficaz desde as primeiras medidas.

O que o senhor acha que deixaria qualquer cidadão mais feliz em seu dia a dia?
Morar perto de tudo. A meta é aproximar ao máximo as nossas atividades diárias, das nossas residências. Aqui onde estamos, no Centro, por exemplo, tem isso, e o ideal é estender esse modelo às outras localidades. Aqui temos moradia, comércio, serviços, escolas, postos de saúde. Tem tudo. Portanto, grande parte do que precisamos fazer no nosso dia a dia, podemos fazer sem maiores deslocamentos. Esse é o ideal, fazer tudo a pé.

Essa meta seria o carro-chefe de um bom plano de urbanismo?
Quando se fala dessa questão, essa é a meta. Uma cidade voltada para as pessoas é muito simples. O centro de Friburgo é bacana exatamente porque é assim. Tem tudo perto, ninguém precisa de ônibus ou de carro. No máximo de uma bicicleta. Agora, o que precisa é que esse formato aconteça por todo o município. Este é um desafio do urbanismo, com políticas públicas, entre outras ações.

Qual o custo para se ter um transporte público eficiente e honesto?
Muitos dos desafios provocados pela quase imobilidade urbana, hoje, não significa, necessariamente, ter que investir milhões de reais em transporte público. Ao levar infraestrutura para dentro ou mesmo no entorno de cada bairro, o deslocamento vai encolher, consideravelmente. Então, na mesma proporção, diminui o investimento. Tem que ter minimercado, escola, creche, posto de saúde, farmácia, lojinhas, em Mury, Amparo, São Geraldo, Campo do Coelho, e nos demais. Do contrário, para cada uma dessas necessidades, um imenso número de pessoas terá que se deslocar diariamente.

O que diz a legislação brasileira sobre planos diretores?
É bom lembrar que a legislação brasileira impõe revisão dos planos a cada 10 anos. E aqui, projetamos um cenário que vai além desse prazo, isto é, chegamos a Nova Friburgo 2050. Isso é outra novidade importante que esse trabalho apresenta, aliás, uma tendência no Brasil. Já foram lançados Florianópolis 2050 (SC) e Maringá 2030 (PR). São Paulo também está em andamento. Portanto, vislumbramos uma Nova Friburgo num cenário de crescimento e desenvolvimento, com critério e parâmetros.

  • O urbanista e consultor Carlos Leite participou da Conferência de Inteligência Territorial de Nova Friburgo, abordando o tema Plano de Desenvolvimento Urbano Estratégico e integrou a mesa final do evento sobre Discussão e Resumo das Diretrizes dos Produtos da Revisão do Plano Diretor, na semana passada.

    O urbanista e consultor Carlos Leite participou da Conferência de Inteligência Territorial de Nova Friburgo, abordando o tema Plano de Desenvolvimento Urbano Estratégico e integrou a mesa final do evento sobre Discussão e Resumo das Diretrizes dos Produtos da Revisão do Plano Diretor, na semana passada.

  • O urbanista e consultor Carlos Leite participou da Conferência de Inteligência Territorial de Nova Friburgo, abordando o tema Plano de Desenvolvimento Urbano Estratégico e integrou a mesa final do evento sobre Discussão e Resumo das Diretrizes dos Produtos da Revisão do Plano Diretor, na semana passada.

    O urbanista e consultor Carlos Leite participou da Conferência de Inteligência Territorial de Nova Friburgo, abordando o tema Plano de Desenvolvimento Urbano Estratégico e integrou a mesa final do evento sobre Discussão e Resumo das Diretrizes dos Produtos da Revisão do Plano Diretor, na semana passada.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
TAGS: urbanismo | cidade | sustentabilidade | Transporte | Plano Diretor | entrevista
Publicidade