Nova Friburgo registra 17 casos de estupro nos primeiros quatro meses do ano

Crime aumentou 20% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo ISP
segunda-feira, 30 de maio de 2016
por Alerrandre Barros
Nova Friburgo registra 17 casos de estupro nos primeiros quatro meses do ano

“Não dói o útero e sim a alma”, desabafou em uma rede social a adolescente vítima de um estupro coletivo, no último dia 21, em um bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Enquanto o assunto provoca debates no país e repercute no exterior, dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que esse tipo de crime tem preocupado a população também no interior do estado: em Nova Friburgo os casos de estupro subiram 21,4% em relação aos primeiros quatro meses de 2015. De janeiro a abril deste ano, foram registrados 17 casos na 151ª DP. Três a mais que no mesmo período do ano anterior. Só em abril deste ano, seis mulheres procuraram a delegacia da cidade para denunciar seus abusadores. Em 2015, houve 52 casos no total.

A adolescente de 16 anos vítima da barbaridade recente no Rio de Janeiro contou em depoimento à polícia que foi até a casa de um rapaz com quem se relacionava há três anos. Ela afirma que estava a sós na casa dele. A próxima lembrança que ela tem é apenas de domingo, quando acordou em outra casa, na mesma comunidade, com 33 homens armados com fuzis e pistolas. A investigação teve início depois que um vídeo da jovem, nua e desacordada, foi postado em redes sociais na semana passada. Nesta segunda-feira, 30, a titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), Cristiana Bento, afirmou que está convicta que houve estupro. A polícia, entretanto, ainda não tem elementos para confirmar a versão de que tantos homens participaram do crime. Uma operação foi deflagrada para cumprir seis mandados de prisão contra suspeitos de estuprar a jovem.

Os dados são ainda mais alarmantes no estado do Rio de Janeiro: ocorreu uma média de 13 casos de estupro por dia entre 1º de janeiro e 30 de abril deste ano. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão ligado à Secretaria Estadual de Segurança do Rio, foram registrados 1.543 casos de estupro no estado nos primeiros quatro meses de 2016. Apenas em abril deste ano, foram registrados 428 casos no estado — o que também inclui casos de atentado violento ao pudor. No mesmo mês de 2015, o número foi ligeiramente menor — 420 casos. O total de registros nos quatro primeiros meses de 2015, porém, foi maior que o do mesmo período deste ano — 1.690 contra 1.543. A cidade do interior fluminense em que houve mais registros entre janeiro e abril foi Cabo Frio, com 98 casos no total.

Apesar do aumento no número de registros no estado e em Nova Friburgo, a delegada da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), Waleska dos Santos Garcez, acredita que muitos casos não são denunciados por medo ou indiferença da vítima. “Eu percebi que aqui em Nova Friburgo as pessoas são mais passivas em relação a violência urbana. No Rio de Janeiro isso não acontece. Como delegada e mulher, aconselho que as vítimas registrem para que a polícia saiba o que está acontecendo. Com informações nós podemos cruzar dados, até porque o sujeito pode atuar em vários pontos da cidade sem que nós saibamos. Mesmo que o caso não parece grave, é crime. A população precisa acabar com a mentalidade de que certos abusos são comuns. Comum é termos nossa liberdade respeitada em qualquer lugar”, disse a delegada.

Mulheres vítimas de violência devem procurar a delegacia para denunciar o caso, mas também podem buscar apoio em alguns coletivos de mulheres na cidade e ainda no Centro de Referência Especializado da Mulher (Crem). “O Crem existe para ouvir, orientar e ajudar a colher provas que possam identificar o agressor e o crime cometido. Nosso papel também é trabalhar o emocional da vítima para que ela tenha discernimento na hora de agir, principalmente, no que diz respeito a não esperar que o ato se repita para pedir ajuda. Aconteceu a primeira vez, denuncie. Além de dar visibilidade ao problema, a denúncia auxilia a reduzir a impunidade”, disse a coordenadora do Crem, a advogada Rosângela Cassano. O Centro está localizado na Avenida Alberto Braune, 223, no Centro. O telefone é (22) 2525-9226.

Em novembro do ano passado entrou em vigor a lei municipal 4.391/2015, que autoriza as mulheres a desembarcarem fora dos pontos de ônibus após as 22h em Nova Friburgo. A nova regra proposta pelo vereador Christiano Huguenin foi motivada por universitárias que procuraram o parlamentar para relatar que foram intimidadas e até perseguidas por homens após desembarcar dos coletivos nos bairros onde moram.

Nesta quarta-feira, 1º de junho, um grupo pretende realizar um ato contra o machismo e a cultura do estupro em Nova Friburgo. Mais de 300 mulheres e homens prometem caminhar da delegacia até a Praça Getúlio Vargas para atrair a atenção da população para a violência contra as mulheres. A iniciativa se soma a outras que estão sendo realizadas pelo país.

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TAGS: estupro | abuso sexual | violência contra a mulher | violência doméstica
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