​Nauro Grehs: “O turismo foi a indústria mais afetada pelas chuvas de 2011”

Secretário fez um balanço dos desafios e das atividades que marcaram sua gestão até o momento
quarta-feira, 15 de junho de 2016
por Márcio Madeira
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)
(Foto: Lúcio Cesar Pereira)

A VOZ DA SERRA: O senhor assumiu a pasta nos últimos dias de 2013. Qual o balanço das atividades realizadas ao longo de sua gestão?
Nauro Grehs: Uma das coisas que a secretaria trabalhou e que rendeu um bom resultado em um prazo mais curto do que o esperado, foi o incremento das cervejarias artesanais. Era uma ideia antiga, e começamos a gestão sem nenhuma cervejaria legalizada e hoje temos sete, com a previsão de chegarmos a 21 até o fim do ano. Tudo isso com o viés diferente das outras leis de incentivo. Porque esta é uma lei que incentiva a produção de cerveja, em meio ao foco turístico. Esse é o diferencial que atraiu a atenção dos pequenos produtores. Considero esta uma grande obra, em termos do que ela oferece à sociedade.

Como está sendo a resposta a essa lei de incentivo? Já é possível fazer uma avaliação geral?
A rota cervejeira já conta com uma mídia apropriada — que acabou sendo espontânea. Inclusive Santa Maria Madalena está dando andamento a iniciativa semelhante, lançando bases para um intercâmbio permitindo que nossas cervejas estejam lá e as deles aqui, regionalizando a vocação. Essa é uma tendência importante, até porque sempre tivemos o cuidado de trabalhar Nova Friburgo como polo regional. Podemos ser a entrada de duas regiões: da Serra Verde Imperial e dos Caminhos da Serra, no noroeste fluminense, alcançando uma população de cerca de um milhão de pessoas. O caráter regional é importante e é comprovado pelo Ministério do Turismo: por mais diferente que seja o local ou o modal de acesso, o turismo regional sempre responde por 85% do turismo local.

O senhor já tinha sido secretário municipal anteriormente, e entre uma gestão e outra teve uma experiência estadual [Nauro foi vice-presidente da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (TurisRio)]. Essa experiência significou um diferencial em relação à sua gestão anterior?
A minha primeira gestão foi de apenas nove meses. O caso das cervejas é um bom exemplo, porque o comitê criado para concretizar esse projeto envolveu quatro secretarias. Muitas vezes trabalhamos mais como interlocutores do que no projeto em si. É o caso da reforma dos banheiros do Parque Municipal Juarez Frotté, através de parcerias com outras secretarias, porque o turismo não tem seus recursos. Trabalhamos com recursos de outras pastas. Não apenas por atuar no estado, mas por conhecer e entender os projetos do estado — como o Pedit (Plano de Desenvolvimento Integral de Turismo) ou o Prodetur —, esse conhecimento técnico que adquiri ajudou muito. Até porque, para participar de linhas de crédito, é preciso ter um plano municipal ou estadual. Só para ter uma ideia, as obras em São Pedro da Serra e Lumiar são dois projetos grandes do Prodetur, baseados no Pedit, e pude entendê-los melhor e compreender como eles permeiam toda a secretaria estadual. Também ajudou a relação que tive com o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Tanto que essas são obras que já vinham sendo trabalhadas há vários anos, e acabaram sendo duas entre as primeiras do Prodetur que saíram do papel. O conhecimento sobre o município e o estado ajudou para que afinássemos isso. Porque toda obra, seja federal ou estadual, precisa de um empurrão do município, da interlocução entre a obra e a população, e isso não é fácil. São Pedro e Lumiar são exemplos disso, mas acho que o resultado foi o melhor possível, a tal ponto que hoje temos que repensar alguns aspectos de Lumiar por causa da concentração de turistas. Nós estamos reestruturando a ligação com o artesanato, com vistas a criar um espaço específico em Lumiar que possa criar um fluxo de turismo que possa ser distribuído pela região.

Os turistas que frequentam Lumiar vêm de onde
A população do Grande Rio é a principal, mas a Região dos Lagos também é muito forte.

São Pedro da Serra enfrenta essa mesma situação?
Não, São Pedro está um pouco aquém, mas a obra que está sendo feita, quando concluída deverá ser um novo atrativo. A Rua Rodrigues Alves será revitalizada. Acredito que o próprio transbordamento de Lumiar vai reforçar a visitação a São Pedro, porque são destinos que se complementam para quem busca o bucólico. E é importante observar o trabalho realizado em duas frentes: a obra física e uma ação junto aos restaurantes para a consolidação do polo gastronômico de São Pedro e Lumiar.

Em meio a esse cenário de crise que mescla pontos positivos e negativos, quais benefícios o turismo de Nova Friburgo tirou da Copa do Mundo? Como a cidade está se preparando para capitalizar com as olimpíadas, e como fazer para contornar os efeitos da crise?
Quando assumi já não havia mais o que trabalhar em relação à Copa. Quando entramos nas olimpíadas surgiu a possibilidade de integrarmos o roteiro do revezamento da Tocha Olímpica. E temos que ter a consciência de que qualquer coisa que se gaste num mega evento, o retorno não vem durante o evento. Mas dá visibilidade. A vinda da tocha foi um tópico muito importante para a secretaria. Vale lembrar que uma das mudanças que fizemos foi ampliar a pasta para Turismo e Marketing. Porque a Secretaria de Comunicação se preocupa muito com o endomarketing, com o público interno. Mas a Secretaria de Turismo precisa se preocupar com o exomarketing. Precisa ir aos polos emissores, conversar com o trade turístico, com quem realmente é formador de opinião e vende turismo. É importante observar que, de todas as indústrias de Nova Friburgo e da Região Serrana, aquela que foi mais afetada pela tragédia — tanto climática quanto política — foi o turismo. E nós não vimos isso. Esse foi o nosso grande desafio.

Recuperar a imagem da cidade foi mais difícil do que recuperar a estrutura física?
Muito mais difícil. E ninguém viu isso. Em 2011 eu estava numa das regiões afetadas, e naquela altura tive o primeiro grande erro de marketing. Porque, conforme se faz em qualquer lugar desenvolvido turisticamente, tínhamos que estar trabalhando já no dia seguinte. Sem tentar desmentir nada, mas mostrando tudo o que será feito para que a situação não venha a se repetir. Em Nova Iorque, no dia seguinte aos ataques do 11 de setembro, diversos hotéis fecharam pacotes com diárias a um dólar, para não deixar o medo tomar conta. E nós não fizemos isso, nós deixamos as fotos percorrerem o mundo, ficamos lamentando muito tempo. E depois veio a tragédia política. Veio o não fazer e nunca trabalhamos o marketing para reverter isso. O que mais trabalhamos hoje é tentar desfazer isso, indo a todos os eventos de trade. Esses são investimentos que a cidade faz. Nós vamos às quatro grandes feiras e os gastos são mais do que justificados, porque lá eu falo com todo o trade turístico, falo com todos os compradores de turismo. Colocamos a nossa marca ali. Essas ações foram fundamentais para que hoje tenhamos um levantamento das Atividades Características do Turismo (ACTs) apontando que, entre 2014 e 2015, triplicamos o ISS dessas atividades. Esse é um dado importante, porque não é muito fácil levantar quanto o turismo traz em termos econômicos. Se a pessoa chega aqui de carro ela gasta gasolina, compra chocolate, flores, roupas, usa todos os serviços da cidade. Para efeito de comparação, o ISS das outras atividades aumentou 10%. O trabalho é esse, é acabar com aquela mancha.

A medição da taxa de ocupação em Nova Friburgo é confiável?
É confiável, mas não precisa. O que temos são poucos dados sobre a diária média.

Essa imprecisão tem relação com a room tax, que não costuma ser muito praticada por aqui?
Sim, esse é um problema no Rio e no Brasil, mas é também muito forte em Friburgo. Na verdade a room tax nunca foi aceita aqui. Até por características de nossa rede hoteleira, composta em grande parte por pequenos hotéis familiares, mas também por aquela antiga crença de que quem deve fazer a divulgação do turismo é o poder público. Porque a room tax, na verdade, é uma verba para divulgar o turismo. O grande desafio para se estruturar o turismo é que temos a Secretaria de Turismo e o Convention, que é o órgão que fala pelo empresariado. E hoje, tendo a experiência de atuar nas duas frentes, vejo que o agente municipal tem suas responsabilidades sociais, que têm que ser vistas. Ele não é só comércio, não é só mercado. Esse é um equilíbrio importante, e no dia que o empresário entender isso, vai começar a contribuir. Mas aos poucos esse relacionamento está avançando. Há poucos dias fechamos acerto com o Convention e a Acianf, e eles agora irão com a gente para as feiras. Temos espaço e precisamos trabalhar juntos. Não pode ser de outro jeito. Não cabe qualquer vaidade, porque lá fora quem vai aparecer bem é a cidade.

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TAGS: Turismo | economia | Crise
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