O desafio de viver o novo

Professora Geni Nader fala sobre tecnologia e o mundo pós-moderno
sexta-feira, 02 de outubro de 2015
por Ana Borges
O desafio de viver o novo
Para a professora Geni Amélia Nader Vasconcelos, coordenadora pedagógica do Colégio Nossa Senhora das Dores e membro da coordenação do Grupo de Estudos Memória, Identidade e Espaço, “viver o novo é um grande desafio. Sobretudo quando esse novo tem a capacidade de nos fascinar intensamente como acontece com as novas tecnologias”. Estudos publicados em sites especializados no assunto apontam que há 280 milhões de “viciados” em aplicativos para celular no mundo. Nesta entrevista, Geni Nader aborda o assunto, que, embora ainda incipiente, vem ganhando espaço e sendo debatido em todos os meios e segmentos da sociedade. Confira.

Se as gerações mais novas possuem uma enorme facilidade de lidar com a tecnologia isso não significa que os adultos, mesmo não estando tão familiarizadas com tais tecnologias, possam deixar de participar dessa discussão”
Light – Como você vislumbra esse universo de tecnologias invadindo as nossas vidas?
Geni Nader - Viver o novo é um grande desafio. Sobretudo quando esse novo tem a capacidade de nos fascinar intensamente como acontece com as novas tecnologias que, a todo instante nos apresentam desdobramentos sedutores, atraentes, capazes de virar de ponta-cabeça nossos modos de perceber e praticar a existência.

Quer dizer, todas essas ferramentas, se usadas com discernimento, conscientemente, só trazem benefícios...
São inúmeras as possibilidades enriquecedoras dessas tecnologias que nós experimentamos, nos mais diversos campos da atividade humana. Não precisamos enumerá-las. Além de tais possibilidades, sem dúvida experimentamos outras que exigem cuidados, pois comprometem relações, ignoram limites e expõem pessoas a riscos diversos e mesmo a transtornos como a nomofobia, derivada do uso excessivo e da dependência do celular.

Trata-se de uma questão complexa e que ainda vai gerar muitos debates?
Certamente. Em tal cenário, mais uma vez, necessitamos fugir da polarização, apresentada por Umberto Eco, entre apocalípticos e integrados. Abordagens reducionistas não dão conta da complexidade da questão. É o uso que fazemos das novas tecnologias — e de tantas outras coisas que constituem o nosso mundo — que precisa ser colocado em questão. Devemos nos perguntar: ‘A quem e a quê servem? Como podemos utilizar seu potencial para beneficiar a humanidade?’

Neste momento, entre especialistas como educadores, pedagogos, sociólogos, qual você destacaria?
Zygmunt Bauman, um dos expoentes da sociologia contemporânea e autor de inúmeras obras publicadas em nosso país, tem posto em circulação ideias alimentadoras de debates fecundos sobre a tecnologia. Entre elas, a que diz respeito à “conexão” como forma de relacionamento, marcada pela possibilidade de deletar grupos e pessoas com um clique, sem grandes perdas ou custos. E outra, referente às implicações dessa prática para o empobrecimento das habilidades sociais necessárias ao contato off-line, no qual diferenças e contradições não podem ser eliminadas por um toque no mouse. A abordagem desse estudioso sobre nossa sociedade, apresentada como “sociedade confessional” que recorrendo a “confessionários eletrônicos portáteis” elimina cada vez mais a fronteira entre o público e o privado, alia-se a outros questionamentos, feitos por ele e analistas diversos, que nos convidam a debruçarmos sobre um universo que não se deixa aprisionar por avaliações simplistas.

Portanto, a era da tecnologia de “conexão como forma de relacionamento”, entre outras ferramentas, é irreversível. Crianças, adolescentes, jovens de várias idades já estão nela, é o seu habitat. Quanto as gerações anteriores que ainda estão por aí, vale a pena se integrar, aprender, enfrentar o desafio de viver esse novo tempo?
A educação, nos diversos espaços em que a vida acontece, não pode ignorar essas provocações. Se as gerações mais novas possuem uma enorme facilidade de lidar com a tecnologia (e quantas histórias narramos a respeito!), isso não significa que adultos de todas as idades, até os mais idosos, mesmo não estando tão familiarizadas com tais tecnologias, possam deixar de participar dessa discussão. Não tenho dúvida, as novas tecnologias estão aí e vieram para ficar. Precisamos assumir o desafio urgente e inadiável de debatê-las e de recriar, sempre que necessário, o seu uso.

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